terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O Elo Perdido

Alguém saberia dizer quando começou a exigência por autenticação em fotocópias?

Quando a palavra empenhada e a presença física deixaram de ser suficientemente autênticas para que fosse necessário autenticá-las através deste explícito descrédito desaforado?

A simples exigência de uma autenticação em fotocópia já evidencia o quanto as instituições depreciam a palavra dada, o quanto depauperam o gênero humano, fato piorado com a exigência complementar de ‘firma reconhecida’. Ficou a cargo de terceiros, desconhecidos, autenticarem como verdadeiro o que está sendo afirmado pelos primeiros em função do pedido de outros terceiros.

Vivemos cerceados por formalidades evocativas da desconfiança mútua, provocativas de procedimentos ‘formais’ com o fito de garantir e validar o cumprimento do que está sendo afirmado.

De nada mais vale uma conversa ‘olho no olho’, principalmente porque nos falta a sensibilidade para reconhecer as verdades enxergadas através do ‘olho no olho’. Há mais interesses em aplicar o ‘olho por olho’ do que no constatar semelhanças através do ‘olho no olho’.

Como, quando e onde perdemos o elo de união com o vizinho, o elo de união com quem se nos avizinha durante os trajetos que percorremos diariamente, pouco importa, pois isto não restituirá o que nos entrelaça a toda creatura viva.

Cingirmo-nos com o anelo da Unidade, da união com todos, livrando-nos dos temores pessoais escondidos debaixo da superfície da desconfiança mútua, no mais compenetrado recolhimento – beirando ao transe do êxtase meditativo – urge!

Ninguém, senão nós mesmos, podemos prestar socorro nesta situação emergencial em que estamos inseridos.

LibaN RaaCh

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Previsão do tempo para hoje

Céu encoberto por nuvens esparsas impermeáveis à luz solar através da densa atmosfera. Altos índices de poluentes, também, contribuem para tornarem o ar menos respirável.

Interesse na obtenção exclusiva de benefícios próprios densificam a atmosfera ao nosso redor, assim como a afetação causada pelo bombardeio sociocultural determinam o nível de toxidez e poluentes em nosso sangue.

Sejamos a frestinha com vista para o Céu, permeando e aquecendo e embelezando em suave existir. 

Frestinha... nada mais... nada menos do que uma frestinha!

Liban RaaCh

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Esperando atendimento


Em uma sala de espera, como acontece em tantas salas de espera espalhadas por prédios construídos pela civilização, estava eu aguardando a minha vez de ser atendido.

Um casal carrancudo com dois filhos pequenos, dois lindos gêmeos, inconformado com a demora, recorreu ao responsável pela ordem de prioridade apelando pela preferência em serem atendidos primeiro em nome dos dois bebês de colo. Após receberem a notificação de que seriam os próximos, o marido esbravejou seu descontentamento ao verificar que haviam passado na frente deles várias pessoas que não pareciam ter nenhuma preferência. Pelo menos, nenhuma das preferências conhecidas de atendimento prioritário para deficientes, gestantes, mulheres com criança de colo e idosos.

À parte da queixa dele ter sido legítima, ou não; uma menininha de uns três anos de idade perambulava pela sala, absorta em seu universo particular.

Logo após o constrangimento generalizado, que a manifestação de fúria do marido causou, a menininha – sem a menor cerimônia – aproximou-se do bebê que estava no colo da mãe revoltada e começou a fazer carinho no rostinho do bebê, balbuciando sons incompreensíveis. Claro que o bebê, inicialmente espantado, arriscou um sorriso, mostrando os dois dentinhos inferiores nascentes. Os pais dos bebês sorriram também, juntamente com a mãe da menininha – autora desta façanha de transmutação – que havia se aproximado deles para ficar mais atenta aos movimentos da filha a fim de evitar maiores constrangimentos.

Em seguida, os bebês foram atendidos.

E o mundo civilizado, dentro daquela sala, recobrou a primazia da paz... da paz que jamais deveria ter sido soterrada pelas regras civilizatórias do mundo adulto.

LibaN RaaCh

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Palavras de efeito


A palavra amplificada pelo estado beatífico de quem a emite surte um tremendo efeito dentro da gente. Uma pessoa pode estar em estado beatífico sem precisar ser, necessariamente, santa.

