quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A Letra é Morta




A letra é, realmente, desprovida de todo e qualquer significado quando separada de quem a está lendo.
Só não ficará letra morta enquanto estiver vivificada na reflexão meditativa de quem a lê.

Enquanto os dizeres expressos nas letras permanecerem reverberando no íntimo de quem os tiver lido – apesar de já encerrada a leitura – lá estará o Espírito daqueles dizeres.

Dentro deste contexto, os dizeres necessários, os dizeres sôfregos por expressividade, sempre encontram mãos, ou vozes, através dos quais desembocam...
...às vezes, feito pororoca em retumbante estrondo;
...outras vezes, como enternecedores véus d’água em cachoeira modesta.

Por isso, os donos das mãos, ou das vozes, quase nunca são donos dos dizeres.

Conforme o zelo em manter a cuia de nossa natureza receptiva à altura do seio misericordioso, sempre haverá abundância de dizeres a verter por mãos, ou vozes; ou, mais poderoso do que tudo, a verter pelo anonimato do silêncio!

LibaN RaaCh

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Este dia vai chegar...



Chegará o dia em que não mais poderei comer doces.
Mas, até lá, continuarei a dar minhas beliscadinhas.

Chegará o dia em que não mais conseguirei correr, nem pular.
Até lá, continuarei a dar meus pulinhos e minhas corridinhas por aí...

Chegará o dia em que nem mesmo a ‘pilulazinha azul’ dará jeito.
Pretendo, até lá, não fazer uso dela.
Desculpem-me!
Não me enquadro na categoria de touro reprodutor que vive pelo prazer,
Ao invés do prazer pelo viver.

Chegará o dia em que meus amigos me abandonarão.
Ou porque a morte os convidou a cear,
Ou porque a própria vida, em seus tortuosos caminhos certos,
Incumbiu-se de separar.
Compartilharei muitas e muitas ceias com eles até lá.

Chegará o dia em que não mais haverá
Esta regurgitante necessidade em escrever,
Pois o sentido de todos os escritos
Estará encravado em meus poros
Fazendo do meu transpiro, do meu respiro,
O sentido de todos os escritos.

Mas, até lá, continuarei a escrever coisas,
Por vezes, sem sentido.

Chegará o dia em que reencontrarei conhecidos
Que estagiaram em minha vida.
Neste dia, talvez, eu seja tratado como desconhecido.
Ou, talvez, eu dispense este tratamento.

De qualquer forma, ainda assim, a comunhão permanecerá impressa
Nos registros do meu Ser, como tem sido desde que eu me tenho por gente!

Chegará o dia em que minhas pálpebras fechar-se-ão em definitivo.
Contudo, até lá, que no contato com cada criatura humana
Eu consiga contato do mais humano em mim
Com o mais humano em Ti!

LibaN RaaCh 

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Órfãos de Pai e Mãe


Por que há tanto interesse em divulgar o fato de termos conseguido compreender a vida por um ângulo libertador se a quem está do nosso lado... sofrendo... há impedimentos à absorção dos benefícios daquela compreensão?

Impedimentos transponíveis, sim!

Transponíveis pelo mais sacrificial devotamento, pela anulação de toda identidade enquanto personalidades pré-definidas em deliberado papel social.

Só uma Mãe pode isto. Só uma materna devoção. Só um amor de qualidade maternal.

Quantos órfãos de mãe não estão por aí a propagar seus mais altos dotes sacerdotais enquanto parceiros fiéis permanecem à míngua ao seu lado?

LibaN RaaCh

domingo, 27 de novembro de 2011

A Saga ou a Praga da Meditação


Enquanto crianças – até mesmo na maioria dos adultos – ainda não possuímos o suficiente desenvolvimento psíquico e orgânico para a completa noção, a completa consciência, do que me inclino a chamar de “mônada”, por falta de outra denominação do elemento indestrutível presente em cada individualidade.

O termo “mônada” parece o mais próximo do sentido de unidade e indestrutibilidade deste elemento contido no corpo físico perecível, neste corpo que recebe um nome ao desbravar o ventre materno; contido no substrato de todas as emoções e sentimentos pelos quais passamos nas contingências da trajetória chamada “vida”.

Este substrato, tido por eterno e imperecível; este núcleo, que traz em si o atributo da onisciência e da onipresença; este centro com alto poder magnético facilitador da mais intensa ternura comungada pela compaixão; este pólo para onde converge toda diversidade de expressões humanas e de onde se expande o forte sentimento de filiação originalmente única entre todos os seres viventes; é o que eu chamo de “mônada”.

Menos me importo em obedecer a nomenclaturas – concordantes ou discordantes em relação a determinadas doutrinas – do que com a lealdade que ora urge por manifestação, pois de há muito vem me intrigando... vem amadurecendo.

