sábado, 23 de julho de 2011

A vida por um fiasco



Quanto do que pensamos e sentimos consegue alterar as realidades ao nosso redor ou, até mesmo, a realidade social em todos os níveis, incluindo o governamental?

Somos, realmente, impotentes e insignificantes em nossa maneira de pensar e sentir, em nosso modo de perceber?

Se nos sentimos impotentes, como não o ser?

Se não somos impotentes, como é possível exercer uma atuação deveras eficaz?

Toda ocorrência no mundo da realidade concreta teve início e formação em nosso íntimo, em nossa abstrata dimensão íntima; ou seja, nos movimentos de nossa mente, de nossas emoções, de nossos pensamentos e ideias, na nossa dinâmica interna (consciente ou inconsciente ou subconsciente ou o ‘raio que o parta’...).

Conclui-se que as circunstâncias de nossas vidas são ditadas, estão subordinadas, estão estritamente sujeitas, aos movimentos de nosso âmago, tendo a nós como soberanos - ou não - neste imenso universo interior.

Entretanto, a concretização efetiva e eficaz das soluções germinadas na dimensão cognitiva necessita de um tempo hábil. Tempo que poderá se estender por dias, semanas, meses, anos, ou mesmo décadas... 
Décadas intermináveis...

Esta lerdeza na implantação daquelas ideias e daqueles mais altos ideais, mina e corrói o potencial manifestado naquele intenso primeiro momento de lucidez e clareza, ocasionando a impressão de que nada está, de fato, mudando como deveria e nada está valendo à pena... E o desencanto generalizado começa a tomar corpo em nós... começa a tomar o nosso corpo... e as doenças do corpo começam a pipocar...e todo frescor, entusiasmo, lucidez se degenera em pragmatismos... começamos a andar lado a lado com a morte e a morbidez dela decorrente... e o sentido de nossas vidas se perde... o próprio sentido e significado de nós mesmos se dilui... sentimo-nos insignificantes e impotentes, desencorajados, até mesmo nas mínimas ações cotidianas (como o simples e infantil gesto de pegar um copo para tomar água)...

Neste estágio, nada mais nos resta senão efetuar o disparo...

Disparo contra opressoras realidades... às vezes, disparo contra a própria cabeça...
Mas, por favor, ainda não...

A isto a cultura religiosa, a cultura espiritual, a cultura social denomina falta de fé, falta de persistência, falta de determinação, falta de força, falta de coragem, falta de amor próprio, falta de estrutura emocional, falta de estrutura familiar, falta ‘do caralho a quatro’!!!

Para o diabo que vos carreguem com todas as vossas faltas!!!

Se nenhum dos seres vivos, se ninguém com quem convivo, sabe – de verdade – o que me falta, por que fazem questão de 'introcharem' em mim as suas porcarias...por que querem encher o meu vazio com as mesmas porcarias usadas para encherem o próprio vazio?

Se houvessem obtido sucesso no preenchimento do seu próprio vazio, a sua simples e silenciosa presença física seria suficiente para inspirar aconchego e amparo, bem-estar e segurança, mesmo a um desconhecido.

Quando não houver mais distinção entre o vazio e o cheio em meu ser, estarei tomado por uma espécie de fluido vivificante em minhas artérias e veias... fluido capaz de suprir, por transbordamento, qualquer desamparado, qualquer desassossegado, qualquer aflito, qualquer desesperado, qualquer desencantado...

...nenhuma forma de prosperidade, então, terá valor...
até mesmo a morte terá seu véu retirado,
e serei apresentado a ela em toda minha magna insignificância.

Neste instante, o disparo da arma - apontada por mim e para mim - sairá pela culatra... minha sobrevivência terá sido favorecida pela substituição do meu sangue ruim por um mísero fiasco daquele fluido. Minha vida alimentada por um fiasco, até sua transformação em corrente contínua.

Até lá, deixem-me com meu vazio!

LibaN RaaCh

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