O estado beatífico ao qual me refiro é algo relativamente simples de se conseguir. Basta recolher-se, mesmo em meio a um grupo de pessoas (em reunião com amigos ou de trabalho), recolher-se psicologicamente a região que inspire imenso conforto e acolhimento. Todos somos capazes de descobrir esta região psíquica onde nos sentimos em profundo estado de paz.

Em cada um, tal região possui um desenho particular: uma paisagem idílica, um aposento pessoal, o rosto de alguém (santo, profeta ou mestre), alguma passagem da própria vida, alguma frase ou texto significativo...

Conforme nos permitimos adentrar nesta região, neste recinto, vamos sendo tomados por um estado único, inédito, de ser e de estar. Um estado inédito vai tomando conta de nós.

Progressivamente, ao nos permitirmos permanecer neste estado único que vai tomando conta de nós por mais tempo, no decorrer de nosso dia, vamos notando como os eventos ganham ares providenciais, vindo ao encontro de nossas reais necessidades, vindo de forma natural e espontânea.

E como nós os recebemos, também, de forma natural.

Através deste estado inédito, deste ‘estado beatífico’, proferimos palavras e ações – ao mesmo tempo – intensas e belas.

LibaN RaaCh

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Não faltou oportunidade...

Temos o péssimo hábito de considerar como oportunidades perdidas as situações apresentadas pela vida onde, se tivéssemos nos comportado de maneira diferente da qual de fato nos comportamos, haveria um resultado melhor para nós mesmos e para nossas vidas.

Há, por trás disto, uma lastimável visão falsa do tempo – como se o ‘hoje’ fosse desprovido de qualquer possibilidade de realização – que esconde algo mais lastimável e mais falso ainda: o profundo descontentamento atual, o profundo sentimento de frustração por acreditar que não fomos capazes de realizar nada, não fomos capazes de conquistar nada (nem uma casa própria, nem a estabilidade financeira, nem estabilidade nos relacionamentos e muito menos um estado de segurança definitiva ausente, também, naqueles que conquistaram casa própria e estabilidade financeira).

Quando se tira proveito de oportunidades sem estar oportunamente amadurecido, como acontece de hábito, ficam implantados conflitos que resultam em luta e violência. Assim, travestimos supostos concorrentes com a máscara de um leão para fundamentar a frase: "temos que matar um leão por dia"! 

O conceito social de oportunidades envolve, somente, as chances de alguém executar determinadas tarefas que, quanto mais tempo ocupam e quanto mais bem remuneradas, consideram-nas ótimas... ótimas oportunidades.

Algo, talvez, esquecido por esta visão condicionada é a absoluta inconsistência em qualquer atividade externa pela permanência de um estado de realização.

Quem vive em função do mais compenetrado respeito à quietude interior obtém nutrientes em todas as seivas... mesmo em cactos espinhosos.

O ponto essencial está em: existe alguma atividade dita profissional que possa ser exercida sem ferir o princípio básico da quietude interior?

LibaN RaaCh

sábado, 21 de janeiro de 2012

Pela janela do décimo andar


Do décimo andar de um hospital, onde fui como acompanhante, olhava eu pela janela e fui absorvido com a seguinte consideração:

O que nos impede de enxergarmos os agravos particulares recorrentes como se estivéssemos olhando para eles do décimo andar de um prédio?

Assim estava entretido por esta questão quando reparei em uma agitação entre motoristas dos carros que trafegavam na rua avistada lá de cima. A julgar pelo dedo levantado e pelos movimentos bruscos de braços e mãos, parecia uma discussão no trânsito – ocorrência tão frequente no ambiente urbano que poderíamos elegê-la como um agravo recorrente.

De onde eu me encontrava, naquela janela do décimo andar, testemunhei aquela ocorrência; sem sentir vestígio algum de ameaça suscitada pelo medo, pois estava protegido nas alturas; e nem a frígida indiferença típica da vertigem produzida pela ilusória posição 'elevada'.

Os instrumentos utilizados – quais sejam as discussões e conflitos – para agravar as nossas condições particulares de vida logram retumbante fracasso se atribuirmos a eles a mesma ordem de grandeza de quando estamos no décimo pavimento de um prédio: tornam-se figuras miudinhas macaqueando gestos e palavras. Por mais que façam, não oferecem a menor ameaça. Portanto, ficamos sem nada a temer... sem absolutamente nada a temer!

