segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Benefício da Obra



A humanidade tem vários exemplos de pessoas que durante a vida produziram grandes obras artísticas, mas não foram – em vida – reconhecidas enquanto artistas que eram.


É intrigante que tais obras, após alguns anos da morte de seu autor, obtiveram projeção e reconhecimento estrondosos, como aconteceu com Fernando Pessoa, Van Gogh, Baudelaire, Camões e tantos outros.

Para mim, tal característica encontra explicação no seguinte: enquanto os autores daquelas obras estiveram às voltas com questões referentes ao ego e à mente, sem obter a sua mais completa emancipação destes dois obsessores, a vida enquanto verdade inconsútil, livre de qualquer nódoa, não era manifesta.
Ela, a vida beatificada, manifestava-se nos momentos de inspiração que resultavam naquelas obras. Ou melhor, o Ser beatificado se encontrava na feitura daquelas obras e em nada mais além delas. Como se o Ser ficasse separado deles – os autores – nas outras atividades concernentes ao modo de vida de cada um.

O momento em que tal dissensão, tal separatividade, obteve a sua total dissolução foi o da morte do ego e da mente, fato este que só ocorreu efetivamente para eles com o fim de suas existências.
Saíram da vida para entrarem na história. Tivessem ficado no Ser para se fundirem com a vida, a sua simples presença na face na Terra já seria uma obra artística por si mesma.

Para que fabricar rupturas entre o que somos e a vida que levamos?

LibaN RaaCh

sábado, 27 de agosto de 2011

Vou de Van



(tributo a um amigo, 
usuário do serviço Atende da Prefeitura
 por necessitar de hemodiálise e ser paraplégico)


Pela janela da Van que me leva, com o cinto de segurança bem preso a mim e à minha cadeira-de-rodas – esta mesma cadeira que me ensinou a ser livre, a ser seguro de mim - no trajeto da minha casa até a clínica da diálise, observo a multidão... a multidão caminhante na rua e me surpreendo com o desejo de estar em meio a eles, perambulando com a minha cadeira pelas calçadas, para descobrir quem, naquela multidão de indivíduos absortos em outras realidades... realidades imaginárias, estaria de prontidão para transmitir um olhar de acolhimento mínimo e de contato real.


Tolice minha...


Pessoas indo e vindo, vem e vão, passam e não ficam, vão em vão. Vejo da Van... a mente divagando... não ficam por nada , nem por ninguém, nem deixam nada pra ninguém, nenhuma cortesia, nenhuma gentileza. Uma cortesia faz alguém ganhar seu dia... Adia a morte!


Pra que desperdiçar seu tempo dando atenção a estranhos? Ao espelho, estranharão as semelhanças também?

Quão vão é passar por esta Terra sem ser tocado e sem tocar a ninguém pelo olhar...

LibaN RaaCh

Ser bom



Há algo de sadomasoquismo na bondade. A bondade implica em ceder de si para outra pessoa que tenha necessidade. A falta do necessário pode levar ao sofrimento. Portanto, o sofrimento alheio está implícito na bondade.

Quem acredita ser bom precisa que o outro esteja sofrendo.

Quem é autor de um ato de bondade sincera obtém inegável alegria e alívio de seus próprios sofrimentos. Vive um momento de intensa sensação de consolo e amparo, comparável a um flash de iluminação. Em prol destes instantâneos iluminados, tende a repetir estados mórbidos.
Um ato bondoso provém de quem gosta de sofrer. Portanto, ‘bom’ é aquele que gosta de sofrer e precisa do sofrimento alheio.
Não é esta a prerrogativa máxima do sadomasoquista?
Enquanto existir sofrimento entre humanos,
haverá sadomasoquistas...
haverá bondade!

LibaN RaaCh

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O poder da mulher-mãe


O poder aquisitivo tem mudado de mãos,
prevalecido em mãos femininas.

