sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Inconfidência: A Rebelião dos Confrades

Consumo Consciente

Havia deliberado dedicar minha força de trabalho, minha inteligência, meu empenho, em algo que realmente valesse à pena, pois estava sendo agraciado com os melhores recursos intelectuais e emocionais, com os melhores esclarecimentos. (Falo isso em reconhecimento à Graça, de mim para mim; não para me sobrepor a ninguém. Portanto, humildade e modéstia estão abolidos nessa avaliação).

Frustrei-me!

Nenhum lugar encontrei onde pudesse empregar tais atributos. E as empresas onde poderia empregá-las exigiam, para a minha permanência, a extinção delas.

A inteligência é uma dádiva!

Ela realmente o é, pois basta agirmos em desequilíbrio para obscurecê-la, tornando-nos precipitados e desarrazoados. Desanuviar o raciocínio favorece a assimilação de qualquer aprendizagem. Arranca o Ser do estado de embotamento; torna-O esclarecido e ponderado, onde todos os mistérios e questionamentos são desvelados e obtêm respostas assertivas, instaurando quietude e convicções jamais vistas.

O desembotamento do Ser é conquistado através da relação franca, desinteressada, leal e honesta.


Onde nós temos isto? Com quem nós temos isto?

...Há tanto tempo não temos mais isto...

Por que colocar a nossa inteligência a serviço da prosperidade de uns poucos em detrimento de outros milhares? Por que empregá-la mal em benefício de empresas dirigidas por quem tem alma depauperada (depauperando a todos os seus freqüentadores – clientes, fornecedores e funcionários)? Sim, os que têm alma depauperada só se revitalizam exaurindo almas alheias, a exemplo de um modo vampiresco de ser.

Devo buscar um empreendimento, uma empresa, que sirva ao meu propósito de bem empregar todos os recursos mentais, emocionais e físicos disponibilizados a mim, e somente a mim. Explico: a minha maneira de exteriorizar habilidades mentais, emocionais e físicas é de exclusividade minha e de mais ninguém. Como disse em outra postagem aqui neste blog (vide Missão: ‘Pátio dos Convalescentes’), a estória de vida e sua assimilação torna exclusiva e insubstituível a maneira como cada um disponibiliza o próprio vazio para o afloramento do ato criativo.

Sinto-me no dever de recusar o emprego de minhas habilidades quando servirão, apenas, para aumentar índices de lucratividade e nada mais. As empresas incorrem em falta grave ao deixarem de incorporar aos seus conceitos de lucratividade aspectos imensuráveis relacionados ao bem-estar dos indivíduos envolvidos, direta ou indiretamente.

Esta crença de que ‘não existe quem não possa ser substituído’ é o maior dos embotamentos. É a institucionalização da prática de extermínio. Não é esta uma prática promovida na sociedade? Não por acaso, isto faz da sociedade uma eficaz produtora em série de praticantes desta forma de extermínio, produtora de assassinos.

A aplicação do termo ‘descartável’ no referente a seres humanos afeta a todos, em todas as áreas da existência, exercendo forte influência na invalidez dos relacionamentos, sejam entre familiares, amigos, colegas, profissionais ou parceiros afetivos. Outros poderão possuir maior conhecimento específico. No entanto, o mundo está cheio de especialistas. Estamos especializados demais e humanizados de menos. Enquanto questões importantes, como da coexistência pacífica e próspera a todos, deixam a desejar.

Por isso mesmo, não poderia desperdiçar recursos e ferramentas recebidos de graça pela Graça (tais como os talentos e a inteligência) empregando-os em uma atividade que revertesse benefícios materiais exclusivos para algumas poucas pessoas (os donos do empreendimento). Se assim procedesse, tinha comigo que estaria sendo conivente de um ‘establishment’ corrosivo. Empregar minha inteligência e minha força de trabalho em favor de uma empresa (que é o prolongamento dos seus mandatários), mesmo em troca de um salário pomposo, seria desperdício. Desperdício de tempo e vitalidade.

Ora, entre colaborar no favorecimento para a realização do erro alheio — e seu respectivo deleite —, ou favorecer meu próprio deleite, mesmo sabendo-o errado, prefiro o último. Ao menos, estarei empregando minha inteligência e força de trabalho em favor de algo que me proporciona contentamento, ainda que fugaz, ainda que falso, mas serei eu a me deleitar. Serei eu a arcar com as conseqüências. E serei eu o maior beneficiário dos meus erros ou acertos, porque eu os terei praticado com toda força do meu ser. Ninguém tem este poder sem meu consentimento.

Satisfação dos meus atos só devo a mim mesmo. Igualmente, meus atos só devem satisfazer a mim. Quando faço, faço porque quero. Faço, porque me agrada. Este totem — do mais puro egoísmo — prevalece entre rebeldes.

Sou rebelde, porém não egoísta, e daí?

Apenas isto já me coloca em posição privilegiada. Sou privilegiado por não obedecer a ninguém. Melhor, sou privilegiado por ter condições mínimas que proporcionam subsistência saudável ao meu corpo físico, enquanto dou asas à minha imaginação. Enquanto concebo a liberdade. Porque não consigo conceber a liberdade fora da desobediência. Porque obedecer às regras atávicas da sociedade contemporânea é ser prisioneiro voluntário. Claro que seria estupidez desobedecer às leis existentes. Infringir a lei é crime. Porém, infringir regras atávicas de cunho sectário, desumano, é grito de liberdade. É livre quem tem o poder de desobedecer às regras sociais vigentes sem se degradar. Este é um tipo de poder que não se delega.

Ainda que não tenha o bolso farto, jamais serei portador, ou irei favorecer alguém, de alma depauperada e miserável.

LibaN RaaCh


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