É deveras gratificante perceber como a vida corresponde, de forma imediata e elucidativa, em questões cruciais. Se não houve tal correspondência em nossa vida é porque falta, ainda, a investidura crucial na questão que queremos evidenciar.

LibaN RaaCh



"O perigo da vertigem vem da ilusão de que essa sublime posição
seja obra do seu ego personal, vem do erro fatal
de que a pessoa humana tenha creado essa glória
no alto do candelabro ou no cume do monte".

Huberto Rohden

Exame Admissional

Mais do que o receber, praticar o ofertar!

Por mais que se creia em direitos a receber, legítimos ou não, a prática do direito em oferecer supõe uma qualificação para além dos estreitos limites curriculares.

Verbalizar tal qualificação, por melhor elaborado seja o currículo, foge aos moldes aceitos nas corporações ditas empresariais, ávidas em selecionar para competir.

Raros selecionadores estão aptos a reconhecerem tal qualidade, enquanto estritamente focados na objetividade... na objetividade eliminatória do elemento sutil presente nos candidatos e em si mesmos: o subjetivo.

Para muitos, seria o mesmo que admitir a completa invalidez do processo... o quanto esta sistemática é inválida para a preservação de um modo de viver profundamente salutar, tanto em sentido material, quanto psicológico.

Raros... raríssimos... admitem fazer um exame com esta profundidade. O fato de nos negarmos a este exame de admissão, já resulta – a priori – em demissão. Demitimos o compadecido reconhecimento unificador dos detalhes sórdidos ofertados em nossas vidas.

LibaN RaaCh



quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Como foice pelo ar


Respostas vêm com a brisa
A brisa certeira
Que não principia, nem acaba.

Feliz quem está atento
Ao peculiar movimento
Do vento roçando o rosto
Trazendo nem gosto, nem desgosto:

Como entreposto, sussurra ao ouvido
Sábio em auscultar a solitude...

A boa conselheira brisa
Faz-se companheira
E desta simples maneira
Atende à solicitude
Da dúvida que martiriza
A concepção de finitude.

Miríades de teorias vão e vem...
Teorias de combate à pobreza
Seja do corpo, seja do espírito.

Na lufada do ‘insight’ feito vendaval
Foram-se as teorias todas
Foi-se a miséria levando a riqueza com ela.

Foi um vento que passou em minha vida,
Um vento que veio como foice.
Um vento que veio e... foi-se!

LibaN RaaCh



BLOWING IN THE WIND (Soprada No Vento)
Bob Dylan

Quantas estradas precisará um homem andar
Antes que possam chamá-lo de um homem?
Quantos mares precisará uma pomba branca sobrevoar
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim e quantas vezes precisará balas de canhão voar
Até serem para sempre banidas?

A resposta, meu amigo, está soprada no vento
A resposta está soprada no vento

Sim e quantos anos pode existir uma montanha
Antes que ela seja dissolvida pelo mar?
Sim e quantos anos podem algumas pessoas existir
Até que sejam permitidas a serem livres?
Sim e quantas vezes pode um homem virar sua cabeça
E fingir que ele simplesmente não vê?
A resposta, meu amigo, está soprada no vento
A resposta está soprada no vento

Sim e quantas vezes precisará um homem olhar para cima
Antes que ele possa ver o céu?

Sim e quantas orelhas precisará ter um homem
Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim e quantas mortes ele causará até ele saber
Que muitas pessoas morreram?
A resposta, meu amigo, está soprada no vento
A resposta está soprada no vento

Travessuras de menino


Com frequência, a temerária crença – prodigiosamente falsa – na incapacitação parcial lança o adulto a traquinagens de menino... travessuras... onde ficam implícitas contendas infantis.

LibaN RaaCh

Mais uma face no 'face'


As inovações tecnológicas propiciaram o advento de uma nova “persona” ao livro das nossas inumeráveis faces: o Facebook.

LibaN RaaCh

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

MAKTUB

 (ESTÁ ESCRITO)

Alguns sentem urgência em ouvirem e lerem e verem anunciada a Verdade, e somente a Verdade, e nada mais do que a Verdade.

São os predestinados a sorverem o néctar da bem-aventurança, porque assim foi prometido nas escrituras, assim está escrito, assim MAKTUB: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça porque serão saciados”.

