sábado, 12 de maio de 2012

Ah! Se os cães não fizessem tanto barulho...

(TRIBUTO AO DIA DAS MÃES)

O sono seria mais profundo e prolongado. Nada pior do que tentar dormir com um cão latindo. Fosse só um, seria bom. Mas e quando são vários latindo ao mesmo tempo? Ninguém merece.

Hoje há uma profusão de cães. Em uma só rua, ou em um só prédio, podemos encontrar uma verdadeira matilha. Cada casa com, pelo menos, um cão. E quando resolvem dialogar, altas horas da madrugada, é um verdadeiro inferno a sinfonia desbaratada de latidos incessantes.

Abstraindo-se desta realidade dura de roer, há uma abordagem menos ossificante: aquela que trata do vínculo.

Ocorre um tipo de vínculo entre o cão e seu dono, entre o dono e seu animal doméstico em geral, para além dos moldes inteligíveis. Porém, este tipo de vínculo é raro. Não acontece com todos os que têm animal doméstico. O filme ‘Sempre ao seu lado’ (título dado no Brasil ao original "Hachiko: A Dog Story")¹ retrata a sutileza deste vínculo. Na versão original japonesa do filme, este retrato é mais fiel e comovente.

Parece haver uma quebra no senso do ridículo. Basta atentar ao modo infantilizado, para não dizer retardado, como alguns donos ‘conversam’ com seus cães.

Calma! Antes de acharem isso uma crítica, permitam que explique.

Se já presenciamos algum ‘diálogo’ entre o dono e seu animal, ou se nós mesmos já prestamos mais atenção quando ‘conversamos’ com o nosso animal, é evidente a falta de bom senso em acreditar que o animal está entendendo as palavras que estamos pronunciando.

Não! Não é pela linguagem verbal que ele nos entende. É por uma linguagem para além das palavras. 

Alguns não conseguem decifrar por que se frustram ao tentarem se comunicar com outras pessoas.

Ah! Agora chegamos a um mistério que poderia explicar, sem justificar, o caos vivido no âmbito coletivo ou particular.

Uma das razões para o caos ter se instaurado no ambiente coletivo, ou doméstico – e quando me refiro a ‘doméstico’ incluo, também, o ambiente subjetivo onde mergulhamos ou somos mergulhados – é que foi perdida a arte da comunicação não-verbal.

Aquele sentido não-verbal de comunicação implica, necessariamente, na falta de censura. Do contrário, o ridículo da situação inibiria a mínima palavra.

Quando inexiste censura naquilo que estamos falando e fazendo, parece haver uma espécie de integralidade naquilo que estamos fazendo ou falando. São momentos quando estamos sendo mais íntegros, mais integrados com nossas emoções e pensamentos e ações porque sabemos que estamos diante de um ser que não nos oferece a menor ameaça, diante de alguém com quem podemos ficar sem o menor resquício de medo.

Nenhum problema há se parecermos ridículos vivendo uma situação como esta. O ridículo, como forma de julgamento, como ideia de baixa estima, desaparece, como desaparece o medo também.

Se prestarmos muita atenção em como estamos – ou como ficamos – ao travar contato com nosso animal doméstico, obtemos uma maneira destravada de nos comunicarmos, cujo acionamento poderá ser feito tão logo trouxermos à nossa consciência o fato de que nenhuma ameaça poderia advir daquele com quem estamos conversando.

É então que este alguém será capaz de nos entender, mesmo se não conseguirmos colocar em palavras tudo aquilo que gostaríamos de expressar, pois a expressão terá encontrado força o bastante para ‘tocar’, para desbravar o contato real.

A mais absoluta convicção da ausência completa de um mínimo traço de medo arrebata o coração e faz seus batimentos alcançarem quem quer que seja, a qualquer distância que esteja.

Este alguém, de alguma forma, interpretará a sensação como um estado único de presença de espírito repentina... e receberá este batimento... e saberá que há alguém ou algo que está, naquele exato instante, batendo forte à sua porta. Mais rápido do que pensamos, abrir-se-á a porta. Abrir-se-á para a entrada deste algo inominável que nos esforçamos em conceituar como Amor.

Talvez, uma Mãe seja capaz de captar esta dimensão... esta incomensurável dimensão...

Apenas talvez!

Pois esta dimensão ultrapassa as fronteiras dos laços de família.

LibaN RaaCh

¹ Errata (para aqueles que leram a versão anterior deste texto): Neste trecho fiz referência, erradamente, ao filme "Marley e eu".



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