quinta-feira, 21 de julho de 2011

Encalacrados


Quando nos deixamos convencer da necessidade em prover sustento e conforto a nós mesmos e a nossos familiares ao preço de uma devoção integral a tarefas ditas profissionais, cometemos violência contra nós mesmos.

Quando preenchemos todos os intervalos do nosso dia com alguma atividade, aplicamos chibatadas em nossa aptidão natural em “observar e absorver”, parafraseando Eduardo Marinho.
Quando aceitamos ser adulados por algum feito empresarial ou mercadológico, infligimos açoites em nossas feições ainda humanizadas, feições estas que o grupo de aduladores ajuda a enterrar de vez.

Quando nos deixamos afetar pela neurose no trânsito ou no transporte coletivo, reforçamos a agressividade e a violência contra nós mesmos porque - erradamente - entendemos como falta de alternativa a submissão impotente a estas circunstâncias. Não contentes em nos acotovelarmos no ônibus e no metrô, passamos a nos acotovelar de carro para carro.

Se somos autores destas tantas perversidades, por que estranhar sermos agredidos pelo político e suas maracutaias, ou pelos tribunais e seus prazos perpétuos?

Se o nosso modo de viver está permeado por estes aguilhões auto-impostos, tornando-nos vocacionados a dar espetáculos de faquir, como podemos nos aperceber das invasões subliminares, da absoluta invalidez para o bem-estar social ou pessoal dos espetáculos esportivos, agenciados pela mídia?

A maior graça de um jogo de futebol está em jogar; os demais estão fora do jogo, são peças fora do tabuleiro, aliviando a falta de graça do próprio viver aos urros e com murros. Acrescentam o título de “Burros” à série das agressões. (Esta rima se tornou irresistível – perdoem-me os torcedores fanáticos. Saberão levar na esportiva?).

E a partir destes maus-tratos recorrentes, a animosidade fica profundamente impregnada em nossos modos. Tão encravada em nosso imo que passamos a achar normal o assistir televisão e o enfrentar trânsito diariamente. Não é?


NabiL ChaaR
________________________________________________________________________

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sinta-se confortável para expressar suas impressões aqui. Receberei com grande alegria e retornarei o mais rápido que puder. Abraços fraternos.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Agradecemos pela sua indicação!

Top Ten (as 10 postagens mais vistas)

Aos Visitadores

Aqui não há seguidores. Quem aqui vem e permanece, não segue a nada nem a ninguém.
Aqui há VISITADORES.
Recuso-me a chamá-los de 'companheiros' ou 'acompanhantes'
pelo significado pejorativo ganho por estes termos em anos recentes.

Bem-vindos

Visitadores