terça-feira, 27 de setembro de 2011

Pego no flagra!



Assumir, irremediavelmente, nossa real natureza coloca-nos em percurso desconhecido. Como se, a toda hora, fôssemos pegos desprevenidos.

O que viesse ao nosso encontro, encontraria-nos desprevenidos. Assim, a contrariedade cairia no vazio; a polêmica ficaria sem lenha para abrasá-la; a necessidade de defesa de um ponto-de-vista fulguraria notoriamente inadequada.

E então, na mais absoluta imprevidência, o inesperado se manifestaria. O inesperado da realidade vivificante e verdadeira. A inesperada verdade, oculta para a nossa razão, mostrar-se-ia reluzente; pois a nossa sensibilidade adquiriria a obediência dos nossos sentidos todos ao flagrante influxo do entendimento incondicional.

LibaN RaaCh



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Fatalidade revertida




Há de haver meios de alterar corações gélidos e petrificados de pessoas empenhadas, exclusivamente, aos bens pessoais.

Pressuponho a certeza da eficácia se tais meios provocarem episódios cruéis na vida dos portadores de insensibilidade. Porque quanto mais a pessoa se torna fechada ao desconforto alheio, mais cruel é o episódio a ela reservado pela própria vida em nome da restituição do que lhe resta, ainda, de humanidade. Nenhuma intenção agourenta há aqui. Apenas a simples constatação da dinâmica do viver.

Porque os fins serão atingidos, os fins de uma civilização predominantemente voltada ao bem-estar coletivo através do autêntico bem-estar individual, mesmo que ao preço do fim da civilização atual e de todos os seus princípios regentes.

A vida – no sentido mais representativo do viver, em suas expressões mais legítimas e autênticas, valorando a integralidade da criatura humana – sempre encontra meios próprios de prevalecer a despeito de toda força em contrário, a despeito de nossas reincidentes tentativas de sufocá-la.

Para não nos transformarmos em despojos humanos, deveremos nos despojar de tudo que se afigura como falta de humanidade, como falta de apreço às manifestações da vida; deveremos nos despojar das barreiras ao espontâneo e ao extemporâneo de um viver completamente isento de qualquer obrigação.

Só quem a nada se sente obrigado pode dizer ‘obrigado’ de coração limpo, outorgando sua própria carta de alforria ao expressar gratidão arrebatada e humilde.

LibaN RaaCh

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Princípio, o Fim e o Meio…

 
No princípio, eu era solto, de uma descontração alegre...como se fosse possível uma descontração triste...possível é uma tristeza descontraída, sem preocupação em se esconder.
No princípio, eu tinha uma farta lista de princípios dos quais jamais imaginava me afastar em nome da minha afetividade, da minha capacidade de gostar, da aptidão em viver, tão importante para a sensação de segurança e aconchego, preservando-me das impurezas tóxicas de decepções inevitáveis. Um destes princípios se refere à maneira de me exprimir em palavras, no sentimento que as acompanha, nas intenções - de preferência, na extinção de todo interesse pessoal nas intenções, algo que aos poucos foi se mostrando infalível para libertar a expressividade do peso que enverga as costas.

Aliar a clareza e a concisão ao despojamento de interesses pessoais faz acontecer algo mágico na comunicação.... entre os entes individuais que estão se comunicando com base nesta premissa acontece a conexão... um tão alto grau de empatia e conexão que se consegue saber o significado do silêncio no outro.

No princípio, eu possuía o frescor da infância, as coisas do mundo possuíam o frescor da infância, quaisquer representantes de espécimes vivos (a formiguinha, o gato, o cachorro...) possuíam o agradável e contagiante frescor da infância, algo comumente confundido como imatura infantilidade.
No princípio, meu corpo correspondia a todos os movimentos inventados pela minha imaginação, sem queixas nas articulações, ou nos músculos, ou nos tendões, ou nos outros órgãos.
No princípio, acreditava no desenvolvimento de qualidades com as quais criaria o ambiente onde viveria durante o meio - o meio da vida - para um fim promissor e repleto do sentimento de 'missão cumprida'!
No entanto, em defesa de um meio de vida, carrego a impressão de viver meia-vida... uma vida pela metade... talvez menos.

