sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Refastelar-se de comer e beber!


Durante os festejos, nas datas festivas, qualquer data festiva (final de Ano, Natal, Páscoa, etc.) se conseguirmos nos abstrair da alegria ruidosa e frenética e momentânea, própria destas datas comemorativas, sem que esta abstração seja forçada ou proposital, ficaremos envoltos em um tênue halo através do qual seremos conduzidos a um estado de ausência... de ausência das afetações típicas destes festejos... ausência de gravetos inflamáveis desta fogueira de vaidades.

Ao exercermos – com a máxima integridade, sem receio de desaprovação – a escolha de nos entregarmos a este estado de ausência, finalmente conseguimos comungar do que existe de mais volátil no rebolado insinuante desta chama comemorativa.

E ao comungar nesta chama da celebração... ao celebrar nesta comunhão, sentimo-nos inteiros, ficamos inteiramente presentes e embevecidos nesta volatilidade festiva inespacial e atemporária.

Qual dia do ano... qual o dia do ano não seria digno de conter esta inebriante festividade?

LibaN ChaaR

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O Graal que não é santo




Gosto de me sentir abrigado. De estar em lugar que tenha quietude e privacidade. De ter um lugar para ficar sem ser incomodado. Um lugar para ficar tranquilo, sem ninguém a me dizer o que devo, ou não, fazer.

Sei o que devo fazer. Conheço os afazeres prioritários. São eles o estar de bem comigo mesmo e de bem com o Supremo, com a Suprema Inteligência Amorosa.

Todos os demais afazeres, no fundo, buscam este resultado. Se já tenho este resultado, por que me preocupar com outros afazeres?

Ao estar em paz comigo, a perturbação existente no outro o deixa inconformado com isto. Interpreta como passividade, como acomodação; e se pergunta:

— Como é possível a uma pessoa como ele (eu, no caso) viver em um estado de tranquilidade e acomodação, sem nenhuma garantia de um futuro promissor, sem nenhuma dedicação em busca de um futuro promissor, sem dedicação a futuro algum; enquanto eu (ele, no caso, o perturbado) vivo tendo mil e uma coisas para fazer, para serem feitas ainda, até que tenha condições suficientemente seguras para conseguir me acomodar em uma realidade repleta de animosidades?

É inadmissível ao nascido e criado sob um contexto beligerante a existência de alguém capaz de estar tranquilo sob o mesmo contexto. A insurgência de uma necessidade entranhada de aniquilamento desta tranquilidade é quase inevitável. De fato, a coexistência de alguém aquietado é uma ameaça ao modo de vida agitado, inquieto e cheio de incertezas, ao modo de vida voltado a aquisições que buscam suprir os sentidos físicos, que buscam saciar os sentidos orgânicos através dos próprios esforços.

Conforme há a recompensa no processo deste modo de vida – pois é típico do mundo material recompensar esforços voltados a adquirir as coisas dele – ocorre o fechamento do ciclo, do ciclo antropofágico, no qual tendemos a permanecer indefinidamente...

Até sermos impactados!

Na maioria das vezes, a ação impactante procede de um acontecimento adverso, violento, traumático e profundamente doloroso. De outra forma, não serviria ao seu propósito.

O cálice onde nos é ofertada esta bebida amarga, pode ser quintessenciado em Graal para o despertar de nossa divindade!

Felizes os traumatizados; estão a centenas de passos à frente dos considerados sãos pela conquista de um porto inabalavelmente seguro.

LibaN RaaCh

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Luzes da Ribalta




Amanheceu.
Ergueram-se as cortinas: as pálpebras se abriram. O show vai começar.

Tem início mais um dia...

Mais um dia onde deixarei estes meus ossos revestidos de carne, estes sustentáculos de uma aparência humana, expostos a outros ossos, a ossos inanimados, aos ossos do ofício.

As disputas por reconhecimento em troca de remuneração causam, no princípio, orifícios imperceptíveis em cada osso exposto. Orifícios do ofício.
Os primeiros ossos perfurados localizam-se no tórax, na altura do peito, minando improváveis emanações de afeição e ternura.

E, assim, vão sendo quebradas cada uma das costelas na caixa torácica aonde o coração e os pulmões se abrigam, aonde o bombeamento da vitalidade e o purificador de nosso ar vão sendo desvitalizados.

Ao término do dia, quando as cortinas se fecham, quando cerro os olhos, verifico – alquebrado – quão cansativo foi empreender meus esforços mais honestos em defesa do ganha-pão.