O feminino tomou conta de empresas,
ultrapassando os lares.
Tomou conta das exigências
quanto à fabricação de produtos,
quanto à oferta de serviços,
gerando mais conforto, comodidade,
e derrubando o bruto.
Tomou conta de gestões públicas,
de cargos jurídicos.
Obteve destaque na medicina
e na área educacional.

O feminino tem tomado conta
de praticamente tudo...

Só não tem tomado conta
da mulher e do homem.
Da mãe e de seu filho.

Adotando-se o conceito mais em voga
na atualidade consumista – o descartável –
privou-se a humanidade do maior bem no feminino:
o zelo, o cuidado, a empatia acolhedora.

Pela conquista da virilidade farsante,
muitas mulheres adormecem sua maior fortaleza:
a virilidade afetuosa e tolerante.

LibaN RaaCh

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Convite à Imortalidade


O reconhecimento da porção imortal em cada ente vivo permite um estado de profunda afetuosidade e compaixão, liberto das aparências e das mazelas particulares. Este reconhecimento vem de um olhar que já se reconheceu enquanto Ser Imortal. Que já se reconheceu enquanto habitante efêmero de um mundo cheio de efemérides, com uma despreocupação absoluta com tudo que possa pertencer a tarefas voltadas ao lado prático da existência. Sem significar isto negligência ou irresponsabilidade.

Seria precipitado concluir que neste estado é impossível realizar qualquer tarefa. Uma observação mais apurada permite afirmar que as tarefas executadas neste estado possuem um grau de realização incomum, pois sobrevém de um estado realizado, de um estado onde não há nenhuma necessidade a ser satisfeita, um estado onde o contentamento encontra-se em pouso, encontra-se pousado. Ou melhor, o ente vivo - autor de uma tarefa em tal estado - encontra-se abrigado em uma pousada cujo anfitrião está continuamente lançando convites para acolher tantos hóspedes quantos se disponham a atender ao chamado.

LibaN RaaCh

Os Saltimbancos



Uma vida saudável, psíquica e organicamente salutar, que ofereça condições favoráveis à sanidade, deve transcorrer sem sobressaltos. De forma espontânea e natural.

Quando ficamos emocionalmente sobressaltados por algum acontecimento, algo não está bem. Pois o fato de um acontecimento gerar abalo emocional demonstra quão identificados estamos com questões exteriores. Se eu acredito ser parte de um problema, se me deixo envolver, estou me identificando nele e isto pode me abalar. É isto que transfere todo o transtorno e distúrbio, localizados fora, para dentro. Abalado, alimento a discórdia e acrescento mais distúrbio ao transtorno.
Isto se deve ao meu grande ímpeto por dar um bom destino ao que eu considero excesso de energia em mim. É quando, então, me comporto feito um saltimbanco tentando levar um pouco de graça à desgraça.
Fazendo atualizações a cada instante, a cada segundo, do meu estado de ser, do meu estado de espírito, detecto a autossuficiência. Porém, isto me parece tão simples, tão fácil, tão imediato que chega a ser inacreditável. Tão inacreditável que ouso me envolver e me abalar com distúrbios que não são meus.

LibaN RaaCh
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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Esconde-esconde



Com exceção dos sensitivos, é impossível adivinhar o que o outro está pensando. Portanto, o que passa em nossos pensamentos fica às escondidas.

Passei anos temendo ser recriminado pelos meus pensamentos, sem que contivessem algo de anti-natural ou de pecaminoso neles.Temendo olhares fixos por acreditar que pudessem ler meus pensamentos. Refém desta crença e deste medo, os melhores anos de minha vida se passaram – os da minha juventude – sem que houvesse uma participação mais integral do meu Ser nas minhas deliberações.

Daí, nenhuma deliberação vingava. Nenhuma obtinha resultados satisfatórios. Os resultados sempre ficavam aquém das expectativas. Pois tanto as expectativas quanto as deliberações estavam ‘viciadas’. Permitam-me explicar: estavam inseridas em um contexto vicioso, quais sejam o medo e as crenças escravas.