Refleti em tudo isto após receber a notícia de um médico, amigo da família, a quem pedi auxílio em favor de uma amiga muito querida. O médico comunicou-me o veredito: ela, a minha amiga, estava - não com um princípio de câncer - mas com um câncer em estágio avançado, em metástase, uma doença terminal.
Nenhuma doença deveria ter o poder de abreviar a vida. Em verdade, nenhuma o tem.
Ainda que a dor faça parte do viver, viver a dor é viver em parte. Viver por inteiro é o viver com a dor, não o viver a dor....
A dor existe. Não a renego com entretenimentos fastidiosos. O viver inteiro inclui a dor, sim. Porque a dor está presente sempre. Ela nos dá o 'gancho' em favor da conexão com o outro, com o mundo e consigo mesmo.

LibaN RaaCh

domingo, 18 de setembro de 2011

O Sacro Ofício de Viver!

Faço um convite a você, caro leitor, para visualizar a seguinte cena:

Vamos caminhar, através de uma estrada qualquer, onde no início desta estrada há uma capela, ou melhor, há um recinto (evitamos, assim, menção a vocábulos de cunho religioso, que poderiam suscitar resistência aos adeptos de outras religiões ou ateus, ferindo meu princípio de escrever de forma adoutrinária – algo diferente de antidoutrinária, pois inexiste em mim qualquer intento em ser contrário, ou a favor, de alguma doutrina). Neste recinto há um altar de sacrifícios e lá depositaremos a nossa oferenda, contendo o nosso melhor ou o nosso pior. Pouco importa. Importa mais o fato de nos sujeitarmos ao percurso do caminhar entre estas linhas que ora estão aqui escritas.

A única preocupação presente quando escrevo está em dar fluência, o mais fielmente possível, a esta maneira de manifestar o que existe de mais natural e valioso em mim.
E quando o mais valioso encontra sua manifestação menos poluída, opera milagres.
É um milagre a provisão de um estado de bem-aventurança – em primeira instância – neste que vos escreve.

Imbuído deste estado fica mais profícua a injeção da bem-aventurança naquilo que estamos fazendo: pode ser o escovar dos dentes, ou um banho revitalizador, ou um gostoso cafezinho, ou um ovo frito, ou varrendo a casa, ou passando pano nos móveis, ou no percurso ao trabalho, ou na fila, ou falando, ou escrevendo...
O ato mecânico - em si - ganha uma nova dimensão com a dádiva da bem-aventurança e exerce uma inegáve
l influência de conforto, à moda de uma operação milagrosa.

Uma vez que nos sentimos confortavelmente instalados, seja lá qual for o lugar ou a posição que estejamos ocupando neste exato instante, todos os incômodos e desconfortos evaporam.
 
                      Alguns poderão dizer agora: 
                     — Ah! Isto é coisa de outro mundo, não é deste mundo. E eu vivo neste mundo. Preciso de algo aplicável neste mundo onde eu estou vivendo.

E eu respondo:
Sim, isto é coisa fora deste mundo... fora deste mundo de situações a serem vencidas, de pessoas a serem combatidas, de posições a serem conquistadas, do bem-estar a ser adquirido. Este é o mundo fabricado por nossas cabeças.

Se, até hoje, o produto de nossas cabeças tem apresentado sérios defeitos de fabricação, por que insistir em devolver para a fábrica consertar?
Por que negar a incineração do produto – e da fábrica também – na fornalha deste singelo estado de bem-aventurança?
O altar deste estado tem morada no recesso de nosso coração. Imbuídos deste estado de bem-aventurança no altar dos nossos corações executamos o sacro ofício de bem viver.

