domingo, 14 de outubro de 2012

E assim se desencaminha a humanidade...



A única verdade de efeito real sobre as ações particularmente atuantes no agora é a resultante de concepções estritamente pessoais.

Pouco importam as vozes dos Mestres ou dos baluartes da filosofia. (Retoricamente, rendo   homenagem aos Mestres e Filósofos).

A única voz - para quem dou a vez no agora - é a minha. A única vez - para a qual dou a minha voz - é o agora.

O que verdadeiramente tem efeito no meu instante presente é o que está em processo de gestação dentro de mim.

Conceber estados psicoemocionais saudáveis se assemelha a parir.

Reveses sindrômicos da gestação; quais sejam: o enjoo, a ânsia de vômito, as pancadas no ventre, as instabilidades emocionais; tipificam o processo de concepção.

Quem se dispõe a viver esta espécie de gravidez, seja mulher ou homem, assume os riscos sintomáticos resultantes desta escolha e adentra em processo irreversível de gestação, onde nem o aborto e nem o nascimento prematuro são possíveis, nem mesmo ao arrependido.

Enquanto o prazo cabal de gravidez não se cumprir, apesar das alegres expectativas do rebento ou dos reveses envolvidos, a atmosfera gravitacional terrestre poderá causar sensação de peso.

Porém, a proximidade do parto confere novo núcleo gravitacional, isento da gravidade atmosférica pesada.

Quanto menos atraídos por verdades alheias, mais habilitados à apreensão da verdade unificadora, em detrimento de sugestões sutis separatistas nas quais a turba se desencaminha.

Nossas ações, então, ficarão imbuídas de mais humanidade...
E nossos descaminhos, de uma certeza inaudita!!!

LibaN RaaCh

sábado, 9 de junho de 2012

CORPUS CHRISTI



Uma menininha entretida e focada em sua boneca a tiracolo, desapercebida dos obstáculos em sua caminhada, acaba se embaraçando no ramo de espinhos em meio ao caminho.

É assim que podemos classificar os pensamentos tidos por nossos: como um ramo de espinhos.

Neles nos embaraçamos e ficamos sujeitos (melhor dizendo: objetos) a tormentos de toda espécie. Por nos distrairmos em alguma forma de entretenimento, quer seja a dedicação exclusiva ao trabalho, ou o empenho nos estudos, ou o apego ao conhecido, ou mesmo a concentração pela busca, tudo isto se configura como uma bonequinha levada a tiracolo por uma menina.

Tão lesivo quanto um ramo de espinhos, os pensamentos podem assumir a simbologia de uma coroa de flores, uma coroa do mais reluzente ouro cravejado das mais excelentes gemas de safira e esmeralda.

Um dos pouquíssimos dignitários de uma coroa do porte desta autêntica majestade viveu seus dias espargindo compaixão e misericórdia aos miseráveis de toda espécie... e seus dias terminou com um ramo de espinhos em forma de coroa cravejada em sua cabeça.

Nem o fato de ser dignitário de genuína majestade, nem os espinhos cravejados em sua cabeça O entretiveram de uma espontânea e descontraída comunhão de Seus movimentos à regência numinosa pelo Maestro das Esferas.

LibaN RaaCh

sábado, 12 de maio de 2012

Ah! Se os cães não fizessem tanto barulho...

(TRIBUTO AO DIA DAS MÃES)

O sono seria mais profundo e prolongado. Nada pior do que tentar dormir com um cão latindo. Fosse só um, seria bom. Mas e quando são vários latindo ao mesmo tempo? Ninguém merece.

Hoje há uma profusão de cães. Em uma só rua, ou em um só prédio, podemos encontrar uma verdadeira matilha. Cada casa com, pelo menos, um cão. E quando resolvem dialogar, altas horas da madrugada, é um verdadeiro inferno a sinfonia desbaratada de latidos incessantes.

Abstraindo-se desta realidade dura de roer, há uma abordagem menos ossificante: aquela que trata do vínculo.

Ocorre um tipo de vínculo entre o cão e seu dono, entre o dono e seu animal doméstico em geral, para além dos moldes inteligíveis. Porém, este tipo de vínculo é raro. Não acontece com todos os que têm animal doméstico. O filme ‘Sempre ao seu lado’ (título dado no Brasil ao original "Hachiko: A Dog Story")¹ retrata a sutileza deste vínculo. Na versão original japonesa do filme, este retrato é mais fiel e comovente.

Parece haver uma quebra no senso do ridículo. Basta atentar ao modo infantilizado, para não dizer retardado, como alguns donos ‘conversam’ com seus cães.

Calma! Antes de acharem isso uma crítica, permitam que explique.

Se já presenciamos algum ‘diálogo’ entre o dono e seu animal, ou se nós mesmos já prestamos mais atenção quando ‘conversamos’ com o nosso animal, é evidente a falta de bom senso em acreditar que o animal está entendendo as palavras que estamos pronunciando.

Não! Não é pela linguagem verbal que ele nos entende. É por uma linguagem para além das palavras. 

Alguns não conseguem decifrar por que se frustram ao tentarem se comunicar com outras pessoas.

Ah! Agora chegamos a um mistério que poderia explicar, sem justificar, o caos vivido no âmbito coletivo ou particular.

