quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Viva o Desertor!


Quem só consegue sorver alimento para sua alma através da escrita fica fadado a períodos de inanição.
Períodos de seca forjados por todos que nos cercam duvidosos de nossas chances de subsistência, abalando nossa autoconfiança em tal magnitude que interditamos nossas linhas de transmissão por meio das quais éramos inspirados, por meio das quais nossa alma se alimentava.
Temos a impressão de estarmos morrendo então. E tal impressão faz emergir das mais recônditas valas da nossa personalidade as forças mais furiosas em defesa de nossa sobrevivência.
Esta fúria por sobreviver, esta sanha por viver sobre quaisquer circunstâncias supostamente hostis, dita comportamentos impetuosos e desajustados, inadequados e inoportunos.
Tem início, então, um período de luta contínua, de combate ferrenho, de visões peçonhentas onde ameaças são vistas vindas de todas as direções.

Tem início e somente início...

Sem fim determinado, sem previsão de término, mesmo quando as provisões escasseiam, mesmo quando se encerram todas as provisões.
Como se a fúria tida por tanto tempo mantivesse a personalidade em estado de alerta. Como se a ponte entre o Ser e a personalidade ficasse interrompida. Rompida por dentro. Interditada. A tal ponto que esta sanha se impregnasse vorazmente em todos os poros do meu organismo, em todas as facetas deste mecanismo chamado personalidade e ego.
E a fúria, a indiferença, a crueldade, o sarcasmo, a ironia, a inveja – ou seja, as atitudes mais repelentes do sentimento de empatia, do vínculo afetivo enfim – continuasse a se alimentar destas mesmas atitudes repulsivas, num ciclo autofágico, criando raízes tão profundas na personalidade que o completo esquecimento do Ser é produzido, destituindo a personalidade de aptidão para suportar e superar o sofrimento, ou a pressão, ou o próprio aniquilamento.

Entretanto, o combate ferino chega a um momento de exaustão e esgotamento.

É quando o que foi expulso como desertor, o Ser, volta... volta caminhando como sempre caminhou: sem a menor pressa. Nesta mesma cadência vagarosa, lenta, despercebida, invade-nos inadvertidamente.
Quando dela nos apercebemos, a personalidade suscita espasmos reativos por se ver sucumbindo.

Porém, o Ser vem caminhando....
e caminhando...
e caminhando ininterrupta e inabalavelmente.

De tal forma nos abre os braços e sorri que a Ele nos entregamos e nos integramos irremediavelmente. Ele chega e dá cabo definitivo ao combate tomando a frente e exterminando com toda a necessidade de batalha, sem erguer uma arma, sem derramar uma única gota de sangue sequer.

Liban Raach

Um comentário:

  1. Sim Nabil obrigado por sua descrição de uma tentativa impossível, Nunca na verdade viajamos foi tudo um grande mal entendido, quando deixei de ser o que sou?Um momento chega em que rimos de tudo isso, e descobrimos, que nunca saímos de casa este sempre foi o nosso lar...

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