E, ao final, convencido de haver dedicado as melhores luzes aos anos da ribalta em minha vida, quem sabe poderei me retirar ao descanso merecido...

Quem sabe...?

LibaN RaaCh

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Receita da Vovó

O sofrimento que parece interminável é fruto de um desejo de sofrer sozinho. Quando nos abrimos para o sofrimento alheio, a proporção maior do sofrimento no outro torna nosso sofrimento menor.

Mas, por que deveria eu me abrir ao sofrimento alheio quando mal consigo conviver com o meu próprio sofrimento?

Enquanto ainda permanecermos neste paradigma, o melhor mesmo é ficar ‘curtindo’ o próprio sofrimento.

‘Curtindo’... como se faz ao depurar um molho de tomates.

Deixa-se o molho em fogo baixo para que a ação contínua e lenta e suave do fogo elimine os excessos que deixariam o molho aguado. Como a abrasante mágoa faz emergir lágrimas embargadas na garganta. Como as lágrimas escorridas eliminam os nós na garganta e depuram as intragáveis mágoas que nos queimam por dentro.

Neste Natal, junte à sua solidão a solidão do outro e viva o milagre da comunhão.

A pitadinha de açúcar para quebrar a acidez do tomate – segredo da boa cozinha, segredo da receita da vovó – é dada na partilha honesta de nossa mais profunda e solitária dor com alguém de escuta verdadeiramente solidária e isenta de julgamentos.

LibaN RaaCh

domingo, 18 de dezembro de 2011

Quem me dera ouvir o canto do Uirapuru…

(dedicado a todos os buscadores do canto do Uirapuru)


Pudera ser capaz de infundir, em todos os seres vivos, ao menos nos mais próximos, ainda que por apenas um milionésimo de segundo, a flâmula do Eterno que gorjeia em segredo, feito o canto do Uirapuru. Neste milionésimo de segundo seria implantada a semente... a semente que modificaria os dias vindouros para sempre!

Entretanto, nem aos prediletos o Supremo dotou com tal capacidade. O que os diferenciava era a habilidade em tornar os indivíduos sobre os quais focavam sua atenção plena, sencientes (cientes, de um só golpe, com todos os cinco sentidos físicos) repito, sencientes desta flâmula do Eterno.

Muitos que tiveram oportunidade de estarem próximos a eles, mesmo assim, guardavam distância de si para si mesmos. Próximos a eles, os prediletos, os convencionalmente chamados de prediletos por suas corajosas escolhas em prosseguirem, por toda uma vida encarnada, obedecendo – unicamente – à “voz interior”. Assim aconteceu a Gandhi, a Sidarta Gautama, a Nasrudin, a Jiddu Krishnamurti, a Joel Goldsmith, a Huberto Rohden, a Jacob Boheme, a Eliphas Levi, a Sri Ramana Maharshi, a Rumi, e ‘dezenas’ de outros não conhecidos por optarem pelo mais insignificante anonimato. Não me arrisco a dizer ‘centenas’, pois creio que se houvesse um cento deles... um cento apenas... um mísero cento, desprezível em meio a sete bilhões... vivendo num mesmo tempo, seria suficiente à elevação generalizada das faculdades humanas a outro patamar, ao predomínio inexorável da misericórdia e da compaixão!

Em analogia à física elementar, no referente ao fenômeno corpuscular ondulatório da luz, uma onda obtém intensificação ao encontrar outra onda na mesma direção e sentido.

Qual a direção e o sentido nós estamos tomando em nossas vidas...?

LibaN RaaCh

sábado, 17 de dezembro de 2011

A cada um, seu quinhão!


O que mais admiro nos outros é o sincero desejo, a vontade indisfarçável, em ajudar. Algo que não é passível de dissimular. Esta constatação ganhou clareza inédita especificamente hoje, enquanto estava – de manhãzinha, lá por volta das 6h – tentando continuar dormindo.

Foi-me mostrado que, por causa desta minha severa inclinação, sempre tive comportamentos taxados como rebeldes no decorrer da minha vida.

Achava absurda a atitude evidente e preferencial na defesa de interesses exclusivamente pessoais. O convívio com pessoas que tinham atitudes acintosamente egoístas me deixava inseguro e incerto.

Nos dias de hoje, tenho feito questão de cultivar o convívio com pessoas nas quais eu sinta esta disposição sincera e despojada em ajudar o outro.

