Antes
de mais nada é importante esclarecer o significado, para mim, de “saidinhas do
Ser”. Quando “estamos no Ser” ficamos tomados por um estado psicoemocional da
mais absoluta irmandade com todos os seres viventes; portanto, destituídos de
qualquer intento egocêntrico.
E desde que o
principal componente para a integridade em nossa natureza humana é o ego,
quando a ele somos lançados por força das circunstâncias ocorre o levante de
nossas energias instintivas em defesa da preservação desta mesma integridade,
ainda que ao preço do aparente descontrole.
Naqueles momentos onde os assuntos
sobejam às instâncias circunscritas ao ego, eu “saio do Ser”.
Exemplo:
no trânsito, apesar de dirigir calmamente, ao tomar uma fechada tenho o impulso
de emitir - de boca cheia e saboreando cada letrinha - um xingamento sem a
menor cerimônia. A isto chamo de “uma saidinha do Ser”. Pronto. Passados alguns
minutinhos, volto ao estado calmo e sigo viagem.
Neste
caso, ninguém se feriu e todos ficamos livres, leves e soltos:
1) livres de um acidente iminente que a adrenalina
descarregada impediu, suscitando o reflexo salvador;
2) leves em relação ao peso que ficaria se o rancor não
tivesse encontrado sua mais completa expressão através do impropério esgoelado
sem a menor cerimônia e;
3) soltos por conseguirmos evitar ferimentos físicos e
morais.
Esta
espécie de benesse também pode ser aplicada ao dilema que enfrentamos pela
dedicação a uma atividade remunerada diária em algo que poderia ser
prejudicial, por não estar alinhado com os princípios de solidariedade, de
contribuição honesta, à geração do bem-estar autêntico, genuíno e legítimo a
nós mesmos e ao outro.
Veja
o caso de Nisargadatta Maharaj: um dos maiores expoentes da filosofia
não-dualista, tinha lojas onde vendia cigarros enrolados em folhas. De dia
ele trabalhava vendendo seus cigarrinhos e, de noite, ficava discorrendo, em
conversas bastante instrutivas, com grande conhecimento de causa, sobre as
virtudes, encruzilhadas e armadilhas da natureza humana. Notem que ele vendia
um produto que alimentava o vício do outro, um vício que, comprovadamente,
levaria ao sofrimento e à morte por doença cancerígena. Nem por isso, deixou de
continuar conectado ao manancial provedor de toda suficiência ao indivíduo
humano.
Ora, por que eu, em minhas modestas atividades,
em minhas mazelas, deveria carregar peso na consciência por estar contra
conceitos culturalmente formatados no referente ao modelo de homem que diz ter
atingido compreensão e união com a Suprema Inteligência Amorosa, com Deus, com
Cristo, com Brahman, com Babagi, ou outra qualquer denominação dada a este Algo
Inominável?
Permitam que eu seja absolutamente franco?
Nenhuma culpa vale o peso
da dor imortalizada em detrimento à leveza passível de ser vivenciada por cada
um de nós no contato direto com o nosso Ser Imortal.
LibaN RaaCh
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