Uma das razões para o caos ter se instaurado no ambiente coletivo, ou doméstico – e quando me refiro a ‘doméstico’ incluo, também, o ambiente subjetivo onde mergulhamos ou somos mergulhados – é que foi perdida a arte da comunicação não-verbal.

Aquele sentido não-verbal de comunicação implica, necessariamente, na falta de censura. Do contrário, o ridículo da situação inibiria a mínima palavra.

Quando inexiste censura naquilo que estamos falando e fazendo, parece haver uma espécie de integralidade naquilo que estamos fazendo ou falando. São momentos quando estamos sendo mais íntegros, mais integrados com nossas emoções e pensamentos e ações porque sabemos que estamos diante de um ser que não nos oferece a menor ameaça, diante de alguém com quem podemos ficar sem o menor resquício de medo.

Nenhum problema há se parecermos ridículos vivendo uma situação como esta. O ridículo, como forma de julgamento, como ideia de baixa estima, desaparece, como desaparece o medo também.

Se prestarmos muita atenção em como estamos – ou como ficamos – ao travar contato com nosso animal doméstico, obtemos uma maneira destravada de nos comunicarmos, cujo acionamento poderá ser feito tão logo trouxermos à nossa consciência o fato de que nenhuma ameaça poderia advir daquele com quem estamos conversando.

É então que este alguém será capaz de nos entender, mesmo se não conseguirmos colocar em palavras tudo aquilo que gostaríamos de expressar, pois a expressão terá encontrado força o bastante para ‘tocar’, para desbravar o contato real.

A mais absoluta convicção da ausência completa de um mínimo traço de medo arrebata o coração e faz seus batimentos alcançarem quem quer que seja, a qualquer distância que esteja.

Este alguém, de alguma forma, interpretará a sensação como um estado único de presença de espírito repentina... e receberá este batimento... e saberá que há alguém ou algo que está, naquele exato instante, batendo forte à sua porta. Mais rápido do que pensamos, abrir-se-á a porta. Abrir-se-á para a entrada deste algo inominável que nos esforçamos em conceituar como Amor.

Talvez, uma Mãe seja capaz de captar esta dimensão... esta incomensurável dimensão...

Apenas talvez!

Pois esta dimensão ultrapassa as fronteiras dos laços de família.

LibaN RaaCh

¹ Errata (para aqueles que leram a versão anterior deste texto): Neste trecho fiz referência, erradamente, ao filme "Marley e eu".



sábado, 21 de abril de 2012

A Roda-Gigante do Parque de Inversões


Um rolimã é composto de uma roda externa e outra interna havendo, entre as duas, um conjunto de esferas alinhadas permitindo que os movimentos de uma sejam independentes em relação à outra.

Assim, enquanto a roda externa está em rotação no sentido horário, por exemplo, a interna pode estar em rotação anti-horária, ou parada, ou no mesmo sentido horário.

Posto isso, podemos nos considerar fixados na roda interna, como se estivéssemos dentro de um veículo. Os movimentos no espaço-tempo da Vida podem ser comparados aos movimentos deste veículo-rolimã. A direção e o ritmo da Vida ditados pelos movimentos da roda externa; enquanto nossas idiossincrasias, nossas susceptibilidades, nossos melindres e todo imenso arcabouço de uma subjetividade individual correspondem aos movimentos da roda interna.

Na relação de uma roda com a outra cabem infinitas variações – tantas quanto o número de seres humanos que viveram, vivem e ainda viverão neste planeta desde o seu surgimento. Nesta relação, a velocidade de rotação, a direção e a nossa posição no interior da roda interna, são as variáveis a considerar.

Por muitas que sejam as realizações em nossa vida, elas ficam circunscritas ao âmbito desta roda interna, como tudo o mais que é percebido por nossos órgãos sensoriais.

Esta é a roda-gigante onde muitos permanecem neste Parque de Inversões que tem sido a civilização.

No âmbito da roda externa, onde reside o comando sobre a Vida e a Morte, ficam as realizações que não podem ser vistas, nem ouvidas, nem degustadas, nem farejadas e muito menos tateadas. E ainda assim, continuam sendo realizações.

Quanto mais integralmente cônscios de nossa unidade com a roda externa, com a imaterialidade, mais fortemente tenderemos a sincronizar os movimentos da roda interna com ela. Sem necessidade de ‘forçar’ esta sintonia. Pois o ‘forçar’ transforma-se, facilmente, em repúdio.

Conforme os movimentos destas duas rodas se alinham, elas tendem a se fundirem naturalmente. E a Roda agigantada se contenta por ficar inserida no verdadeiro Parque de Diversões em que se transforma o Universo.

LibaN RaaCh   

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Confronto Final


Ficamos de tal maneira envolvidos em determinadas situações que temos a impressão de estarmos em uma ‘sinuca’, em ‘xeque-mate’. Suscitam-se, então, em nós, os sentimentos de medo, desespero, ansiedade e desamparo.

Mesmo quando estamos atentos para não aderir às propostas de confronto, torna-se inevitável presenciar atitudes e comportamentos com indícios claros a favor do embate.

Qualquer argumentação oral em situações de semelhante armistício tenso, visando fazer valer um ponto de vista mais próximo da verdade, de nada vale para restituir o estado pacífico mais propício à revelação desta mesma verdade.