A minha presença, eu a tenho compartilhado com pessoas deste calibre. Com pessoas dispostas a desenvolverem esta calibrada potência humana. As outras pessoas, com quem tenho evitado conviver, fizeram suas próprias escolhas muito antes de minha chegada a este mundo. Após estas escolhas serem reincidentemente confirmadas em atos, em comportamentos e em atitudes, resta, a cada um, conviver o resto dos seus dias com as escolhas feitas, procurando não ficar estagnado pela culpa. Que cada um fique com seu quinhão.

De minha parte, faço questão de confirmar a mim mesmo a minha escolha em oferecer a partilha do meu convívio, em oferecer a minha mais profunda amizade, a quem pressinto esta devotada solidariedade – ainda que minimamente manifestada – esta atitude desapegada em querer (com todas as suas forças disponíveis até o presente instante) beneficiar o outro.

O outro que, na maioria das vezes, encontra-se em região absolutamente inacessível ao mais poderoso dos mortais e que, no entanto, está ali... bem perto de mim... do meu lado... ao alcance da minha mão... mas que, tão somente, a mão imbuída da mais completa nulidade de interesses pessoais pode alcançar com seu toque.

Para isto é preciso possuir... ou estar possuído (‘estar possuído’ descreve melhor esta Dádiva da Graça) de uma potência humana que suscita a seguinte convicção:

         —Estou revestido com a impermeável capa de amor incondicional e sou capaz de dar um pontapé na porta do Inferno mais profundo e esquecido em amparo a alguém!

A quem foi dispensado um tratamento deste sagrado calibre, este alguém guarda – no seu mais secreto íntimo – a potência de dispensar este mesmo tratamento a quem dele tiver real precisão.

Quantos de nós, eu pergunto, quantos de nós podemos afirmar possuir uma amizade tão incondicionalmente amorosa detentora desta sagrada potência?

Eu, particularmente, conheço duas pessoas que vivem esta postura sacrificial de um em relação ao outro (Nelson e Deca). O quanto um iria até o inferno mais denso e pesado, não só em nome do outro, mas, também, em nome de qualquer um outro que precisasse, que realmente precisasse...

Partilhar o convívio com pessoas deste calibre é privilégio... privilégio de quem ousou fazer escolhas de semelhante padrão sacrificial!

LibaN RaaCh

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

"C’est la vie" é isso?

Tendemos a adotar uma maneira de ser e de fazer, uma maneira de pensar e de sentir, uma maneira de agir, ou reagir, ou nem uma, nem outra.

O comum nestas tendências é que elas estabelecem a nossa identidade. Com minha identidade posso afirmar que sou alguém, ou que sou ninguém, mas que sou alguma coisa porque não suporto a ideia do ser nada.

A esta ideia do nada, a esta sensação do nada, do vazio, é que devo devotar minhas mais altas honrarias, pois ela é a essência do que sou em verdade e em natureza real. Mesmo se contra ela eu faço coisas a título de “tapa-buraco”. O buraco será tapado; mas, dentro em pouco, ele reaparece porque o material usado para tapá-lo não tinha qualidade.

Qual material está devidamente qualificado a tapar o buraco?

Nenhum. Porque o buraco não é de natureza material. Apesar de haver no mundo sortimento insaciável de material para funcionar como tapume.

O uso contínuo destes materiais conduz, infalivelmente, ao entibiamento... à tibieza e nada mais. Conforme vamos ficando mais e mais entediados com o uso de material inadequado para tapar o nosso buraco, acreditamos que chegaremos a um ponto extremo em que não haverá mais saída, senão o tapamento definitivo do buraco.

Contudo, este ponto extremo tem a propriedade de ficar sempre um pouco mais além de onde já chegamos. E o tamponar definitivo fica adiado... e adiado...

É possível que fique por uma existência inteira adiado... (Como é possível dizer que uma existência pode ser considerada inteira com a realidade de um buraco enorme a céu aberto?)

Nem mesmo os insistentes apelos aos céus conseguem encobrir o buraco em definitivo. O que estes apelos proporcionam é uma ponte sobre o buraco. Mas a ponte é levadiça. Quando menos esperamos, ela não está abaixada para que passemos.

A impressão que eu tenho é que a existência encarnada se assemelha a um percurso espiralado —cheio de buracos— pelo qual somos forçados a caminhar; algumas vezes, caindo nos buracos – quando a ponte não está abaixada – outras vezes, passando imune – quando a ponte levadiça se apresenta.

