Eh! Breve viver.
Morrer demora; é demorado morrer; como demora...
Estou cansado de brevidades. Por que tudo se tornou breve, abreviado, repleto de abreviaturas: RG, CPF, CNPJ, SPC, INTERNET, TI, PC, CPU, HTT, GB, GHz, etc. ?
Quero forjar um crime e quero que, breve, chamem a viatura da polícia e quero ser pego em flagrante e, ao reagir, tomar um tiro... um único tiro no peito... pulverizar este aperto no peito... explodir com ele!
Como nos filmes, como em uma sessão de cinema, onde a vida tem seu começo, meio e fim em um intervalo de 2h; onde tudo o que tem que acontecer em uma estória acontece neste intervalo sintetizado de apenas 2h. E saímos da sessão com a promessa de que nossa vida trivial será, ao menos nas emoções, parecida, verossímil.
Como dizia o trailer do filme: BREVE EM EXIBIÇÃO...
Por que o intervalo entre o berço e o estado de plenitude tem que ser maior? Não, não tem que ser maior! Chega de adiamentos para só viver em breve, quando chegarem as férias, ou quando chegar o final de semana...A promessa é que seja rápida e alegre e cheia de ações. Que se cumpra a promessa! A promessa de viver e não morrer.
De novo, a morte...
A morte demora a chegar. Quando não, chega por acidente. Hoje mesmo, neste instante, neste exato segundo, posso concluir que a vida não tem nem sentido, nem significado e, portanto, quero morrer. Posso decidir isso. Se desta decisão até a hora extrema, resistir a qualquer ação suicida, posso levar anos... anos intermináveis... até morrer!
Como demorar nas breves sensações de completude, de autossuficiência, de brandura e leveza? Como demorar nas breves disposições de bem-estar?
Com a morte. Infundindo morte. Impingindo a morte.
Ela...de novo... ressurgindo feito fênix!
Quando a vida recebe a morte em estado de fusão, em transfusão, vem com ela a brandura, a quietude... assim fica, assim demora, assim dura... A doce demora do nada, do vazio, do vazio indolor. Porém, sem sabor; insosso. Porque viver com sabor implica em dor também.
Não, não quero. Nem sabor, nem dor. Como a água quero: inodora, insípida e incolor. Quero este vazio. O vácuo. Flutuar no vácuo, não em queda livre – que de livre nada tem, só de queda – em um buraco sem perspectiva de fim.
Suspenso... no vácuo, é possível ultrapassar esta fronteira, esta região fronteiriça da ambivalência, da dicotomia, da síntese. É possível celebrar a vida! É possível...
Estou farto de possibilidades!
LibaN RaaCh
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