Simples assim...

LibaN RaaCh

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Imposto de Rendição



Somos, continuamente, vitimados por nossas imposições. Queremos impor nosso ponto-de-vista, nossa maneira de fazer ou ser; queremos nos impor a determinadas pessoas ou situações; queremos impor respeito.


No esteio destas imposições, um grande vazio...
lacunas sem preenchimento...


Valor imposto é o maior impostor. Quem conhece o valor de si mesmo, quem está em contato com o mais valioso em si mesmo, dispensa imposições. E o mais valioso em si mesmo é o estado de rendição.

Quando a gente se rende à nossa incapacidade de superar a cólera ou o medo, dá-se a superação. Quando a gente se rende às nossas incapacidades profissionais ou afetivas, surgem as mais autênticas capacidades, eclodem as mais genuínas formas de manifestar o Amor.

E estas formas genuinamente amorosas, feito pena pousando no chão, impõem um ponto final nos nossos conflitos.

LibaN RaaCh

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A Taça da Libertadores é minha!


Decidi fazer um trato de convivência pacífica com a sociedade, convencido pelos ditos de Jiddu Krishnamurti de que 'eu sou a sociedade e a sociedade sou eu'. Um trato com a massa modelável da sociedade. Aqueles que são torcedores assíduos de algum time de futebol. Que pagam ingresso para assistir à final da "Libertadores" ou assistem em casa e, durante o jogo, sentem-se "libertos" da tensão cotidiana soltando urros e dando murros, cujos ídolos são autores de frases memoráveis como "fingi que fui, mas não fui e acabei fondo..." ou " comigo, ou sem migo..."!

E imaginar que os autores destas pérolas são referência para a molecada que, sinceramente, torço para não serem o futuro deste país.

Estes indivíduos são, em sua esmagadora maioria - na maioria esmagada, melhor dizendo - trabalhadores de 'carteira assinada', avassalados por salário, que lhes garante o uso comedido das atividades de comer, dormir, locomover-se, estudar e divertir-se. Porque o uso desmedido, ou o abuso, de qualquer uma das atividades acima introduz tal indivíduo 'abusado' em período indeterminado de dívida.
Tal indivíduo enumeraria uma fartura de razões para sua falta de razão e falta de fartura, pelo inevitável da dívida (promoção imperdível, facilidade de crédito, utensílio doméstico essencial...).

Em nome de vida doméstica tranquila, domestica a sanha visceral por plenitude e liberdade, evitando ser rotulado de rebelde improfícuo e inócuo. Porém, imprescindível à garantia da tranquilidade, seja no ambiente doméstico ou no altar do coração, é uma espécie de postura indomável e inamoldável.
No momento em que consigo me desidentificar dos estímulos internos, ou externos, adoto postura de observador. De quem observa o que está se passando fora de mim e como isso influencia o que está acontecendo dentro de mim, despreocupado em justificar meus atos ou a ausência deles. Quando as razões são vistas sem a preocupação em dar razão, ou não, ao ato, sem julgamento, chega-se à verdade. E a verdade tem poder libertador.
Uma vez liberto dos critérios consolidados ao bem do julgamento, adquiro o estado do não-julgar, o estado de desprendimento dos valores e respectivos tabus, o estado de bravura pelo confronto dos medos desenterrados na atitude observadora, despojada de qualquer interesse pessoal.

Então, ergo a taça e transbordo um urro com toda força dos meus pulmões:
— Libertadores, libertem-me!
LibaN RaaCh

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Pangaré Chucro


Quando um cavalo está correndo em bando, a aproximação de outro cavalo correndo ao seu lado o faz correr mais. Como se o cavalo não admitisse, por instinto, a ultrapassagem de nenhum outro cavalo. Talvez por sofrer complexo de corcel negro, ou síndrome de alazão, ou qualquer outra coisa inerente à natureza do cavalo.