É só isso mesmo?

LibaN RaaCh

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Sustentabilidade


A Justiça é algo a ser recordado diariamente. Recordado como a atuação de energias para ajuste das formas de vida envolvidas no assunto em foco pela tomada de consciência de nossa Unidade.

É esta tomada de consciência de nossa Unidade o foco da Justiça, da Justiça para além dos tribunais humanos.

Esta tomada de consciência da Unidade traz o sentimento de realização de nossas faculdades ulteriores. Quando a realização deste sentimento é intensa o bastante, extrai – pelas raízes – todas e quaisquer vontades precipitadamente elevadas a alto grau de importância, em detrimento do solidário amor, da solidariedade assumida de maneira tão suave que transpira amor, que nos transporta a estados alterados de percepção, sem que isso signifique alienação ou fuga, porém refúgio.

Refúgio na preservação de nosso estado harmônico, à parte de cobranças, à parte de sugestionadas exigências em nome da autonomia e independência.

Neste estado harmônico, de bem-estar autêntico e descontraído, de leveza no reconhecimento das forças atuantes dentro e fora de mim, é que reside a sustentabilidade em seu formato mais simples.

Se uma força atuante predefinida pesar mais do que outra, o fiel da balança tenderá a algum extremo e o resultado será um comportamento insustentável.

Enquanto eu não conseguir aplicar este modelo mais simples de sustentabilidade no meu modo de viver, esforço institucional nenhum será capaz de garantir ações sustentáveis, não concordam?

LibaN RaaCh

domingo, 11 de dezembro de 2011

Saneamento Básico

Fui fazer uma caminhada para movimentar o esqueleto.
Impressionante como uma caminhada ao acaso consegue desanuviar o coração da gente. Deve ser por causa das endorfinas e dopaminas liberadas pelo movimento.

Água que permanece muito tempo parada torna-se insalubre. Fazendo analogia aos fundamentos (valores e crenças) de uma existência, podemos imaginar quanta insalubridade não fica depositada nestes fundamentos há tanto tempo parados, encravados nos mais profundos poços (melhor, ‘fossas’) da nossa alma.

A menos que nos prontifiquemos à realização de um trabalho de saneamento destas fossas – este, sim, um verdadeiro trabalho de saneamento básico – continuaremos a cultuar o distanciamento de um ser humano para com outro ser humano.

Toda crença ou valor, toda postura ou atitude cujo fundamento – implícito nas entrelinhas – sugere distanciar um ser humano de outro é passível de saneamento.

O automóvel tem sido usado como um dos principais veículos deste distanciamento, através do culto ao status.

Quanto mais caro o carro, mais raso o contato.

O carro tem sido cultuado como objeto de demonstração do poder aquisitivo que, traduzido em linguagem do povo, significa poder repulsivo. Poder de repelir a proximidade de um membro do povo, poder para manter distante de si qualquer representante do povão. (Por favor, excluam-me de qualquer doutrina sócio-econômica).

Basta ficar atento às entrelinhas das mensagens publicitárias sobre carros.

As mensagens tendem a nos transportar a lugares distantes... longe de toda aglomeração... longe da massa informe... da massa deformada... longe da mais vaga noção de que somos ‘Um’ com essa massa. Apregoam a noção de que somos ‘Um’ destacados desta massa, separados (Graças a Deus!) da loucura desta massa.

Pai, perdoe-os! Eles precisam de um transporte que traga a ideia, ainda que falsa, de segurança; pois desconhecem suas capacidades inatas de se transportarem a instâncias verdadeiramente seguras.


Já que estamos falando em veículos, por que não dar uma olhadinha nas coisas que estão sendo veiculadas também?

Vejamos as notícias veiculadas diariamente - outro estimulante do distanciamento. Nenhuma contém substância nutritiva, porque em nenhuma forma de divulgação de notícias existe a preocupação em nutrir. Raras são ditadas por pessoas que, por trás de seus encargos profissionais jornalísticos, deixam transparecer uma sincera e honesta compaixão nutritiva.

Por isso, mesmo sem assistir ou ler jornais e revistas é possível manter-se atualizado com o que há de mais crucial. Jornais e revistas tratam apenas de fatos. O mais crucial ultrapassa a barreira dos fatos, a barreira da colocação imparcial e impessoal dos fatos, pois o mais crucial é que os fatos foram realizados por gente, por gente como a gente, por gente da massa, por gente desta mesma massa que compõe o povo, que compõe o povão, desta massa da qual somos constantemente estimulados a manter distância.