Enquanto a onipotência de uma realidade incorpórea predominante estiver fora do alcance de um dos lados envolvidos, as verbalizações – ou outras formas exteriores de manifestação – serão, simplesmente, inúteis. Pois, em meio à tormenta, ouvir o acalanto da imanente bonança é para quem tem os ouvidos fechados aos estrondos da tormenta.

Impossível convencer sobre a substancialidade do arco-íris a quem se encontra embaraçado nas teias de conceitos lancinantes, apesar do arco-íris estar visível a olho nu; contudo, intangível ao tato.

Construções verbais podem conter atributos de originalidade no arranjo erudito das palavras, porém, enquanto não estiverem recheadas de brandura amorosa, estarão desprovidas do seu potencial para serem apreendidas em seu sentido mais numinoso.

Relatos, seminários, encontros ou mesmo ‘satsangs’ podem – até – servirem ao fomento da poção tangível do arco-íris, desde que estejamos embevecidos com o espírito de servidão...

... sim, servidão...
... no sentido mais humilhante contido na palavra ‘servidão’...

Aquele sentido que dispõe de todos os nossos desejos e objetivos e metas a servir... ao serviço da amorosidade. De uma amorosidade impossível de tangenciar por meios verbais.

Quando o Verbo se faz presente, tudo o mais se ausenta.

Na presença do Verbo, a dor se cala.
Qualquer estado enfermiço se cala.
E a vontade de confronto é um estado enfermiço.
A humilhação dá lugar à humildade.

E a saudade dos amigos,
A saudade dos afetos,
Fica... fica feito o som do arco-íris...

LibaN RaaCh

terça-feira, 27 de março de 2012

TRONcho: O desLIGADO



Antes de mais nada, deixo registrado aqui meu apreço ao filme ‘TRON: O LEGADO’, ao qual gostei de assistir e tomo, de empréstimo, o título do filme em bem-humorada versão sem intenções de parodiá-lo.

Agora, vamos ao que interessa...

Desisto. Cansei. Estou profundamente esgotado. Nada mais me importa. Minhas forças todas se decantaram. Caíram ao rés do chão. Pulverizaram-se e o vento as transformou em névoa.

De mim mesmo nada pude, nada posso e nem nada poderei!

Ao processo de separar o mais denso do menos denso dá-se o nome de decantação. Somos decantados seguidas vezes no transcurso dos dias desta nossa existência. O menos denso, depois de separado, submetido à nova decantação, resulta em algo de menor densidade ainda que, novamente, é colocado para decantar. Assim, esta sequência se torna infinita.

As impressões captadas pelos órgãos físicos – elementos de maior densidade – aos poucos, dão lugar às evidências do incorpóreo – elementos de menor densidade. Proporcionalmente à valorização do indiscernível – portanto, do incorpóreo – as impressões dos sentidos corpóreos ganham a cabal demonstração de seus atributos perenes, falíveis e impermanentes.

Atestada a invalidez de julgamentos provenientes de informações dadas pelos sentidos físicos, restei troncho e desligado de concepções arrazoadas.

Quem está no comando do moto perpétuo deste mecanismo de decantação senão uma Onipotência para além das forças de nossos músculos e nervos, para além dos trilhões de sinapses entre nossos neurônios? Perguntar ‘quem’ é inadequado, pois sugere alguma figura antropomórfica e a Onipotência é desprovida de forma preestabelecida.

Pudera ser tão fácil entronizar a Onipotência quanto o conceituá-La...

LibaN RaaCh

“Quando se dirige mal aquilo a que erroneamente chamamos os cinco sentidos físicos, 
estes são apenas as crenças manifestadas da mente mortal, 
as quais afirmam que a vida, a substância e a inteligência 
são materiais, em vez de espirituais. 
Essas crenças errôneas e seus produtos constituem a carne,
 e a carne milita contra o Espírito”.
Mary Baker Eddy  em “Ciência e Saúde; capítulo: A Ciência do Ser”

quarta-feira, 14 de março de 2012

Caleidoscópio Ecológico


Ironicamente, cometemos injustiça ao taxarmos a civilização moderna como antiecológica. Esta mesma civilização nos lembra, diariamente, de nossa semelhança com os peixinhos do mar – pois somos tratados como sardinhas pelos meios de transporte público e particular (vide a fila de latas motorizadas no trânsito) –; somos lembrados de nossa semelhança com as aves do céu, ou, melhor, com os insetos do céu – pois somos tratados como moscas a espantar nas repartições públicas ou no sistema judiciário –; lembrados de nossa semelhança com os animais que andam sobre a terra – ao sermos tratados como burros de carga no trabalho ou como rebanhos a abater nos hospitais e consultórios –; e, para fechar o ciclo de todos os departamentos ecológicos, somos lembrados de nossa semelhança com as matas e a flora – ao sermos tratados como um pomar obrigado a dar frutos aprazíveis à família e à coletividade.

Até aqui, ‘nada de novo no front’, pois estas evidências já estão surradas de tão batidas.

O novo está na deliberação em COMO nos posicionamos diante disso: se como parte deste caos ou à parte dele.

Ninguém, em sã consciência, delibera tomar parte neste caos, de onde podemos concluir que quem toma para si o partido deste caos está com a sua consciência comprometida. Pouco importa se este comprometimento envolve alguma ideia – errônea – de desenvolvimento. O fato primordial é que a integridade da consciência, a natureza íntegra do Ser, fica seriamente comprometida.