Assim, também, são os nossos preciosismos da personalidade, os nossos personalismos, o nosso Ego. Tão logo a manifestação do que consideramos nossa personalidade sinta-se prestes a ser ultrapassada, recrutamos todas as forças disponíveis para nos manter à frente.
Esta é uma atitude inerente à natureza do Ego, inerente a este pangaré chucro. E no campo da selvageria, qual seja o campo de atuação do chucro, há ausência de medidas e limites.

Somente imbuídos por um estado de pureza infantil obtemos lucidez e leveza suficientes para uma abordagem transparente ao encontro deste corcel negro, deste indômito selvagem e, enfim, acontece a sua mais completa rendição.
LibaN RaaCh

Colmeia Suburbana



A multidão...


Há ainda gente em meio ao enxame da multidão?
Deve haver. Disfarçadas de zangões e operárias.

Operárias que não são como as abelhas.
As abelhas produzem mel,
néctar dos deuses e dos homens,
alimento para o corpo e a alma.

Abelhas não resistem à própria violência:
morrem tão logo praticam a picada com o seu ferrão.
Quanta gente aplica seus ferrões em palavras aguilhoantes,
em indiferenças mortuárias, em ironias destrutivas,
e continuam a sobreviver
e continuam a se comprazer disso?

Definitivamente, as abelhas operárias não são como as operárias suburbanas!

Suburbanas...

Aprenderam a retirar seu alimento do fel
tantas foram as ferroadas aplicadas e tantas sofridas.
Acostumaram-se a viver do fel.

Ao encontro inadvertido com a indulgência,
com alguém capaz de empatia autêntica,
de íntima e respeitável conectividade,
respondem com desprezo
porque causa espanto,
porque remete à dor de uma verdade simples:
a invalidez nos alicerces de seu castelo de vidro.

É importunice aguda a existência de um ser desta natureza, com esta aptidão!

E por toda uma vida
estarão convencidas do julgamento acertado
em quanto é desprezível um ser que teima
na incandescência da meiguice e da doçura do mel,
à despeito das investidas rancorosas do fel.

O quanto devem manter longe...
bem longe...
um ser desta natureza
ou
esta natureza do Ser...

LibaN RaaCh

sábado, 10 de setembro de 2011

Barrigada


Fazendo de conta que o Satsang é uma piscina, o gostoso é pular dentro dela, não de cabeça – porque a nossa cabeça já está cansada de se banhar em águas alheias – mas de peito...sem medo de dar barrigada, sem medo do ridículo, sem medo do quanto pode arder.
Pois haverá ardor e medo... porém, um ardor típico da desintoxicação!
Quem se habilita a mergulhar neste desbravamento?

LibaN RaaCh

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Pena de Suspensão



Guardo a impressão de quando eu era menino... de quando o mundo estava em suspensão, ou melhor, quando o “Eu” estava em suspensão. Época em que o “Eu” e o mundo estavam suspensos de mim.


Aplica-se suspensão em quem é desobediente na sala de aula, na escola. Antes mesmo de ter praticado qualquer ato de desobediência na escola da vida já guardava a impressão de ter sido suspenso do mundo. Suspenso da classe dos considerados “normais”, antes mesmo de cometer qualquer contravenção. Porque a prática da desobediência é considerada contravenção, como o jogo do bicho.

O jogo do bicho... tão fora de moda....

As investidas institucionalizadas – as loterias oficiais – monopolizaram a capitalização da crendice de que há honestidade no trâmite do sorteio desta espécie de jogo de azar. Azar de quem joga, não é mesmo?

Após este parêntese, voltemos ao tema.