Entretanto, aos poucos percebia que a mente funcionava como mero veículo. Quanto mais eu me acreditava dono do conteúdo da minha mente, menos propriedade eu tinha sobre a dinâmica das emoções despertadas. Aquilo que muito ouvimos, lemos, vemos e assistimos acaba por transformar o que somos; ou melhor, transforma-nos no que não somos e acaba com o que somos.

A mente é uma antena ultra-sensível de rádio-TV embutida, por onde captamos toda espécie de ondas cerebrais emitidas, mesmo pelo mais longínquo dos habitantes da face terrestre, mesmo no mais profundo esconderijo. Por isso, fica difícil determinar o proprietário de uma ideia. Este tipo de onda é emitido por cada um dos habitantes da Terra incessantemente. Pode-se imaginar quão turbulenta é a dimensão onde transitam estas ondas, pois, de acordo com as últimas estatísticas, somos quase sete bilhões de habitantes neste Globo. Ainda que exista uma espécie de sintonizador inerente, inato, a cada um, servindo como proteção natural contra pensamentos mórbidos, ocorre, em nossos dias, um sobrepeso no grau de morbidez dos pensamentos, causado pelos fartos meios contemporâneos de multiplicação do teor mórbido em nome do avassalamento das vontades pessoais, em nome da continuidade do ‘establishment’, do ‘status quo’ !

Como podemos nos imunizar contra a interferência ruidosa – às vezes, ensurdecedora – destas ondas mentais?

Quanto mais afastados dos centros de alta densidade demográfica e quanto mais cercados por paisagens da natureza, melhores condições ambientais reunimos em favor desta imunidade.

Mas se somos obrigados a habitar em centros de alta densidade demográfica, qual alternativa nos resta? É necessário que cada um tenha a convicção de ser capaz de criar condições ‘in loco’ para ser uma ilha saudável isolada das tentativas de ser influenciado. Afastada deste jogo malsão de esconde-esconde. Porque há isolamentos que podem trazer malefícios. E há os isolamentos que trazem a companhia de outras ilhas, formando um vultoso e prolífero arquipélago.

LibaN RaaCh
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Problema de gases

O homem que tem todos os seus horários ocupados é tido por valioso. Que critério de valores é este por trás desta avaliação?

Deve ser fácil calcular quanto este homem valioso ganha em 1 hora. Às vezes, ganha – por minuto – mais do que muitos ganham por mês. O que equivale a dizer que em 60 minutos (1 hora) obtém ganhos iguais ao sustento mensal de 60 ou mais pessoas. Por mais sábio seja este homem, e por mais ignorantes sejam as 60 pessoas, eu duvido que ele – sozinho, sem ter ninguém para dar ordens – seja capaz de fazer, em 1 hora, o que fariam as demais 60 pessoas. Ninguém, sozinho, consegue realizar tarefas concernentes a um grupo de pessoas. Portanto, existe maior valor naquele que consegue se relacionar bem com muitas pessoas do que naquele que possui conhecimentos especializados isolantes.

Existem coisas realizáveis, apenas, no âmbito dos movimentos psicoemocionais, ou seja, sozinho. São coisas relacionadas às nossas disposições internas. As demais coisas são exteriores, são ações dependentes de um mínimo de participação de outra pessoa. É neste ponto onde se detecta a escala de valores vigente. Cada um decide participar de ações que irão trazer alguma recompensa, que irão agregar algum valor para si mesmos – ou recebendo um pagamento monetário por isso, ou adquirindo um estado de bem-estar impalpável.

Ocorre que, atualmente, o estado de bem-estar tornou-se diretamente proporcional ao ganho monetário. É raro encontrar alguém que sinta bem-estar fazendo alguma coisa sem ganhar nada por isso. Há pessoas que nem conseguem conceber a mais primária ideia de bem-estar desvinculada de qualquer ganho monetário. E justificam o mal-estar momentâneo em nome de um bem-estar vindouro.