Os fatos foram realizados por gente e estão sendo relatados por gente. Pronto. Esta é a notícia mais crucial. Gente como eu e como você.

Enquanto os fatos forem tratados como ocorrências pertencentes a um universo distante, alheio e alhures, a minha atualização dos fatos ficará nivelada por baixo. Será rasinha, rasinha...

À sucessão interminável de fatos precede uma sucessão de movimentos internos em cada causador daqueles fatos. O ente causador daqueles fatos é – adivinhem! – uma pessoa, um ser humano, é gente como eu e, como eu, sujeita aos mesmos movimentos de energias intrínsecas.

Se eu estou atento às energias intrínsecas em mim, estarei sempre atualizado. Arrisco-me a dizer que, além disto, estarei ciente do que pode vir a acontecer e posso me antecipar ao fato, habilitando-me aos “furos de reportagem” ao invés das “reportagens furadas” por meio das quais se perde a seiva nutritiva da aproximação e fica, apenas, a faceta interruptiva do distanciamento.

LibaN RaaCh

Eis-me aqui!

Depois de um trabalho intenso e ininterrupto, concentrando atenção aos movimentos internos (no âmbito mental e emocional) suscitados por circunstâncias, fatores e pessoas; hoje me encontro em região intransponível pelas minhas próprias forças.

Acredito ter atingido um ponto – na infinita senda da evolução – onde nada mais há para ser acrescentado no referente à observação de mim mesmo em relação às situações vividas. Nisto há reconhecimento dos meus limites, nenhuma glória...nenhuma glória vã...

“Um olho no padre e outro na missa” já não desvela nada de novo, pelos anos devotados a dissecar o padre e discernir todos os elementos da missa.

Parece que estou de frente a uma escada que leva a um alçapão, porém nem a porta do alçapão está aberta e nem a escada está disponível. E ao voltar-me para a paisagem que se me apresenta neste patamar onde me encontro, nada há de atrativo. Nada que tenha ‘pegada’ profunda e inédita.

O mundo tem exemplos, ainda que raros, de pessoas que manifestaram obra original após terem chegado à posição semelhante em que eu – e muitos confrades – estamos. Obra de proporções tão originais e abarcantes das forças envolvidas no moto-contínuo da evolução humana que consegue tocar cada uma das almas viventes deste orbe.

E este toque vem de encontro a algo presente no âmago de cada um, a algo inacessível pelas vias delimitadas por padrões culturais. Por isso, a totalidade dos autores de obras desta proporção tem histórico atípico e fora de série. Pois é impossível desvelar a via de acesso universalista seguindo padrões.

Estamos em região fronteiriça onde, enquanto reles mortais, resta-nos, apenas, cultivar a atitude de receptividade para quando houver a abordagem convidativa. Que este convite nos encontre aptos em reconhecê-lo e, mais além, suficientemente corajosos em aceitá-lo, pois será nossa passagem pela fronteira da imortalidade.

Esta é uma passagem que se atravessa sozinho...
Absolutamente só e nu...
Despojado, até mesmo, da mais vaga intenção em ser autor de alguma obra original.

Quantos de nós podemos afirmar que estamos prontos?

LibaN RaaCh

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Diante do Imutável, emudecer!

Diante de quem já tem uma opinião formada, implacável, calar-se.

Calar-se de todo!

Aos lábios fechados acrescentar o calar dos julgamentos, o calar da recriminação e do pouco caso. Porque temos a tendência descontrolada de, mesmo de boca fechada, continuar debatendo de forma compulsiva em nossa mente.

A interrupção deste debate exaltado, de si para consigo mesmo, desta discussão com os próprios botões, dá-se através da nossa cientificação de que “de nós mesmos nada podemos”.

“De nós mesmos nada podemos!”

Ainda que no começo desta cientificação haja resistência e revolta, chegará o tempo em que ela acontecerá de forma instantânea e espontânea.

Neste tempo, diante de realidades aparentemente inalteráveis, seremos agraciados – alguns, alguns poucos – com a capacidade de, além de emudecer, umedecer também... umidificar...banhar estas realidades com a umidade natural que brotará dos olhos... de olhos que souberam enxergar e calar!

LibaN RaaCh

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Nascida para brilhar!