Vivemos a Era dos DESMAKTUBIZADOS: depositam a sua total confiança em si, e somente em si mesmos. A única semelhança que conservam com MAKTUB é fonética, vivendo em MAUS TUBOS: entubados em metrôs e ônibus, em engarrafamentos, em elevadores, nos shoppings, nos medos pessoais e convencionalismos, no limite estreito da remuneração mensal e nada mais...

Viver regido por MAKTUB requer grau diferenciado de confiança face às provocações pelas quais somos acometidos diariamente.

Confiar, confiar, confiar...

A despeito do ronco no estômago clamando por comida, ou da secura na garganta exigindo água para saciar a sede, ou do aperto no peito implorando acolhimento na irmandade entre semelhantes, confiar...

Que a refeição, o bálsamo e o aconchego estão iminentes!

LibaN RaaCh


Na crista da onda...


A serenidade de uma confiança adquirida em experiência de quase afogamento é que nos proporciona o domínio pleno para surfarmos na crista da onda.

LibaN RaaCh

Lastro para o sucesso

Para sermos genuinamente bem sucedidos faz-se imprescindível que tenhamos todos os itens de nossa constituição enquanto habitantes deste Globo em seus devidos lugares, como nas gôndolas de supermercado.

Quem tiver um só item a oferecer, está fadado a não suportar as exigências advindas com o sucesso, como é o caso de diversos artistas e profissionais cujo único artigo é o produto de sua arte única ou de sua única especialização.

A humanidade, hoje, atingiu uma dimensão – tanto em quantidade quanto em qualidade – onde o detentor de um único produto não se sustenta, sendo rapidamente descartado, pois se configura a falta de lastro. Fica demonstrada a falsa impressão causada pelo excessivo lustre unilateral.

Por causa dos anos de aculturamento indevido, para alocar os diversos produtos que trazemos de nascimento (o respeito, os talentos, o amor, etc.) em uma disposição correta, em seu devido lugar, a mais profunda e amorosa compreensão precisa se estabelecer. Para que sejamos alguém muito bem estabelecidos, com simplicidade, sem a necessidade de medicamentos calmantes ou psicotrópicos.

O valor do dinheiro precisa estar no seu devido lugar, assim como a atividade remunerada, a relação conjugal, as relações entre amigos, a precisão de tempo para estar só, o lazer, as necessidades de ordem alimentar e as referentes aos sentidos físicos, as ânsias da alma e tudo o mais que faça parte do viver, mas que, consideradas isoladamente, suscitam o viver em parte, apenas.

Estes itens todos precisam estar dispostos corretamente nas gôndolas deste nosso estabelecimento interno para sermos condignamente bem estabelecidos.

E assim, ‘O Estável’ poderá vingar como um bem durável... um bem perpetuamente durável!

LibaN RaaCh


Quando a Indesejada das gentes chegar
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

Manuel Bandeira


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Luz e Sombra

A Luz, quando está juntinha, bem no alto de nossa cabeça, projeta uma sombra abaixo e do tamanho da silhueta exata dos nossos pés.

Conforme a Luz ganha distância e inclinação, a nossa sombra aumenta de tamanho. Até o ponto extremo onde ela, a Luz, fica tão distante que nos resta, apenas, sombra e escuridão.

O que faz a Luz permanecer no alto de nossa cabeça e o que A faz se distanciar? Por que alguns são mais receptivos à Luz da Verdade do que outros? Como eu posso me tornar mais receptivo?

Existe uma – e somente uma – Verdade inconsútil e incorruptível, comum a toda a humanidade, independente de sua condição social, ou de sua opção em seguir determinado conjunto organizado de crenças?

Em existindo esta Luz da Verdade Única, onde está a ‘pedra de tropeço’ que restringe a plena assimilação Dela, uma vez que a sua assimilação parcial tem se mostrado insuficiente na construção e manutenção de uma disposição interna livre de conflitos, de relações livres de conflitos?

Sabemos que nossas disposições internas entram em conflito quando o interesse pessoal se depara com alguma contrariedade. Para a eliminação de todas as contrariedades são necessárias as eliminações de todos os interesses pessoais – pois não haverá contrariedade se não houver interesse a ser alcançado. A eliminação de interesses pessoais implica na eliminação  da pessoa por trás destes interesses. Eliminar a minha pessoa, que está por trás dos meus interesses, significa extinguir as referências sobre as quais foi montada a minha personalidade, extirpar a individualidade conhecida com o nome adotado em meu nascimento.

