sábado, 23 de julho de 2011

Dom Quixote de Serventes

(paródia ao título da obra "Dom Quixote de La Mancha"de Miguel de Cervantes)


As confortáveis instalações em que vivem alguns, diante de muitos em desconforto, é uma afronta. É um desaforo. É uma ofensa. Uma agressão.

É inconcebível a partilha de um mesmo espaço físico entre entes confortavelmente instalados (ostentando excedente luxo) e outros instalados de forma precária, ou insuficiente, ou sem instalação nenhuma. O espaço físico tema dessa reflexão são as áreas públicas por onde, obrigatoriamente, passam - desde o mais abastado dos seres vivos até o mais miserável dos andarilhos. A tensão produzida na existência destas duas disposições físicas leva a um confronto, a emudecidas ações de prevalecimento de uma sobre a outra, pois que é impossível a coexistência mansa e pacífica destas disposições contrárias.

Enquanto houver um único ser, inofensivamente maltrapilho, alguém de cuja existência tomamos conhecimento através de uma olhadela tão rápida quanto indiferente, para evidenciar o modo de vida deliberadamente materialista, haverá guerra para destruir este ser. Pois este ser maltratado personifica a iniqüidade de nossas ações. Enquanto existir um único ser em estado de desconforto, tudo que fizermos acreditando estar favorecendo a posse de condições para o nosso conforto será em vão.

A conquista de um estado de conforto real e legítimo está estritamente ligada ao conforto alheio, seja ele nosso vizinho ou morador de outro extremo da Terra.

Somente o embrutecimento voluntário pode nos dar a falsa impressão de segurança e conforto através de bens adquiridos. Não sei como designar o rompimento da comunhão entre nós, seres da mesma espécie, sem denominá-lo ‘embrutecimento’. Somente uma deliberação individual profundamente decepcionada com a natureza humana tem a capacidade de nos embrutecer e formar a mais completa indiferença ao sofrimento alheio.

Somente a nossa rendição ao objetivo de reter benefícios ilusórios imediatos pode aniquilar a nossa natural disposição amorosa. Enquanto houver pessoas fragmentadas sedentas por obediência e direção, ávidas por um salário, haverá quem queira tirar proveito delas ao seu bel prazer. Haverá quem queira dirigí-las. Eles decretam, assim, o aniquilamento dos talentos individuais e a perpetuação de figuras despóticas nas diversas áreas de nossas vidas (social, religiosa, educacional e doméstica).

Quem queira a anormal bravura de ser e viver sem fragmentos rompe, naturalmente, com este modo de vida contemporâneo, comprovadamente ineficaz na sustentação do contentamento.

Rompe... sem fazer guerra. 
Sem competir, nem polemizar.
Sem passeatas, nem rebeliões. 
Sem alarde, nem bandeira.

Torna-se um Dom Quixote 
a serviço da 
unificadora disposição natural amorosa.
Um Dom Quixote servente!

LibaN RaaCh


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