Repetindo Krishnamurti, sem uma disposição interna isenta de conflitos é impossível contar com a participação da boa-vontade de outra pessoa na realização do que quer que seja no mundo exterior. Sempre haverá um ponto de desconforto na relação, impedindo a descontração mais producente. No entanto, nem as disposições internas estão isentas de conflito e nem a participação de outra pessoa é feita de boa-vontade. O que nos leva à necessidade de regras... regras para reger as relações sociais; regras que, no fundo, visam nos proteger de nossos conflitos e de nossas más vontades.

Uma das conquistas de minha maturação está em ter atingido um ponto de saturação de conflitos. Não que os conflitos estejam extintos em mim, não. Mas eu fiquei por tanto tempo tão cheio de conflitos que, hoje, a permanência ou impermanência deles é irrelevante. Um importante indício está nas muitas vezes em que sou abordado na rua por desconhecidos, para uma mera informação. Geralmente, são pessoas simples. Sinto-me honrado por transmitir descontração suficiente para ser abordado por pessoas simples, sem lhes causar o menor constrangimento, seja pela minha aparência, seja pelo meu modo de falar. É muito cruel quando a gente vislumbra alegria, ainda que mínima, naquele que nos causa constrangimentos. E como existem aos montes...

Pessoas assim são verdadeiras flatulências itinerantes, causando constrangimentos por onde passam!

LibaN RaaCh
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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Mapa da mina



Sobre o tesouro da minha mina, postei o meu trono.

Não é bem do alto da acrópole, do meu trono majestoso, sobre o meu tesouro, que percebo quão pouca incandescencência existe na paisagem pobre que se descortina diante dos meus olhos. Pois sou um dos personagens desta paisagem.

É do alto da minha idade. Da minha meia-idade pra ser mais exato. Da idade que me trouxe maturação. Talvez meia maturação... Maturação sim, não maturidade. Porque ‘maturidade’, segundo o dicionário, significa ‘grau em que as atitudes, a socialização e a estabilidade afetiva de um indivíduo refletem, como característica normal do homem adulto, um estado de adaptação ou ajustamento ao seu próprio meio’ - nem adaptado, nem ajustado sou eu - e ‘maturação’, segundo seu significado psicológico, é um ‘aspecto do desenvolvimento, resultante de modificações estruturais e funcionais que possibilitem comportamentos crescentemente complexos’. Sinto-me maturado e saturado. Antes eu era complexado, agora sou complexo. Que PORRA!

Faço minhas as palavras do Rei Ricardo III – célebre personagem de William Shakespeare:

— O meu reino por um cavalo!

De preferência, com ferraduras novas. Assim, os coices serão suficientemente fortes para deixarem marcas profundas em minha alma já envelhecida e desencantada de tudo e de todos.

LibaN RaaCh
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domingo, 21 de agosto de 2011

Bode expiatório: uma vocação!


Você assiste novelas? Ou não, prefere filmes?

Consegue discernir a influência deles em seu comportamento, quão incentivadores das paixões inerentes ao ser humano eles são?

Se não consegue, você é um sério candidato a ter a vocação para bode expiatório desenvolvida em seu mais alto grau. Nada mais eficaz para a continuidade de uma situação do que a existência de um bode expiatório. E isto pode ser amplificado para uma coletividade, para uma sociedade, uma nação e toda a humanidade.

As grandes campanhas publicitárias visam estabelecer agrupamentos, acreditando ser a única maneira economicamente viável de preservarem a sua existência, contrariando - combativamente - a particularização e a individualidade. Porque é antieconômico considerar um indivíduo como um ser passível de vontade própria e concepções particulares diferentes de uma massa coletiva. Seria a falência de todos os veículos de massa assim considerados. Seria a falência do sistema social qual o conhecemos hoje. Isto é aterrorizante.

