sábado, 27 de agosto de 2011

Vou de Van



(tributo a um amigo, 
usuário do serviço Atende da Prefeitura
 por necessitar de hemodiálise e ser paraplégico)


Pela janela da Van que me leva, com o cinto de segurança bem preso a mim e à minha cadeira-de-rodas – esta mesma cadeira que me ensinou a ser livre, a ser seguro de mim - no trajeto da minha casa até a clínica da diálise, observo a multidão... a multidão caminhante na rua e me surpreendo com o desejo de estar em meio a eles, perambulando com a minha cadeira pelas calçadas, para descobrir quem, naquela multidão de indivíduos absortos em outras realidades... realidades imaginárias, estaria de prontidão para transmitir um olhar de acolhimento mínimo e de contato real.


Tolice minha...


Pessoas indo e vindo, vem e vão, passam e não ficam, vão em vão. Vejo da Van... a mente divagando... não ficam por nada , nem por ninguém, nem deixam nada pra ninguém, nenhuma cortesia, nenhuma gentileza. Uma cortesia faz alguém ganhar seu dia... Adia a morte!


Pra que desperdiçar seu tempo dando atenção a estranhos? Ao espelho, estranharão as semelhanças também?

Quão vão é passar por esta Terra sem ser tocado e sem tocar a ninguém pelo olhar...

LibaN RaaCh

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