Desenvolver-se implica em integrar-se, em favorecer um estado íntegro com a totalidade da natureza humana da qual somos espécimes vivos, da qual ocupamos o topo da cadeia biológica alimentar, o topo no entrelaçamento das manifestações ecológicas departamentalizadas.

Inserimos a abrangência de qualquer ordem macrocósmica nas manifestações microcósmicas de nossa natureza individual na proporção exata em que nos permitimos fluir – feito água cristalina – através das realidades circunstanciais do nosso dia-a-dia. Fluir... sem as convulsões ditadas pelo movimento brusco das placas que compõem o leito destas águas. Do contrário, a impotência será bem mais do que uma simples sensação passageira.

Ainda que se produzam entraves no percurso destas águas, formados de entulhos acumulados pela adesão ao caos, ainda que haja abstenção da qualidade cristalina, nada conseguirá deter a fluência destas águas cujo represamento resultará, apenas, no aumento de sua energia potencial.

LibaN RaaCh 

domingo, 4 de março de 2012

Só 1 ‘Dia Internacional da Mulher’?

[Em homenagem à natureza humana (no feminino); nem homem, nem mulher]

Será possível olhar para qualquer elemento da espécie humana sem, à primeira vista, classificá-lo de acordo com o gênero (homem ou mulher)?

Quantas bocas não seriam alimentadas se conseguíssemos, de uma vez por todas, adquirir a propriedade de um golpe de vista sem resquícios classificatórios de gênero nenhum?

Quantos rebentos deixariam de ficar privados do leite produzido pelo seio materno se arrebentássemos, um por um, com os pensamentos que depõem contra o outro? Mesmo o seio cancerígeno escaparia da mastectomia enquanto fosse livre da dicotomia.

A doença resulta de um disciplinado treinamento que dá vida às criações da mente em detrimento às ‘creações’ do peito.

Quando treinamos a aptidão, própria da natureza humana, em irradiar do peito poderosas emanações gentis e simpáticas, comprovamos o quanto a mente nos mantém detidos, devido ao acintoso treinamento dedicado tão somente a ela no decorrer de nossa formação escolar.

Se o treinamento fortalece, também enrijece; enquanto a falta de treinamento, atrofia.

Mentes enrijecidas e corações atrofiados tem sido a ‘ordem do dia’ durante séculos, séculos de desordem e de poucos relatos de períodos pacíficos.

A quais treinamentos deveríamos submeter esta mente enrijecida a fim de transformá-la, como muito bem disse o confrade Nelson, em fiel servidora de um simples coração... de um coração simples?

Nas minhas aulas de teatro, a diretora Berta Zemel (jamais esquecida por quem a viu atuando como atriz ao menos uma vez) tinha o hábito de dizer, referindo-se à aprendizagem fundamental para quem pretendia exercer a arte como ofício:

     O verdadeiro artista galopa - em pé - sobre dois cavalos. Um, representa a razão; o outro, a intuição.

Claro que este ensinamento pode ser ampliado. O cavalo da razão, sobre o qual um dos pés estaria firmado, seria a mente; enquanto sobre o outro cavalo, o da intuição, onde o outro pé se firmaria, seria o coração. Se na condução destes dois cavalos faltasse vigor ou equilíbrio, deixando um ultrapassar ao outro, o tombo seria inevitável.

Quem viu Berta Zemel atuando nos palcos pode afirmar que ela exercia a excelência deste ensinamento com majestade. Foi através dos ensinamentos dela, desta mulher magistral – que quando questionada quanto à sua nacionalidade ou religião dizia-se uma cidadã do mundo – que eu tive a minha primeira experiência visceral de viver um personagem, de me transportar apaixonadamente para a vivência do universo que é o outro ser humano, de transubstanciar em vida um punhado de falas escritas por um dramaturgo através da voz, dos gestos e da presença.

Quando apreendemos Vida desta dimensão sacerdotal, ainda que por um breve lapso de tempo, este minúsculo ‘grão de mostarda’ entronizado no peito operará como lêvedo, fermentando toda massa dos componentes constituintes de nossa natureza real.

Pouco importa se cedo ou tarde, o maná há de vir, há de vir em abundância...

E tanto o homem como a mulher poderão ser celebrados como pares de uma mesma natureza humana.

LibaN RaaCh

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Chegou sem avisar…


Às vezes, uma visita inesperada traz mais aborrecimentos do que momentos agradáveis porque somos pegos desprevenidos. Mesmo assim, abrimos a porta de nossa casa, convidamos a se sentar e oferecemos o que temos disponível: um cafezinho com bolachas.

Na mercearia perto de casa, enquanto eu comprava uns recheios de sanduíche, uma senhorinha idosa e que mora sozinha, pediu dois pacotinhos de patê e comentou:

    Uma velha amiga foi me visitar ontem. Eu só tinha um saquinho deste patê. Fiz e servi. Ela comeu quase tudo.

    Bom... e agora a senhora está comprando dois... ela vai visitá-la novamente? Emendei em tom amistoso.

Ela me respondeu, brava e severamente:
    Tomara que não!