Feliz aquele que convive com quem tem vocação para “bode expiatório”. Sempre terá em quem se descarregar para obter alívio e conforto de suas cargas e sofrimentos. Penso que toda a publicidade acaba por estimular tal vocação, no âmbito particular e coletivo. Quando é chegado o dia da separação entre aquele que sobrecarrega e o que funciona como “bode expiatório”, notamos o desespero de quem sempre sobrecarregou – pois agora terá que conviver com suas sobrecargas, sozinho – e o sentimento de libertação no “bode expiatório”, que passou a não ter mais ninguém a lhe atormentar.

Porém, este é só o primeiro estágio. Como a nave espacial precisa soltar e se desprender, gradativamente, de suas partes mais pesadas para atingir maiores distâncias no espaço sideral, o homem, também, precisa adquirir um estado de desprendimento em favor de uma beatitude leiga.

LibaN RaaCh
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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Profissão: Repórter-Gari


O gari tira o lixo das ruas.

Há repórteres que só mostram lixo.
O lixo das ruas, do mau atendimento hospitalar, dos gabinetes,
das corporações, das polícias, da sociedade, dos poderes constituídos...

Haja aterro para tanto lixo!

LibaN RaaCh
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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Feito batatas


Somos perecíveis feito batatas. O organismo físico, o corpo, do qual somos freqüentadores provisórios, é finito.
Enquanto nos acreditarmos circunscritos a este organismo finito, as sensações decorrentes são de aprisionamento. Tornamo-nos reféns do medo e da mentira.

Somos definidos pelos traços que conservamos em nosso exterior. O corpo contém traços definidos. Definem a nossa aparência. Mas a aparência não nos define. Ela é simplesmente a forma do organismo perecível, enquanto nós procedemos do indefinido. Preocupações exageradas em definir o corpo, em ter um corpo definido, servem para acobertar as indefinições da alma.

A indefinição é profundamente bela. Nela não cabem palavras... apenas um contínuo fluir.

Apresenta-se quando nos rendemos à certeza do indefinido. Quando nos rendemos às incertezas. Porque o render-se elimina, de imediato, qualquer intenção de combate. Elimina a vã competitividade tão profícua em conduzir a estados de guerra, estados de alerta por causa de ameaças iminentes, na maioria das vezes imaginárias.


Na luta entre a vida e a morte adquire vida quem se rende à morte. E toda necessidade de luta se esgota num lampejo. Extraordinariamente nítida se torna a invalidez de toda luta e de suas dores ou alegrias consequentes. Porque dizer que a dor é necessária para distinguí-la da alegria, para que possamos reconhecer a alegria, comprova a permanência na luta. Não é, ainda, o estado de rendição.


Quem se rende morre. Morre para as coisas do mundo. Vive pelo fluir da Vida.

LibaN RaaCh
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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Miragem


Não me tenha por quem não sou.

Nem se atenha ao que dou.
Quando do meu conteúdo
tiro para dar,
eu me vou
sem saber voltar.

O que tenho de meu não me contém.
O que me contém é de todos e de ninguém.
Tenha-me por quem sou.
Quem sou, eu sei.
Você que me tem
sabe?

LibaN RaaCh
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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pagando pra ver


Hoje em dia, onde você estiver, tem que pagar. Pagar para viver.

Tem casa própria? Tem que pagar contas de luz, água, telefone, IPTU, etc.

Mora de aluguel? Paga tudo aquilo, mais o aluguel.

Morador de rua? Nada daquilo, só despesas pessoais (cigarro, bebida, propina para proteção, etc.).

Há excessiva preocupação em quantificar os recursos necessários para manutenção de condições mínimas de subsistência – ‘sub-existência’ traduziria melhor a idéia de perambular pelos dias com baixa renda – em detrimento do qualificar as condições do viver.