Por isso, o conceito considerado aqui de ‘mônada’ pode divergir da exatidão apregoada em outras linhas teóricas.

Pois então...

À mônada nada pode subtrair ou acrescentar.

O simples resvalar na mônada em nossos estados meditativos já é suficiente para demonstrar a completa invalidez em nossas preocupações rotineiras.

Eu, de mim mesmo, afasto a presunção de afirmar que vivi a unidade com a mônada. Contudo, seria mentira de minha parte dizer que não guardo a nítida impressão de ter ousado resvalar nela. Assim como muitos confrades.

E por esta ousadia, paguei o preço de ver os alicerces conceituais que sustem a minha existência de carne e osso ruírem sob meus pés.

Muito além da compreensão racional dos dizeres de Fernando Pessoa, compartilho do mesmo sentimento de que “hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu”.

LibaN RaaCh

sábado, 26 de novembro de 2011

Nau dos Insensatos



Com a impressão de termos percorrido um longo e desgastante caminho, agora chegamos à necessidade de travessia de um largo rio, e ficamos esperando...

Na esperança da balsa que irá nos conduzir para a outra margem, onde haveremos de encontrar aquilo que tanto almejamos por toda uma vida: o termo final dos nossos altos e baixos, das nossas “saídas e entradas do Ser”, o fim da intermitência no fluxo da bem-aventurança, a nossa Natureza Real enfim.

Aflitos permanecemos nesta margem do rio para, a qualquer instante, avistar o barqueiro trazendo a nau com a promessa de bálsamo definitivo às nossas inquietudes.

Porém, nem ao menos um sinal – ainda que longínquo – há do tal barqueiro.

E os dias passam... os meses passam... os anos passam... e o barqueiro não vem. A travessia vai ganhando ares de utopia, de algo irrealizável, à despeito dos relatos de todos aqueles que já a fizeram.

Conforme a pretensão em avistar a balsa vai perdendo a acuidade do sentido visual, devido ao decurso dos tempos, devido ao cansaço de nossas vistas, devido ao natural afrouxamento da agudeza de nossa mente, devido ao esgotamento de nossos ímpetos, devido ao desencanto em nossas miragens... em nossas tantas miragens de efeito inebriante... em nossas tão cândidas miragens de conseqüências amargurantes...

Conforme esta pretensão entra em decrepitude, tem início um movimento... um movimento tão despretensioso quanto surpreendente!

E desta beira do rio passamos a avistar, no espelho das águas, a balsa, o bálsamo e o barqueiro a sussurrar:
 — Aqui estive sempre... sempre... à espera desta irrupção!

LibaN RaaCh

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

"Saidinhas do Ser" e suas Benesses


Antes de mais nada é importante esclarecer o significado, para mim, de “saidinhas do Ser”. Quando “estamos no Ser” ficamos tomados por um estado psicoemocional da mais absoluta irmandade com todos os seres viventes; portanto, destituídos de qualquer intento egocêntrico.

E desde que o principal componente para a integridade em nossa natureza humana é o ego, quando a ele somos lançados por força das circunstâncias ocorre o levante de nossas energias instintivas em defesa da preservação desta mesma integridade, ainda que ao preço do aparente descontrole.

Naqueles momentos onde os assuntos sobejam às instâncias circunscritas ao ego, eu “saio do Ser”.

Exemplo: no trânsito, apesar de dirigir calmamente, ao tomar uma fechada tenho o impulso de emitir - de boca cheia e saboreando cada letrinha - um xingamento sem a menor cerimônia. A isto chamo de “uma saidinha do Ser”. Pronto. Passados alguns minutinhos, volto ao estado calmo e sigo viagem.

Neste caso, ninguém se feriu e todos ficamos livres, leves e soltos:
1) livres de um acidente iminente que a adrenalina descarregada impediu, suscitando o reflexo salvador;
2) leves em relação ao peso que ficaria se o rancor não tivesse encontrado  sua mais completa expressão através do impropério esgoelado sem a menor cerimônia e;
3) soltos por conseguirmos evitar ferimentos físicos e morais.

Esta espécie de benesse também pode ser aplicada ao dilema que enfrentamos pela dedicação a uma atividade remunerada diária em algo que poderia ser prejudicial, por não estar alinhado com os princípios de solidariedade, de contribuição honesta, à geração do bem-estar autêntico, genuíno e legítimo a nós mesmos e ao outro.

Veja o caso de Nisargadatta Maharaj: um dos maiores expoentes da filosofia não-dualista,  tinha lojas onde vendia cigarros enrolados em folhas. De dia ele trabalhava vendendo seus cigarrinhos e, de noite, ficava discorrendo, em conversas bastante instrutivas, com grande conhecimento de causa, sobre as virtudes, encruzilhadas e armadilhas da natureza humana. Notem que ele vendia um produto que alimentava o vício do outro, um vício que, comprovadamente, levaria ao sofrimento e à morte por doença cancerígena. Nem por isso, deixou de continuar conectado ao manancial provedor de toda suficiência ao indivíduo humano.