É o mesmo que dizer que eu me transformaria em um ente sem nome. Em um alguém sem nome. Em um ninguém...

Na eliminação do meu sofrimento está implícita a eliminação daquele que sofre, que sou eu – ou melhor – que é a concepção minha do que seja este ‘eu’. A eliminação deste ‘eu concebido’ conduz à morte. Esta é a lógica do suicida, a quem para além do ‘eu concebido’ resta o vácuo onde nenhum elemento subsiste... nenhuma substância contendo conflito e dor.

É possível existir... na vida... sem ser através deste ‘eu concebido’ que é a fonte de tantos sofrimentos e dissensões?

Sim. Possível é; porém, seria uma existência fadada ao incomum, ao ‘sui generis’. Uma existência fora do comum. Neste contexto único, tudo que se apresentasse ‘dentro do comum’ tornar-se-ia inconsistente e volátil. O volátil que se desfaz. O que, em nosso mundo, possuiria a característica de não se desfazer, nem mesmo pela ação inexorável do tempo?

Seriam os feitos do Amor... do Amor com letra maiúscula... que deixariam registros em dimensões não degradáveis.

Este é um Amor fora do comum, fora de concepções comuns, fora das concepções aceitas como normais, pois as aceitas como normais contém uma noção bastante vaga de ‘união estável’, enquanto a Verdade sobre este Amor – de dimensões não degradáveis – adota, como princípio, a estabilidade de uma ‘União’ para além desta mera noção genérica de amorzinho.

A dimensão não degradável está inacessível a elementos que sofrem a ação corrosiva e deterioradora do tempo, como são os elementos que compõem a estrutura das concepções sobre a minha pessoa. Enquanto estes elementos persistirem em existir, estarei proibido de entrar nesta dimensão.

Rompe esta proibição quem se cristaliza através do suave desvanecer das concepções sobre si mesmo, sobre quem se acredita como sendo este ‘eu’. Se a ruptura for brusca, o desequilíbrio se instauraria. Portanto, que seja suave... um desvanecer imperceptível de tão suave...

Posso não ter obtido, ainda, a suavidade e a cristalização necessárias ao ingresso definitivo naquela dimensão onde se manifesta a Luz da Verdade... O Amor de verdade... mas tenho a convicção de seguir dia-a-dia, noite após noite, dia-e-noite, em compasso irretrocedível!

LibaN RaaCh

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Poção do Amor

Quão cônscios somos do grau de nossa desimportância no fluxo de experiências verdadeiramente marcantes em nossas vidas?

Quão intensa é a afirmação para nós mesmos de nossa insignificância em relação aos fatos marcantes de nossas vidas?

Dedicar-se com afinco em curso preparatório para a conquista de alguma posição acadêmica ou profissional é de suma importância, alguns poderiam dizer e, realmente, eu concordo, faz a diferença na vida de uma pessoa. É inegável a importância e o marco obtido através de um diploma ou certificado de algum curso no referente à remuneração que dita a melhor, ou pior, condição material de vida.

No entanto, sabemos de incontáveis pessoas detentoras de condições materiais satisfatórias de vida sem que tenham, ainda, nenhum fato indelével no fundo de suas almas. Podem ter conquistado o diploma de segundo grau, o vestibular, um ótimo emprego; podem ter vivido as agruras de um acidente, a morte de um ente querido, a doença, o desprezo de uma paixão; o casamento, o nascimento do primeiro filho e tantos outros eventos considerados marcos na vida sem, contudo, que nenhum deles tenha realmente deixado marca inextinguível e eterna.

Existem eventos que permanecem por longa data em nossas mentes e emoções, correspondendo ao encargo de grandes marcos em nossas vidas. Deixam marcas consideradas indeléveis, mas que exercem, apenas, o papel de expurgos. Realizam a função ingrata de, por meio delas, desobstruirmos as vias de acesso à poção infinitesimal de nossa constituição.

Nesta poção infinitesimalmente pequena de nossa constituição não cabem os títulos que, porventura, tenhamos colecionado; não cabem as dezenas de metros em ataduras usadas nas nossas feridas, nas feridas físicas e nas emocionais; não cabe a quantidade de lágrimas vertidas, nem as ondas sonoras dos risos prazerosos; não cabem as horas de insônia e preocupação, nem as muitas horas de trabalho duro...