Todos estão ‘pagando pra ver’, basta olhar os índices de audiência dos programas de TV. Podem achar que é um tipo de diversão barata o assistir TV. Mas, além dos custos de eletricidade, preço do aparelho e todo o aparato físico em torno da TV (um cômodo, um rack, poltronas, cadeiras, mesa, etc.), ainda há um custo sub-reptício: o de ter sua opinião domesticada pelos programas assistidos.

Eu quero viver sem pagar. Quero um lugar onde se possa viver sem pagar. Não quero ter nenhuma conta pra pagar. Quero um lugar onde as pessoas vivam sem ter que pagar conta nenhuma. Não quero ter que pagar nenhum pecado também.

Quero ir “embora pra Pasárgada”, como disse o grande poeta Manuel Bandeira, que se dizia poeta menor.

Quem paga pelos pecados, vive endividado. Nunca consegue saldar suas dívidas de pecador. Afora os pecados sabidos que cometemos, há os não sabidos. E há, também, os ‘sabidos’ que acreditam enganar os cobradores. Se tudo, tudo, tudo, fica registrado e é cobrado, não há criatura no mundo que não esteja endividada. Vivemos em meio a pecadores. Somos pecadores vivendo em meio a outros pecadores. Nem pastor, nem padre, nem bispo, nem papa, nem pai-de-santo, nem rabino, nem médium, nem xeique, nem dalai lama, nem ‘iluminado’, nem asceta e nem nenhum religioso pode se considerar puro, sem pecados.

Todos carregamos máculas 'inconfessáveis', como costuma dizer meu confrade Henrique. Máculas sofridas e praticadas.

Praticadas porque sofridas ou sofridas porque praticadas? Êta, discussão besta! Do tipo “tostines é mais fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é mais fresquinho?"


Liban Raach
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domingo, 14 de agosto de 2011

Espelho, espelho meu...


Como quando alguém vê a própria imagem refletida na superfície de um lago, assim também acontece em nossa vida de relação.

As imperfeições contidas em minha superfície se refletem na superfície do lago, acrescidas das ondulações próprias do lago, deformando ainda mais o reflexo da minha imagem.

O Ego é minha superfície, a minha imagem, e o reflexo dele se dá no ego do outro que é a superfície do lago.

Passamos grande parte da vida deslizando sobre a superfície de um lago, ou de um rio, em pé sobre uma tábua, esforçando-nos para nos manter equilibrados.

Enquanto o nosso olhar estiver confinado à imagem refletida, estaremos impedidos de ver os tesouros ocultos nas profundezas do lago e o nosso comportamento sempre terá, no reflexo da superfície, uma fonte a cobrar reação.

Porém, instabilidades, trechos acidentados, intempéries atmosféricas tendem a destroçar a tábua que nos mantém ilusoriamente ilesos sobre a superfície.

E somos levados a mergulhar...

Nem sempre tais instabilidades provêem, exclusivamente, de fatos exteriores. Muitos fatos encontram amplificação numa subjetividade atraída pelo mergulho, atraída ao descobrimento do tesouro.

Já com a tábua destroçada, tragados pelo redemoinho, passamos a ver o nosso redor de dentro do lago, de dentro do rio, não mais pela superfície.

Ficamos de tal maneira tomados por este ambiente aquático, por este elemento líquido, que somos surpreendidos pelo afloramento de nossa natureza anfíbia, tão reminiscente do ventre materno, onde todas as nossas necessidades eram fartamente supridas.

E ao invés de nos debatermos para não nos afogar, somos abarcados pelo respiro de uma qualidade única de oxigênio, algo como – atrevo-me a dizer – o Sopro da Vida, o alento de todos os reinos.

Liban Raach

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sábado, 13 de agosto de 2011

Campanha do desarmamento

veddenta

Fica estabelecido que todos, a partir de agora, entregarão suas armas ao poder público.

Que todos, pois, entreguem todas as suas armas.