A gratificação em acolher um visitante na própria casa estaria se extinguindo? Estará extinta a faculdade de compartilhar a companhia de uma visita inesperada, em conversa despretensiosa, entremeada de bem-querer indizível?

Fomos muito mal acostumados em oferecer, apenas, para quem supomos obter algo em troca, enquanto negamos a oferta para quem tem dela precisão. Construímos nossas personalidades através desta troca de moedas falsas.

Fomos mal habituados em tecer conjecturas sobre os aspectos de caráter malicioso que podemos inferir de um gesto ao invés de favorecermos a compreensão em considerações mais amorosas. Fica impossível entremear com o mínimo de benquerença qualquer relação quando estamos tomados por conjecturas sobre, tão somente, aspectos práticos e egóicos.

Enquanto prevalecer o pragmatismo em nós, ser-nos-á negada a apreensão do significado inusitado da frase:

“Àquele que tem será acrescentado e terá em abundância, mas àquele que não tem, mesmo o pouco que tem lhe será tomado”.

Pragmáticos, tenderemos a nos incapacitar a cada dia que envelhecermos... tenderemos a envelhecer incapacitados... incapacitados em comungar de uma conversa simplória, regada a cafezinho com bolachas.

LibaN RaaCh

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Nômade: andarilho sem tempo nem espaço!




"Ali onde estiver, será minha casa. Quem do me lado estiver, será minha família.”

Com estes simples dizeres, terminava o depoimento de um senhor, hoje com 67 anos de idade, que cresceu na orfandade e sem lar. E sobreviveu. Fato inacreditável se não fosse verídico.

O exercício dos princípios contidos nestas duas frases, aplicando-os durante uma semana em nossa vida, atribulada ou não, durante apenas sete dias seguidos de nossas vidas, aplicando-os com devoção silenciosa e profundamente sincera, como se fosse um pano de fundo branco sobre o qual as demais atividades corriqueiras transcorressem, já seria suficiente para proporcionar um estado diferenciado de ser e estar.

E se não fosse suficiente, pois então que se estendesse a aplicação destas frases para mais uma semana... e mais uma... para um mês... para a vida toda, por que não?

A calorosa verdade contida nestas duas frases está apta para abarcar toda uma existência... toda uma existência em humildade, em despojamento, em amor e em fé... na fé simples de uma criança sem teto e sem família!

E todos os tesouros colecionados, o conhecimento, a filosofia, a cultura, as tradições religiosas e místicas poderiam ser colocadas em seu lugar devido: o bolso de trás da calça.

LibaN RaaCh

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Lado a lado

Na praça onde se situa o prédio do Fórum João Mendes, em São Paulo, homens – de terno e gravata – e mulheres – em elegantes tailleurs – buscam justiça esbarrando com moradores de rua, há dias sem banho e com roupas puídas.

À vista de todos – à indignação de poucos – trajes formais lado a lado aos ultrajes sociais.

Nos prédios bem próximos dali, mulheres em roupas sumárias oferecem-se por uns trocados.

Em quais dos prédios vocês acham que há mais garantias do cidadão sair satisfeito?

Em quais prédios vocês acreditam que, em última instância, a função social é exercida de forma mais rápida e eficiente?

O ditado popular “aqui se faz, aqui se paga” aplica-se ipsis litteris muito mais à entrada de uma ‘casa de tolerância’ do que em outro lugar qualquer, pois o gênero humano, em seus confraternos valores, encontra oportunidades mais convidativas para se prostituir em gabinete requintado do que em prostíbulo propriamente dito.

Não por decreto extingue-se o decrépito do convívio social.

LibaN RaaCh

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

À Beira-Mar…



Se tiver a alma assaltada pelo desespero, contemporize... fique com o desespero, aceite-o, olhe para ele, permita a você senti-lo em toda intensidade, como quando – à noite – prostramo-nos sentados defronte ao mar...

...a brisa resvalando por nossa fronte,
...o murmúrio das ondas incessantes penetrando nossos ouvidos,
...a iridescência do luar cintilando no encrespado oceano,

Impossível discernir onde termina o horizonte, onde começa o noturno céu!

Nesta atmosfera à beira-mar...
Enlevado pelas forças da beira-mar...
Acolhidos enternecedoramente pela beira-mar...
Deixe a sensibilidade vir à tona
E contemporize...

Contemporize as surras apanhadas
Através da cinta que assoviava cortando o ar,
Através da mão do semelhante estralando ao encontro de nosso semblante,
Através do ‘não’ de nossas investidas afetivas,
Pelas portas fechadas aos nossos empreendimentos,
Pela notícia de uma filha ou irmã desonradas...

...De tantas filhas-irmãs desonradas, minha Mãe!

A tudo contemporize defronte ao mar aberto,
Defronte ao amar aberto!

LibaN RaaCh

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Fiel Escudeiro!



Andando pelas ruas, fui impactado pela visão de um andarilho, um mendigo em andrajos, dormindo no meio do passeio, no meio da calçada. Cena comum em uma metrópole. Um velho cachorro, com feridas espalhadas pela cabeça e pelo corpo, dormia junto a ele. O mendigo – por temer que lhe roubassem o cachorro, creio – tinha uma das pernas sobre o animal. Só não fotografei aquela cena pelo celular porque considerei uma violação àquele momento de retiro, àquele instante de descanso. O mendigo, nem a esta simples privacidade, tinha direito.