Retrucaria você:
    Poxa! Mas, então, não cabe nada aí nesta poçãozinha de nada?
    Isto mesmo, responderia eu, cabe apenas o nada... o Nada que é Pleno... o Pleno que é a Divindade... o Deus que é você!

LibaN RaaCh
    

sábado, 7 de janeiro de 2012

Come cru quem tem pressa?


(tributo a N J R O)

Há uma estreita proximidade entre crueza e crueldade. Entre o percebimento cru de posturas pessoais, ou alheias, e a ausência de generosidade nas considerações levadas a cabo desta forma crua.

A consideração de atitudes pessoais, quando levadas às últimas consequências, quando levadas aos termos mais profundamente ocultos, encontra, sempre, o medo do desamparo e da solidão... o medo de ser banido a território incomensuravelmente árido e inóspito... a terras onde se pratica o egocídio... às trevas onde ocorrem egocídios! Onde há a elucidação cruel – involuntária e sem escolha – das mínimas atitudes pessoais como sendo estimuladas por motivos egóicos e das motivações egóicas no vasto cenário social testemunhado diariamente.

A realidade das relações se apresentando absolutamente despida de todas as suas vestes tão bem esculpidas na alfaiataria dos bons modos sociais, ou dos modos politicamente corretos, ou ainda do alinhavar sutil de uma espiritualidade bem consolidada, é o decreto – tácito e irrevogável – de nosso exílio, de nosso banimento, com prazo indeterminado, às terras do Nunca...

Mesmo assumindo a sentença crua de viver abandonado na cela solitária, à qual somos levados por este percebimento sem trégua, o acreditar-se no desamparo rigoroso facilmente se torna desespero enlouquecedor!

Quem, ou o que, possui a real propriedade da supremacia sobre este Caos?

Nenhuma religião isolada detém a capacidade de impor um termo final a este estado de isolamento involuntário.

Por quanto tempo – ainda – terei que me fartar do dissoluto antes que me venha o Absoluto?

LibaN RaaCh

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Pateticamente feliz


Dirigindo-me ao encontro entre confrades, numa quinta-feira chuvosa, final de tarde (mais de sete horas e, ainda, continuava claro devido ao horário de verão); observei, no banco de trás de um carro à minha frente, um menino colocar seu catavento pela janela e, hipnotizado pelo giro do catavento conforme o carro aumentava ou diminuía a velocidade, acompanhar – maravilhado – cada mudança.

Quantas não foram as mudanças em nossas vidas pelas quais deixamos de nos maravilharmos pelo simples fato de terem acontecido desobedientemente?

Nem mesmo o risco de o menino ficar sem o catavento, pois uma lufada de vento mais violenta arrancaria da tênue firmeza de suas pequeninas mãos a haste, deixava-o apreensivo ao ponto de impedi-lo de continuar se maravilhando com o espetáculo do giro aleatório no catavento e da multiplicidade de cores produzidas por este giro.

Eis que, após o carro efetuar uma curva, o menino perde equilíbrio e a haste escapa de suas mãozinhas. Com a mão espalmada grudada no vidro traseiro do carro, os dedinhos abertos, o menino lançava um olhar melancólico ao seu catavento se perdendo no asfalto...

Dirigindo logo atrás, fiz uma manobra brusca para não passar com a roda do carro por cima do catavento. O menino me olhou espantado. Fiz um sinal – erguendo os ombros e a sobrancelha – como se quisesse consolá-lo pela perda que acabara de ter.

Talvez, em retribuição ao que interpretei como gratidão pelo meu cuidado em não esquartejar por atropelamento ao objeto de seu encanto, o menino sorriu... sorriu e progressivamente aumentou seu sorriso... até se converter em gargalhada.

Ao passar pelo carro, percebi que os pais sorriam atônitos contagiados pela gargalhada do menino, sem – contudo – terem qualquer conhecimento do ocorrido.

LibaN RaaCh


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Os Errantes Não-Judeus!


Há momentos em que o silêncio me é profundamente caro.