Que fiquem destituídos de toda atitude armada.

Entreguem o carro para, quando o outro nos der uma fechada no trânsito, não tenhamos que disparar vociferadas palavras de baixo-calão.

Entreguem o cargo na empresa, para que não haja mais a violência da exploração do empregado pela chefia, e da chefia pelos diretores, e dos diretores pelo presidente, e do presidente pelas ‘regras de mercado’.

Entreguem os filhos, para que o ‘instinto de cria’ não transforme os pais em feras desprovidas do sentimento de que todos somos filhos de uma mesma humanidade, e para que não transformemos nossos filhos em continuadores desta desumanidade que corre, desenfreadamente, pela vitória.

Entreguemos a nós mesmos, que temos tanta voracidade em apedrejar o criminoso, como se isto houvesse de extinguir nossas sombras.

Nestes tempos tão sedentos de sangue e justiça, pela prosperidade da injustiça à custa de sangue (sangue dos doentes que alimentam a indústria da enfermidade, da qual fazem parte conglomerados farmacêuticos, planos de saúde, hospitais, órgãos do estado e maus profissionais da área) faz-se urgente assumir a postura da ‘entrega que integra’, ao invés da ‘entrega que emprega’. Estamos vivendo uma época onde presenciamos o sacrifício de si mesmo em nome de uma 'carteira assinada'. Onde entregar-se a um emprego é crivar de pregos mãos e pés, coração e ideais.

LibaN RaaCh

Qual seu grau de instrução?


Convencer pessoas instruídas é tarefa ingrata. Porque as instruídas já têm o domínio – ou são dominadas – pelas suas próprias instruções.

Tampouco convencer as não instruídas. Porque as não instruídas detêm suas convicções inalteráveis.

Não escrevo para convencer ninguém.

Escrevo para me elucidar. Para me elaborar e ficar de bem comigo e com o mundo. E, através desta minha franqueza, possa contribuir ao esclarecimento – ainda que mínimo – dos questionamentos que afligem a outros.

De nada adianta desenvolver tratados e teses sobre as ações a serem adotadas para um convívio melhor dentro da sociedade, enquanto persistir a seguinte atitude:
—“eu sei o caminho que você deve tomar para ficar bem”.

Por mais instruções sobre o melhor caminho, por mais que esteja provada e aprovada a eficácia do seu caminho através do próprio exemplo, algo bastante óbvio é.... para a maioria, imperceptível de tão óbvio... que cada um trilha o seu caminho. O valor do caminho está no caminhante, e não no caminho.

A introdução de cada um em algum caminho, seja ele qual for, depende do seu grau do ‘saber’, do quanto sabe de si, do quanto está imbuído do Ser, da Presença do Ser. Isto não requer instrução nenhuma. Pode ocorrer a um analfabeto. Aliás, creio ser mais fácil esta ocorrência em pessoas com pouca instrução, pois possuem menos barreiras e menos bloqueios para ouvirem sua ‘voz interior’ - a única capaz de ofertar esta espécie de ‘saber’.

Como alguém ‘de fora’ poderia favorecer a manifestação desta ‘voz interior’ de forma autêntica e inegável?

Somente quem tem acesso à sua própria ‘voz interior’ estaria apto a tal favorecimento, devendo haver prontidão para tanto. Porque existem os que têm acesso à sua ‘voz interior’, porém não estão dispostos a contribuir com a facilitação deste acesso nos outros, tomando-o como um instrumento de poder.

Favorecer a escuta da ‘voz interior’ é o maior bem que uma pessoa pode fazer a alguém.

Tomemos um exemplo. Vamos supor que queremos realizar um evento.

Existem pessoas que podem criar circunstâncias de resistência ao atendimento de nosso objetivo. Porém, ao ofertar a tais pessoas o que elas realmente querem para se aquietarem, ocorre o livramento no caminho e poderemos percorrê-lo sem ameaças e sem resistências. O mesmo pode ser feito sobre nossas inclinações internas, nossa multiplicidade de ‘eus’.