Poderia se inferir desta cena, facilmente, a seguinte conclusão: como um ser humano pode cair tanto?

Sem querer romancear a severa realidade dos fatos, fui envolvido em uma consideração incomum: conclusões precipitadas, advindas de sugestões condicionantes, tendem a nos manter na crosta, nos rudimentos de uma crosta grosseira sem profundidade alguma.

Daquela deplorável cena de um corpo humano e de um animal dormindo juntos no passeio público também se pode deduzir a Unidade e a queda do conceito de queda da dignidade humana.

Quem consegue se apoderar do sentimento de ser um só, mesmo com um animal feito o cachorro, mesmo maltrapilho, está apto a comungar na Unicidade.

Tal aptidão, pelos indícios demonstrados no cotidiano moderno, é algo em franca decadência. Quão mais digno e honrado é aquele ‘farrapo humano’ em unidade com seu ‘cão perebento’ do que qualquer outro cidadão comum? O abismo de quem é maior: do mendigo em andrajos ou do indivíduo que recebe boa instrução, tem boa moradia, veste-se bem e tem boa alimentação, no entanto, opta por praticar um individualismo doloso da mais rasa intimidade com seu semelhante?

Eis uma habilidade (o contato com o íntimo) que, procurada, não pode ser encontrada. É uma habilidade que vem ao nosso encontro... instala-se... e pronto! Tão somente isto.

Uma vez instalada, tal aptidão nos apraz com um escudo inviolável, um escudo dentro do qual matar ou morrer se igualam a comer ou respirar; ou seja, são processos naturais.

(Ressalva: por favor, evitem inferências com toda e qualquer doutrina fundamentalista, pelas quais nenhuma simpatia trago comigo).

Desde que o natural não seja violado, o provimento ao natural é certo e infalível, assim como são certas e infalíveis as mudanças de estações no planeta Terra devidas à sua trajetória orbital. Presto, aqui, uma homenagem à honrada estirpe dos Samurais cujo ato de matar ou morrer, em obediência ao soberano, continha a mesma suavidade do ato natural de respirar.

Porém, a coletividade convertida em manada – pois há os que se recusam a seguirem a manada – tenta, com insistência espartana, violar a natureza em suas mais belas manifestações. E, sendo assim, também, tenta violar a natureza humana, o humano natural.

Violam ao reino mineral, ao reino vegetal, ao reino animal e, inconsequentemente, ao reino hominal. Violam ao soberano de cada um destes reinos violando, assim, ao Soberano dos soberanos.

Aos que tiveram a coragem de tirarem sua viola do saco, fiéis à orquestração de uma sinfonia própria, hauriram o benefício de afinarem o seu instrumento com notas musicais melodiosamente encantadoras, dentro do diapasão inviolável daquele fiel escudeiro: a unicidade.

Em retribuição à magnânima honradez e respeito demonstrados em relação a todos os reinos recebem, sobejamente, o direito ao ingresso no Reino Virginal em virtude de conservarem a virgindade nos seus ideais fraternos, apesar dos andrajos usados para cobrir o corpo, apesar das supostas violações contra a virgindade do próprio corpo.

Mãe, minha Mãe Soberana, Mãe de todos nós, nossa Mãe Natureza, ouso erguer a Vós o meu clamor profano, pois pressinto próximo o dia em que os edifícios construídos pelo homem abissal ruirão em decorrência exclusiva do extremado cultivo deste abismo, desta diáspora a que muitos se deixaram enredar pelo descrédito consciente em relação ao poder da natureza, em relação ao Vosso Poder; por – deliberadamente – desacreditarem no poder de suas próprias naturezas irmãs!

LibaN RaaCh    

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O Elo Perdido

Alguém saberia dizer quando começou a exigência por autenticação em fotocópias?

Quando a palavra empenhada e a presença física deixaram de ser suficientemente autênticas para que fosse necessário autenticá-las através deste explícito descrédito desaforado?

A simples exigência de uma autenticação em fotocópia já evidencia o quanto as instituições depreciam a palavra dada, o quanto depauperam o gênero humano, fato piorado com a exigência complementar de ‘firma reconhecida’. Ficou a cargo de terceiros, desconhecidos, autenticarem como verdadeiro o que está sendo afirmado pelos primeiros em função do pedido de outros terceiros.

Vivemos cerceados por formalidades evocativas da desconfiança mútua, provocativas de procedimentos ‘formais’ com o fito de garantir e validar o cumprimento do que está sendo afirmado.

De nada mais vale uma conversa ‘olho no olho’, principalmente porque nos falta a sensibilidade para reconhecer as verdades enxergadas através do ‘olho no olho’. Há mais interesses em aplicar o ‘olho por olho’ do que no constatar semelhanças através do ‘olho no olho’.

Como, quando e onde perdemos o elo de união com o vizinho, o elo de união com quem se nos avizinha durante os trajetos que percorremos diariamente, pouco importa, pois isto não restituirá o que nos entrelaça a toda creatura viva.

Cingirmo-nos com o anelo da Unidade, da união com todos, livrando-nos dos temores pessoais escondidos debaixo da superfície da desconfiança mútua, no mais compenetrado recolhimento – beirando ao transe do êxtase meditativo – urge!