Quando as coisas e as pessoas ganharam um nome, passou a existir uma escala de valores que oprimiu aquela descontração natural e carinhosa de menino, que maculou aquela dimensão de valores exatos de um menino sério, risonho, e naturalmente compenetrado de sua real natureza, espontaneamente convicto do contínuo e ininterrupto provimento de todas as necessidades pela natureza do Ser Real. Por isso a alegria. Por isso aquele ar de descompromisso que se espalhava na atmosfera ao redor, disseminando a sensação de branda leveza.
Porém, a faculdade de nomear foi turvando este dom natural. Este dom que não é exclusividade minha. Este dom que está presente em cada ser vivo. Inato nos nascidos de mulher.

Quem não é nascido de mulher?

Claro que o desembaraço de atividades rotineiras nos obriga a conhecer o nome de coisas e pessoas. Mas elas – as atividades – não deveriam ditar a nossa escala de valores que dá importância somente a ‘fulano de tal’ ou ‘sicrana’ por eles ocuparem algum cargo ou posição social.
É preciso livrar-se de tudo quanto é nome, sejam pessoas, ou coisas, ou teorias, ou o próprio nome para se inundar no oceano do inominável.
Quando a Presença nos chama, não é pelo nosso nome que clama. É pelo Ser que Ela reclama.
E o Ser, que é quietude e Amor, prescinde de clamor. É manso esplendor!

LibaN RaaCh

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Vida breve...



Eh! Breve viver.
Morrer demora; é demorado morrer; como demora...
Estou cansado de brevidades. Por que tudo se tornou breve, abreviado, repleto de abreviaturas: RG, CPF, CNPJ, SPC, INTERNET, TI, PC, CPU, HTT, GB, GHz, etc. ?

Quero forjar um crime e quero que, breve, chamem a viatura da polícia e quero ser pego em flagrante e, ao reagir, tomar um tiro... um único tiro no peito... pulverizar este aperto no peito... explodir com ele!
Como nos filmes, como em uma sessão de cinema, onde a vida tem seu começo, meio e fim em um intervalo de 2h; onde tudo o que tem que acontecer em uma estória acontece neste intervalo sintetizado de apenas 2h. E saímos da sessão com a promessa de que nossa vida trivial será, ao menos nas emoções, parecida, verossímil.

Como dizia o trailer do filme: BREVE EM EXIBIÇÃO...

Por que o intervalo entre o berço e o estado de plenitude tem que ser maior? Não, não tem que ser maior! Chega de adiamentos para só viver em breve, quando chegarem as férias, ou quando chegar o final de semana...A promessa é que seja rápida e alegre e cheia de ações. Que se cumpra a promessa! A promessa de viver e não morrer.

De novo, a morte...

A morte demora a chegar. Quando não, chega por acidente. Hoje mesmo, neste instante, neste exato segundo, posso concluir que a vida não tem nem sentido, nem significado e, portanto, quero morrer. Posso decidir isso. Se desta decisão até a hora extrema, resistir a qualquer ação suicida, posso levar anos... anos intermináveis... até morrer!
Como demorar nas breves sensações de completude, de autossuficiência, de brandura e leveza? Como demorar nas breves disposições de bem-estar?
Com a morte. Infundindo morte. Impingindo a morte.

Ela...de novo... ressurgindo feito fênix!

Quando a vida recebe a morte em estado de fusão, em transfusão, vem com ela a brandura, a quietude... assim fica, assim demora, assim dura... A doce demora do nada, do vazio, do vazio indolor. Porém, sem sabor; insosso. Porque viver com sabor implica em dor também.
Não, não quero. Nem sabor, nem dor. Como a água quero: inodora, insípida e incolor. Quero este vazio. O vácuo. Flutuar no vácuo, não em queda livre – que de livre nada tem, só de queda – em um buraco sem perspectiva de fim.
Suspenso... no vácuo, é possível ultrapassar esta fronteira, esta região fronteiriça da ambivalência, da dicotomia, da síntese. É possível celebrar a vida! É possível...
Estou farto de possibilidades!