Vim para fazer reluzir quem tem brilho a oferecer e para ofuscar o tosco, o grosseiro, o rude, o bruto e o chucro.

O lápis concede aos escritos dizeres, assim como as ações – ou a ausência delas – concede Vida aos viveres. Porque é possível possuir Vida na ausência... na ausência de ações. Na ausência do que acreditamos ser, na ausência do que acreditamos ter.

Nada do que acreditamos ser, ou ter, realmente nós somos, ou temos. Pois o que realmente somos, ou temos, está concentrado em uma instância, em uma dimensão, excluidora do atributo “acreditar”. No “acreditar” cabe a dúvida. E a dimensão do Ser é uma realidade fenomênica destituída de qualquer dúvida.

Enquanto houver a dúvida, enquanto prevalecer a voz questionadora, esta encobrirá a voz libertadora, a voz da quietude, a voz que diz “Aquieta-te e sabe”.

A voz da quietude é improferível por qualquer viva alma da crosta terrestre.
Não a haveremos de encontrá-la nem aqui, nem em ninguém.

É esta voz que faz reluzir quem tem brilho. E todos têm brilho. Ela que é nascida para brilhar, à despeito de nossas grosserias e brutalidades, à despeito do nosso ofuscante desespero por tudo que reluz.

LibaN RaaCh

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A Cura

Cena na porta de um hospital:

Um jovem casal de mãos dadas a uma criança, uma menininha de uns três anos de idade – em roda – dançavam na entrada externa de um Hospital, obedecendo à regência da menininha. Agachavam-se em determinados momentos.

Eu, à distância, não pude deixar de apreciar aquela cena, atraído pela atmosfera de inocência que os envolvia. Mesmo sem ouvir o que cantavam, pois cantavam baixinho, talvez para não incomodar a pressa dos transeuntes e, também, porque o barulho dos carros encobria qualquer som.

Creio que cantavam alguma versão reduzida de “ciranda-cirandinha”, pois se agachavam após menor número de voltas.

Aquilo me lembrou de uma passagem na vida de Ramana Maharshi, contada por um amigo, onde uma mãe, desenganada pelos médicos (ou deveria dizer ‘enganada’?), levou um filho até ele, um filho que tinha uma doença incurável.

Ao aproximar a criança para junto de Ramana Maharshi, este ficou a brincar com ela... ficou simplesmente a brincar com ela... a brincar e nada mais. Quando Sri Ramana devolveu a criança à sua mãe, nada além da Essência Pura estava presente, da Essência que não se deixa macular por quaisquer disposições hostis. A mãe, após exames médicos, comprovou a cura.

Imenso valor imerso se pode aferir disto:
Diante do rigor de nossas posturas severas, temos relegado à segundo plano a maestria de composições esmeras...
Composições feito ingênuas cantigas de roda, esguichando suavidade aos borbotões!

LibaN RaaCh

Raio que vai, raio que vem...

Ó... raios que me partam!
Que partam de mim para você e de você para mim.

Mesmo se incongruente o ângulo do espelho que me reflete – pelo qual você me vê – o mesmo raio a reflete e eu, também, vejo a você.

LibaN RaaCh

sábado, 3 de dezembro de 2011

Retardatário


Carecemos de contato com o Sublime. O contato com o Sublime nos devolve ao centro. Ao centro de onde saímos para dar umas voltinhas...
E permanecemos a dar voltas, voltas e mais voltas...
Até cair de tanto rodopiar.
A última alternativa é ceder. Tivesse sido a primeira...
Quanto mais cedo eu cedo, mais cedo me livro do medo.

Você que me olha, por que me olha em desalinho?
Por que me aponta o dedo?
Viva seu próprio enredo que, do meu, estou farto...
Farto do segredo que alimenta o medo, que alimenta o apontar do dedo.
Farto da falta de enredo que me afugenta do ninho, que me afugenta do me aninhar no meu centro, no centro do meu carinho!

LibaN RaaCh

Calix Bento

O Paraíso se constrói com padecimentos.
Padecem nossas vontades e nossos desejos em prol de um viver no Paraíso.
Abençoada a Mãe que incorpora tais padecimentos.
Abençoada seja a Mãe que padece neste Paraíso.
Abençoados sejam todos os Entes Vivos – homens ou mulheres – que, mesmo sem parir um filho na carne, escolheram padecer neste Paraíso.

LibaN RaaCh




Aqui, uma raridade...Clementina de Jesus:

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