Ninguém, senão nós mesmos, podemos prestar socorro nesta situação emergencial em que estamos inseridos.

LibaN RaaCh

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Previsão do tempo para hoje

Céu encoberto por nuvens esparsas impermeáveis à luz solar através da densa atmosfera. Altos índices de poluentes, também, contribuem para tornarem o ar menos respirável.

Interesse na obtenção exclusiva de benefícios próprios densificam a atmosfera ao nosso redor, assim como a afetação causada pelo bombardeio sociocultural determinam o nível de toxidez e poluentes em nosso sangue.

Sejamos a frestinha com vista para o Céu, permeando e aquecendo e embelezando em suave existir. 

Frestinha... nada mais... nada menos do que uma frestinha!

Liban RaaCh

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Esperando atendimento


Em uma sala de espera, como acontece em tantas salas de espera espalhadas por prédios construídos pela civilização, estava eu aguardando a minha vez de ser atendido.

Um casal carrancudo com dois filhos pequenos, dois lindos gêmeos, inconformado com a demora, recorreu ao responsável pela ordem de prioridade apelando pela preferência em serem atendidos primeiro em nome dos dois bebês de colo. Após receberem a notificação de que seriam os próximos, o marido esbravejou seu descontentamento ao verificar que haviam passado na frente deles várias pessoas que não pareciam ter nenhuma preferência. Pelo menos, nenhuma das preferências conhecidas de atendimento prioritário para deficientes, gestantes, mulheres com criança de colo e idosos.

À parte da queixa dele ter sido legítima, ou não; uma menininha de uns três anos de idade perambulava pela sala, absorta em seu universo particular.

Logo após o constrangimento generalizado, que a manifestação de fúria do marido causou, a menininha – sem a menor cerimônia – aproximou-se do bebê que estava no colo da mãe revoltada e começou a fazer carinho no rostinho do bebê, balbuciando sons incompreensíveis. Claro que o bebê, inicialmente espantado, arriscou um sorriso, mostrando os dois dentinhos inferiores nascentes. Os pais dos bebês sorriram também, juntamente com a mãe da menininha – autora desta façanha de transmutação – que havia se aproximado deles para ficar mais atenta aos movimentos da filha a fim de evitar maiores constrangimentos.

Em seguida, os bebês foram atendidos.

E o mundo civilizado, dentro daquela sala, recobrou a primazia da paz... da paz que jamais deveria ter sido soterrada pelas regras civilizatórias do mundo adulto.

LibaN RaaCh

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Palavras de efeito


A palavra amplificada pelo estado beatífico de quem a emite surte um tremendo efeito dentro da gente. Uma pessoa pode estar em estado beatífico sem precisar ser, necessariamente, santa.

O estado beatífico ao qual me refiro é algo relativamente simples de se conseguir. Basta recolher-se, mesmo em meio a um grupo de pessoas (em reunião com amigos ou de trabalho), recolher-se psicologicamente a região que inspire imenso conforto e acolhimento. Todos somos capazes de descobrir esta região psíquica onde nos sentimos em profundo estado de paz.

Em cada um, tal região possui um desenho particular: uma paisagem idílica, um aposento pessoal, o rosto de alguém (santo, profeta ou mestre), alguma passagem da própria vida, alguma frase ou texto significativo...

Conforme nos permitimos adentrar nesta região, neste recinto, vamos sendo tomados por um estado único, inédito, de ser e de estar. Um estado inédito vai tomando conta de nós.

Progressivamente, ao nos permitirmos permanecer neste estado único que vai tomando conta de nós por mais tempo, no decorrer de nosso dia, vamos notando como os eventos ganham ares providenciais, vindo ao encontro de nossas reais necessidades, vindo de forma natural e espontânea.

E como nós os recebemos, também, de forma natural.

Através deste estado inédito, deste ‘estado beatífico’, proferimos palavras e ações – ao mesmo tempo – intensas e belas.

LibaN RaaCh

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Não faltou oportunidade...

Temos o péssimo hábito de considerar como oportunidades perdidas as situações apresentadas pela vida onde, se tivéssemos nos comportado de maneira diferente da qual de fato nos comportamos, haveria um resultado melhor para nós mesmos e para nossas vidas.

Há, por trás disto, uma lastimável visão falsa do tempo – como se o ‘hoje’ fosse desprovido de qualquer possibilidade de realização – que esconde algo mais lastimável e mais falso ainda: o profundo descontentamento atual, o profundo sentimento de frustração por acreditar que não fomos capazes de realizar nada, não fomos capazes de conquistar nada (nem uma casa própria, nem a estabilidade financeira, nem estabilidade nos relacionamentos e muito menos um estado de segurança definitiva ausente, também, naqueles que conquistaram casa própria e estabilidade financeira).

Quando se tira proveito de oportunidades sem estar oportunamente amadurecido, como acontece de hábito, ficam implantados conflitos que resultam em luta e violência. Assim, travestimos supostos concorrentes com a máscara de um leão para fundamentar a frase: "temos que matar um leão por dia"! 

O conceito social de oportunidades envolve, somente, as chances de alguém executar determinadas tarefas que, quanto mais tempo ocupam e quanto mais bem remuneradas, consideram-nas ótimas... ótimas oportunidades.