LibaN RaaCh


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Valor agregado



Entre o saber e o fazer há um grande abismo.
Entre o fazer e o ‘fazer a diferença’ há um salto quântico.
Quem salta sem desbravar o abismo torna-se oco. Há os que demoram no abismo. Agradam-se do abismo...
Porém, nenhum tempo é demora. O tempo de ninguém é demora. O problema está em quem tem pressa, que persegue uma hora que não é a sua. Quem demora segue sua própria hora. Quem segue sua própria hora não sente demora, nem pressa. Como bem disse Renato Teixeira em sua música: "ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais..."
O ‘fazer a diferença’ é estar apto a agregar valor. Meu entendimento de ‘agregar valor’ compreende o bem-estar íntimo de mim mesmo e dos indivíduos ao redor, diferentemente do entendimento comum. Nada de material, muito menos monetário, está envolvido no meu conceito de ‘valor agregado’. Os ganhos materiais são decorrência natural.

Agrega quem não segrega!

Quantos de nós conservamos a crença de que devemos economizar para não faltar, devemos segurar para não ficar sem, devemos prender para não perder? São práticas de segregação. Percebem?
Eu não mais me surpreendo ao constatar em mim mesmo impulsos para determinadas práticas desta natureza, pois percebo que me foram ensinadas, insistentemente, como corretas.

– quanto precisam ser corrigidas, não? –


O que propositalmente não ensinam, nem divulgam, é que estas práticas também levam ao distanciamento e à ruptura da capacidade de sentir, à interrupção da faculdade de amar, ao bloqueio do interesse por si mesmo e pelo outro, ao bloqueio do ficar atento aos movimentos internos – ao invés de cometer atentados contra estes mesmos movimentos por não resultarem em nada prático .
E desta segregação nasce o egocentrismo, a avareza, a voracidade, a competitividade e a violência. Por que se indignar e se revoltar com os eventos noticiados que demonstram a banalização da vida humana a que chegamos? Não seria porque eles, estes eventos, confrontam-nos com a segregação embutida e embotada em cada um de nós?
Praticar a não-segregação já ‘faz a diferença’ e conduz, espontaneamente, à compreensão de que o homem é um ser gregário. Diferente do gosto ordinário por se reunir em grupos ou bandos, como se pode inferir, o homem é um ser gregário singular contendo toda a pluralidade da espécie humana.

LibaN RaaCh

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Depressão




Se ao fulcro de vossos relacionamentos
deixastes de fortalecê-los
através da solicitude
de uma afeição desinteressada

Por que vos queixais da solidão
que ora vos assalta a alma?

LibaN RaaCh

domingo, 4 de setembro de 2011

Enfermópoles



Nenhuma ação isolada, nem nenhuma ação coletiva, está apta a modificar deveras o atual estado de desumanidade incondicional no qual estamos – todos nós – mergulhados, principalmente se somos habitantes de grandes centros metropolitanos, de grandes metrópoles.
O ritmo exigido pelo modo de vida urbano impõe uma cadência enfermiça aos processos naturais do corpo humano.
Por isso, as metrópoles deveriam se chamar enfermópoles, pois funcionam como fermento de inumeráveis quadros patológicos, somáticos ou psicossomáticos.
As enfermidades decorrentes da adequação ao modo de vida urbano progridem numa proporção maior e mais silenciosa do que o crescimento urbano propriamente dito, tão silenciosa que não foram catalogadas, ainda, todas as variáveis para a sua mais exata e completa apreciação.
Para aliviar o tom pessimista e apocalíptico destas afirmações – pois é tendência mundial o crescimento dos centros urbanos – transcrevo os seguintes pensamentos que, por ora, circunvolucionam a minha mente no esforço de forjar alguma alternativa honestamente viável a indivíduos que, como eu, tiveram suas verdades derrubadas, caídas por terra, destronadas do ápice das melhores tradições, destituídas das crenças fundamentadas na fé inquestionável.