Ora, por que eu, em minhas modestas atividades, em minhas mazelas, deveria carregar peso na consciência por estar contra conceitos culturalmente formatados no referente ao modelo de homem que diz ter atingido compreensão e união com a Suprema Inteligência Amorosa, com Deus, com Cristo, com Brahman, com Babagi, ou outra qualquer denominação dada a este Algo Inominável?

Permitam que eu seja absolutamente franco?

Nenhuma culpa vale o peso da dor imortalizada em detrimento à leveza passível de ser vivenciada por cada um de nós no contato direto com o nosso Ser Imortal.

LibaN RaaCh

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Ao alcance do Redentor


Estar liberto da avaliação entre o bem e o mal pressupõe um estado de lucidez que não é do raciocínio, pois este nos atraiçoa, este atua como Judas que entregou Cristo aos poderes do mundo através de um beijo.

Ao raciocínio é possível e relativamente fácil entender o alcance daquele estado redentor de lucidez.

Porém, a assimilação cognitiva tem demonstrado ser insuficiente para a preservação do nosso núcleo amoroso, da afetividade como potência nuclear inerente ao gênero humano.

Esta mesma afetividade despropositada nos sujeita a uma esmagadora impressão de fraqueza e inferioridade tão intensa que sucumbimos a ela.

Fiéis a este despropósito
Já sucumbidos...
Já derrotados...
Recrudescemos feito a flor-de-lótus
Renascida em meio ao pântano.

LibaN RaaCh

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Água Benta

Por trás dos feitos tidos por pessoais, sejam feitos dignos de aplauso ou os reprováveis, há algo de impessoal... algo de fervorosamente impessoal...

Algo tão ardente, tão rico de sentidos para nossa vida, que tendemos a desejar que seja nosso, a desejar sermos proprietários deste algo.

Mas, como a água escorre por entre os vãos dos dedos da mão ao tentarmos agarrá-la, assim também este ‘Quê do Eterno’ se afigura fugidio ao tentarmos capturá-lo, ao tentarmos estagná-lo em forma de uma propriedade exclusiva nossa. É, então, que se perde a conexão com o Indefinido e tem início a luta... a ingrata luta na mesmice cotidiana pela afirmação de nossa legitimidade enquanto proprietários enjeitados.

Tão logo nos recolhemos ao nosso papel insípido, somos – renovadamente – acolhidos por esta magnânima água cuja natureza é passar de mão em mão, de coração em coração.
Simples assim...

LibaN RaaCh

domingo, 13 de novembro de 2011

Primeira Comunhão

A sua verdade o trouxe até aqui. Sim, até este exato ponto onde, por ora, você está.
A minha verdade, também, até aqui me trouxe.

Como é lindo o encontro de nossas verdades para a comunhão do que, até agora, estava em dimensão inatingível... 
obviamente inalcançável de tão perto... 
à distância de um beijo... 
o suave beijo da sua verdade na face da minha!

Na fraqueza e na opressão nos dignificamos a este sacramento.


LibaN RaaCh

sábado, 12 de novembro de 2011

Irmandade anônima


Quanto de despretensiosa iluminação tem aquele desconhecido com quem cruzamos –  inadvertidamente –  pela rua, ou no ônibus, ou no metrô, ou no restaurante e, através desta aproximação indesejável, sem nenhum toque físico, ocorresse um desencargo instantâneo de todo peso que nos oprimia... que nos retesava o semblante... que  envergava a nossa coluna vertebral?

Eu, pessoalmente, já vivi isto. Mais de uma vez. No papel daquele que recebeu o desencargo.

Foi como se houvessem arrancado – com as mãos – o fétido e sombrio fardo que me empalidecia o ser, da cabeça aos pés.

Humildado pela  gratificante sensação de arrebatamento, fiquei paralisado... paralisado e inconformado por isto estar acontecendo justamente comigo?


Se tão maternal afago aconteceu a um ser diminuto e insignificante como eu, leitor irmão, por que não haveria de acontecer a você também?

LibaN RaaCh



sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Falência Múltipla





Após a falência em múltiplas áreas da vida – no profissional, no casamento, na escola, na família, nas amizades – ninguém mais restará como alvo de combate.

Sem ninguém para combater, restaremos a sós diante do espelho...

Olhando nossa imagem residual, somos compelidos a nos reconciliarmos com as migalhas do que vemos. E, neste movimento do reconciliar, comprovamos a evasão de divisas profundamente deficitárias – a meiguice... a afeição... – das quais jamais deveríamos ter aceitado nos esconder.

LibaN RaaCh
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