Algo, talvez, esquecido por esta visão condicionada é a absoluta inconsistência em qualquer atividade externa pela permanência de um estado de realização.

Quem vive em função do mais compenetrado respeito à quietude interior obtém nutrientes em todas as seivas... mesmo em cactos espinhosos.

O ponto essencial está em: existe alguma atividade dita profissional que possa ser exercida sem ferir o princípio básico da quietude interior?

LibaN RaaCh

sábado, 21 de janeiro de 2012

Pela janela do décimo andar


Do décimo andar de um hospital, onde fui como acompanhante, olhava eu pela janela e fui absorvido com a seguinte consideração:

O que nos impede de enxergarmos os agravos particulares recorrentes como se estivéssemos olhando para eles do décimo andar de um prédio?

Assim estava entretido por esta questão quando reparei em uma agitação entre motoristas dos carros que trafegavam na rua avistada lá de cima. A julgar pelo dedo levantado e pelos movimentos bruscos de braços e mãos, parecia uma discussão no trânsito – ocorrência tão frequente no ambiente urbano que poderíamos elegê-la como um agravo recorrente.

De onde eu me encontrava, naquela janela do décimo andar, testemunhei aquela ocorrência; sem sentir vestígio algum de ameaça suscitada pelo medo, pois estava protegido nas alturas; e nem a frígida indiferença típica da vertigem produzida pela ilusória posição 'elevada'.

Os instrumentos utilizados – quais sejam as discussões e conflitos – para agravar as nossas condições particulares de vida logram retumbante fracasso se atribuirmos a eles a mesma ordem de grandeza de quando estamos no décimo pavimento de um prédio: tornam-se figuras miudinhas macaqueando gestos e palavras. Por mais que façam, não oferecem a menor ameaça. Portanto, ficamos sem nada a temer... sem absolutamente nada a temer!

É deveras gratificante perceber como a vida corresponde, de forma imediata e elucidativa, em questões cruciais. Se não houve tal correspondência em nossa vida é porque falta, ainda, a investidura crucial na questão que queremos evidenciar.

LibaN RaaCh



"O perigo da vertigem vem da ilusão de que essa sublime posição
seja obra do seu ego personal, vem do erro fatal
de que a pessoa humana tenha creado essa glória
no alto do candelabro ou no cume do monte".

Huberto Rohden

Exame Admissional

Mais do que o receber, praticar o ofertar!

Por mais que se creia em direitos a receber, legítimos ou não, a prática do direito em oferecer supõe uma qualificação para além dos estreitos limites curriculares.

Verbalizar tal qualificação, por melhor elaborado seja o currículo, foge aos moldes aceitos nas corporações ditas empresariais, ávidas em selecionar para competir.

Raros selecionadores estão aptos a reconhecerem tal qualidade, enquanto estritamente focados na objetividade... na objetividade eliminatória do elemento sutil presente nos candidatos e em si mesmos: o subjetivo.

Para muitos, seria o mesmo que admitir a completa invalidez do processo... o quanto esta sistemática é inválida para a preservação de um modo de viver profundamente salutar, tanto em sentido material, quanto psicológico.

Raros... raríssimos... admitem fazer um exame com esta profundidade. O fato de nos negarmos a este exame de admissão, já resulta – a priori – em demissão. Demitimos o compadecido reconhecimento unificador dos detalhes sórdidos ofertados em nossas vidas.

LibaN RaaCh



quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Como foice pelo ar


Respostas vêm com a brisa
A brisa certeira
Que não principia, nem acaba.

Feliz quem está atento
Ao peculiar movimento
Do vento roçando o rosto
Trazendo nem gosto, nem desgosto:

Como entreposto, sussurra ao ouvido
Sábio em auscultar a solitude...

A boa conselheira brisa
Faz-se companheira
E desta simples maneira
Atende à solicitude
Da dúvida que martiriza
A concepção de finitude.

Miríades de teorias vão e vem...
Teorias de combate à pobreza
Seja do corpo, seja do espírito.

Na lufada do ‘insight’ feito vendaval
Foram-se as teorias todas
Foi-se a miséria levando a riqueza com ela.

Foi um vento que passou em minha vida,
Um vento que veio como foice.
Um vento que veio e... foi-se!

LibaN RaaCh



BLOWING IN THE WIND (Soprada No Vento)
Bob Dylan

Quantas estradas precisará um homem andar
Antes que possam chamá-lo de um homem?
Quantos mares precisará uma pomba branca sobrevoar
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim e quantas vezes precisará balas de canhão voar
Até serem para sempre banidas?

A resposta, meu amigo, está soprada no vento
A resposta está soprada no vento

Sim e quantos anos pode existir uma montanha
Antes que ela seja dissolvida pelo mar?
Sim e quantos anos podem algumas pessoas existir
Até que sejam permitidas a serem livres?
Sim e quantas vezes pode um homem virar sua cabeça
E fingir que ele simplesmente não vê?
A resposta, meu amigo, está soprada no vento
A resposta está soprada no vento

Sim e quantas vezes precisará um homem olhar para cima
Antes que ele possa ver o céu?

Sim e quantas orelhas precisará ter um homem
Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim e quantas mortes ele causará até ele saber
Que muitas pessoas morreram?
A resposta, meu amigo, está soprada no vento
A resposta está soprada no vento

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