Somente o estado de estabilidade profunda está devidamente habilitado a se confrontar às instabilidades intensas, diversificadas e encobertas que se nos apresentam durante a rotina, em nosso dia-a-dia.

Sempre tive a impressão de que o brasileiro não sabia capitalizar oportunidades. Enganei-me. O brasileiro tem capacidade, sim, de capitalizar. O sistema de saúde está aí para comprovar esta tese. Ou melhor, o sistema antissaúde. A doença sistêmica.
Quantos não são os que vivem em função da doença? Quantos não estão enriquecendo ao custo da dor e da enfermidade alheia? Não seriam estes portadores de sangue em suas próprias mãos, pois contribuem, ainda que de forma indireta, à prática do assassinato?
O cultivo do estado enfermiço – de um Estado enfermiço – não é exclusividade do brasileiro. Está difundido por todo o planeta, ultrapassando os limites do organismo humano, abrangendo outras espécies: espécies animais, vegetais e minerais. A humanidade doente está destruindo – não vagarosa, porém vigorosamente - florestas, paisagens e mares.
Tenho em mim a compreensão de que enquanto ocorrerem mortes por descaso, erro e negligência nos hospitais públicos, os crimes de assassinato continuarão a existir, pois esta é a forma que o corpo coletivo tem para instigar equilíbrio em favor de uma civilização saudável, sem diferenças entre seus componentes, cuja constituição é feita de matéria orgânica e psíquica similar e verossímil. Ou seja, enquanto existirem diferenças no trato de seres iguais, enquanto persistirem desigualdades sociais, é inerente ao organismo social providenciar ajustes ao equilíbrio, por mais cruéis que possam parecer tais ajustes. O organismo social devolve toda instabilidade em forma potencializada, multiplicada.
A meu ver, a principal questão nesta altura do texto é: — Eu; um mero componente de insignificante aparência neste imenso corpo social; o que eu posso fazer para modificar, de verdade, este atual estado, uma vez que a impotência contribui pela piora da vida pessoal e, conseguintemente, da vida coletiva?
Minha modesta compreensão permite vislumbrar como resposta o seguinte: — Devo assumir o comando das minhas disposições internas. Esta é a dimensão que está ao meu alcance de forma inegável e imediata. Nisto reside a estabilidade apta ao encontro imperturbável com a instabilidade.
Neste ínterim, esbarramos no conceito de livre-arbítrio – outra falácia apregoada que merece ser desconstruída em prol de uma compreensão livre e desimpedida... desbloqueada das imposições de qualquer gênero (imposições culturais, marteladas por métodos educativos moldados e modeladores da obediência fundamentada no medo... medo de não conseguir o próprio sustento, medo de não conseguir uma boa colocação social caso não se submeta à aprendizagem e à aplicação que é ensinada nas escolas, nas universidades, nas empresas e nas instituições públicas).
À primeira vista, o assumir o comando das próprias disposições internas é algo simples... tão simples quanto os cuidados e zelos em favor da eclosão de uma minúscula semente em gigantesca árvore, por mais tempo que isto demande...

É assim que se sente quem tem o comando sincero e silencioso sobre si mesmo: um gigante... um gigante pronto para estender sua sombra à eclosão de sementes irmãs!
LibaN RaaCh

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Legítima Inteireza


Tinha concebido um modelo de relacionamento afetivo. 
               Um modelo de beleza.
Tinha concebido um modelo de estudo e trabalho. 
Um modelo de família e de vida.
Tinha concebido um modelo de despertar. 
Um modelo de felicidade e de liberdade.

Qual não foi minha grata surpresa ao perceber que a felicidade e a liberdade põem de lado todas as concepções e modelagens para simplesmente acontecerem – sem agendamento ou aviso prévio.

Concepção e modelo depõem contra a gente.
E acreditar que a vida requer ações em legítima defesa é desconhecer a ação em legítima inteireza.