Uma estória... talvez lendária, talvez real...:

No caminho pelo qual Jesus Cristo passou arrastando a pesada cruz havia o estabelecimento de um sapateiro judeu. Na frente da loja deste sapateiro, Jesus tombou. Neste momento, o sapateiro judeu O repreendeu dizendo-Lhe para que seguisse andando rápido dali. No que Jesus Cristo retrucou dizendo ao sapateiro que ele, o judeu sapateiro, haveria de andar por este mundo, haveria de caminhar por esta Terra, até que Ele, O Cristo, voltasse novamente.

Assim surge a fábula “O Judeu Errante”.

Menos importância tem a veracidade dos fatos acima do que a formação, na mente da humanidade, de uma figura fadada a caminhar, sem descanso, pela vastidão do mundo até a segunda vinda Daquele que foi uma das encarnações da Consciência Cósmica na Terra.

Este “mito” ecoa em cada um dos buscadores da verdadeira senda espiritual. Com cada um que busca comungar na Irmandade entre toda espécie viva. Com aquele que busca uma experiência direta com a Divindade, com a Consciência Cósmica; com aquele que tem esta necessidade visceral, que nada do que pertença ao mundo consegue contentar – apesar dos eflúvios Divinos existirem no mundo sem, no entanto, pertencerem ao mundo – este buscador é um errante. Podemos afirmar que a tendência mundial é pelo aumento considerável na quantidade de errantes sinceros e com discernimento suficiente para não se deixarem enredar por promessas vãs.

Recuso-me a acreditar na penalidade com prazo indeterminado para seu fim, como se poderia inferir no mito de “O Judeu Errante”. A punição imposta é um dos mais covardes recursos tidos com o fito educativo que, em verdade, ocultam a fragilidade de uma impotência absoluta naquele que pune, ou naquele que deseja punir.

A apreensão – por meio de momentos silentes – de realidades incorpóreas benfazejas, de irradiações policromáticas, faz-me soltar chispas irritadiças em quem interfere neste influxo. Isto me faz ver o quanto estou inapto a uma vivência continuada destas realidades. O quanto ainda me sinto melindrado por contingências ou pessoas inconscientes deste processo.

Até que venha a erradicação de todos os meus melindres, a fábula de “O Judeu Errante” será um fato real e verídico em meu caminhar incessante...

LibaN RaaCh

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Atestado de bons antecedentes

Estar em condições de testemunhar, nos outros, ao jogo de atitudes objetivando uma reação nossa pré-estabelecida é doloroso porque evidencia o desespero e a profunda dependência do outro por uma reação dentro de medidas adequadas.

Ao não corresponder à adequação esperada, a vontade pessoal não realizada leva à frustração, ao sentimento de derrota que produz agressividade visando o impossível: adequar o outro às vontades pessoais.

Há a crença de que esta é a atitude mais indicada para a obtenção de resultados rápidos. Entretanto, este modelo de relacionamento tem demonstrado eficácia apenas em estruturas militares e despóticas. Mesmo assim, uma eficácia duvidosa por se aplicar, tão somente, a contingências de guerra declarada.

Ainda predomina na sociedade ocidental a cultura da competitividade (a meu ver, uma guerra velada que dilacera, de forma sub-reptícia, a inata inclinação assistencial humana: o mais forte prestando assistência ao mais fraco, ao invés de querer exterminá-lo, como quer exterminar a todos que demonstram força de combate).

É doloroso testificar que os bons antecedentes culturais estão profundamente arraigados nos que são eleitos ‘cidadãos exemplares’ por aqueles que alimentam interesses velados.

Mais doloroso ainda é testemunhar, em mim, o mesmo fundamento combativo do que está sendo aqui exposto e criticado como pertencente ao fulcro cultural formador da civilização.

Com que direito posso eu me arvorar pacificador se, na exposição destas atitudes, há o tom combativo?

A única maneira de me apaziguar, ou apaziguar quem tem sede de combate, quem tem sede de competir; de apaziguar quem está inserido – até a sua última gota de sangue – em contexto onde só existem vencedores ou perdedores; é mostrar-me perdedor, sendo vencedor!

Convencido da derrota e buscando vitória, estaremos continuamente enredando esforços em trincheiras intermináveis. Sempre em busca de qualquer pessoa, ou doutrina, ou cargo, ou título, que possa acenar com a possibilidade de reforço.

Até esgotarmos todas as possibilidades e atestarmos, soterrados nas trincheiras do ego, tomados por patologias físicas e psíquicas, a imprevidência de tantos esforços de guerra ou armistícios.

LibaN RaaCh




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