Com a impressão de termos percorrido um longo e
desgastante caminho, agora chegamos à necessidade de travessia de um largo rio,
e ficamos esperando...
Na esperança da balsa que irá nos conduzir para a outra
margem, onde haveremos de encontrar aquilo que tanto almejamos por toda uma
vida: o termo final dos nossos altos e baixos, das nossas “saídas e entradas do
Ser”, o fim da intermitência no fluxo da bem-aventurança, a nossa Natureza Real
enfim.
Aflitos
permanecemos nesta margem do rio para, a qualquer instante, avistar o barqueiro
trazendo a nau com a promessa de bálsamo definitivo às nossas inquietudes.
Porém, nem ao menos um sinal – ainda que longínquo – há
do tal barqueiro.
E os dias passam... os meses passam... os anos passam...
e o barqueiro não vem. A travessia vai ganhando ares de utopia, de algo
irrealizável, à despeito dos relatos de todos aqueles que já a fizeram.
Conforme a pretensão em avistar a balsa vai perdendo a
acuidade do sentido visual, devido ao decurso dos tempos, devido ao cansaço de
nossas vistas, devido ao natural afrouxamento da agudeza de nossa mente, devido
ao esgotamento de nossos ímpetos, devido ao desencanto em nossas miragens... em
nossas tantas miragens de efeito inebriante... em nossas tão cândidas miragens
de conseqüências amargurantes...
Conforme esta pretensão entra em decrepitude, tem início
um movimento... um movimento tão despretensioso quanto surpreendente!
E desta beira do rio passamos a avistar, no espelho das
águas, a balsa, o bálsamo e o barqueiro a sussurrar:
— Aqui estive sempre... sempre... à espera
desta irrupção!
LibaN RaaCh
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