LibaN RaaCh

Papo coração


Quando nos expressamos com inteiro despojamento de interesses e quando ocorre igual postura por parte de quem nos ouve, a comunicação atinge níveis de intercâmbio inimagináveis.
           Aos autores desta façanha – façanha sim, pois esta é uma comunicação altamente qualificada e muitíssimo rara nos dias de hoje – fica um saboroso estado de quietude.
LibaN RaaCh

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Utilitários



Como é reconfortante sentir-se dentro de uma fortaleza...


Melhor quando podemos levar esta fortaleza para qualquer lugar sob o nosso absoluto comando. E quando há música ambiente e estofamentos confortáveis? Que deleite...
Existem fortalezas com equipamentos mais sofisticados, permitindo o deslocamento dos seus ocupantes em posição mais elevada do que a maioria ao redor. São fortalezas que inspiram pseudoconfiança com ares de superioridade. Há, também, fortalezas blindadas, inspiradoras de pseudosegurança, para os que se sentem constantemente ameaçados.
Verdadeiros impérios foram criados graças às pseudoconquistas embutidas e cultivadas em torno da imagem destas fortalezas. Impérios para quem fabrica e para quem divulga, somente.


A imagem... 
O que não se faz por ela?


Por mais que eu repita o termo 'pseudo', jamais atingirá a quantidade de mentiras às quais nos habituamos.
Já devem ter adivinhado que tal fortaleza trata-se de um veículo automotor. Veículo que, a princípio, deveria servir para facilitar o deslocamento dos indivíduos, ao invés de deixá-los deslocados uns dos outros, ou pior, tresloucados uns contra os outros neste trânsito caótico devido ao excedente de veículos sem planejamento urbano.


A quem favorece este excedente?

Os desvarios nas ruas se devem à necessidade extrema de estar sempre à frente, de não deixar ninguém passar na nossa frente, de não deixar ninguém nos passar para trás. Porque somos deixados para trás pelos nossos governantes, pelo funcionário da repartição pública a quem pedimos auxílio; somos deixados para trás quando precisamos de atendimento médico-hospitalar, mesmo possuindo plano de saúde – a simples existência de um plano de saúde privado já é um desaforo em uma sociedade que deveria proporcionar atendimento médico-hospitalar de boa qualidade para todos, sem exceções –; somos deixados para trás pelas empresas que nos tratam como descartáveis feito refugos industriais; somos deixados pra trás pelo sistema judiciário que falha porque tarda; deixados pra trás por uma estrutura sócio-educacional prioritariamente seletiva e eliminatória dos mais fracos; deixados pra trás nas inovações tecnológicas em velocidade astronômica e feroz.
Somos deixados pra trás pelos anos que passam, pela saúde que tende a nos abandonar aos poucos impreterivelmente...
Então...

Por que deixar passar na minha frente o carro que está dando seta pra entrar? Para atender à campanha de ‘Trânsito gentil’? Quantas não foram as campanhas feitas em nome da paz, da ‘ficha limpa’, de melhores condições nos hospitais e nas salas de aula? Nenhuma vingou. Nenhuma transformou, efetiva e imediatamente, a realidade que estamos vivendo.
Não é de campanhas que precisamos e sim de CAMPAINHAS. Precisamos de gente que saiba tocar a campainha da gente. Gente que saiba acender a luz para colocá-la sobre a mesa ao invés de escondê-la entre as vestes de exclusivo uso pessoal.
Gente que seja, simplesmente, gente... e que, deste modo meigo e singelo, toque a sineta do despertar dentro da gente.

LibaN RaaCh
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Agradecemos pela sua indicação!

Top Ten (as 10 postagens mais vistas)

Aos Visitadores

Aqui não há seguidores. Quem aqui vem e permanece, não segue a nada nem a ninguém.
Aqui há VISITADORES.
Recuso-me a chamá-los de 'companheiros' ou 'acompanhantes'
pelo significado pejorativo ganho por estes termos em anos recentes.

Bem-vindos

Visitadores