Neste ponto, é necessário fazer um alerta: não estou justificando subornos, nem fazendo apologia à corrupção, pois estaria corrompendo a mim mesmo. Ressalto, também, que não estou defendendo o pagamento de propina para tirar do caminho quem o está impedindo. Esta oferta é típica de manipuladores. Não é desta espécie de oferta a qual me refiro. Estou tentando colocar aqui, como já disse acima, um registro pessoal sobre a maneira de atuação dos diversos ‘eus’ observados por mim, e em mim. Não há a intenção de fazer nenhum ‘tratado’ sobre este tema, apesar de me esforçar ao máximo para expor da forma mais clara possível.O único ‘tratado’ nestas linhas sou eu e quem souber extrair algo daqui que possa aplicar em si mesmo.

A oferta em evidência tem base na arte de manifestar o seu grau de plenitude; sendo este, pois, um imprescindível modo de ‘tocar’ o outro, de se comunicar com o que existe de mais pleno no outro. Você oferece o que existe de mais pleno em você, seja lá em que nível esta plenitude esteja – mesmo que não esteja no grau máximo característico dos ‘iluminados’; afinal, nem eu e nem você, que está lendo estes parágrafos, estamos no grau de ‘iluminados’ – e esta sua oferta faz surgir o que há de mais pleno no outro. É simples assim. É a comunicação de minha ‘voz interior’ com a sua. Neste nível de comunicação, impedimentos são dissolvidos feito um ‘passe de mágica’.

Obtém-se, então, uma interatividade superior... superior a qualquer afronta quanto ao nível de escolaridade convencional!


Liban Raach
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Meu supra-sumo

('quem não descobriu, em si mesmo, sumo, sempre acaba apelando para o ilusório consumo.' Extraído de "Folhas ao vento", de Nelson Jonas)


Quando faço
porque careço de apreço,
desfaço do meu passo.

Se, por trapaça, aumento meu preço
a dose certa ultrapasso
entre o doce e o melaço.
Na boca, um mau gosto
porque abandonei meu posto.

O sumo é combustível raro,
mas sem ele eu paro,
fico sem amparo.

De maior enfado
são as veredas que percorro
pelo sumo que me abasteço.

Este preço eu pago.
Pago porque morro
             de viver sem o prumo
             do sumo que careço!

LibaN RaaCh
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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Inconfidência: A Rebelião dos Confrades

Consumo Consciente

Havia deliberado dedicar minha força de trabalho, minha inteligência, meu empenho, em algo que realmente valesse à pena, pois estava sendo agraciado com os melhores recursos intelectuais e emocionais, com os melhores esclarecimentos. (Falo isso em reconhecimento à Graça, de mim para mim; não para me sobrepor a ninguém. Portanto, humildade e modéstia estão abolidos nessa avaliação).

Frustrei-me!

Nenhum lugar encontrei onde pudesse empregar tais atributos. E as empresas onde poderia empregá-las exigiam, para a minha permanência, a extinção delas.

A inteligência é uma dádiva!

Ela realmente o é, pois basta agirmos em desequilíbrio para obscurecê-la, tornando-nos precipitados e desarrazoados. Desanuviar o raciocínio favorece a assimilação de qualquer aprendizagem. Arranca o Ser do estado de embotamento; torna-O esclarecido e ponderado, onde todos os mistérios e questionamentos são desvelados e obtêm respostas assertivas, instaurando quietude e convicções jamais vistas.

O desembotamento do Ser é conquistado através da relação franca, desinteressada, leal e honesta.


Onde nós temos isto? Com quem nós temos isto?

...Há tanto tempo não temos mais isto...

Por que colocar a nossa inteligência a serviço da prosperidade de uns poucos em detrimento de outros milhares? Por que empregá-la mal em benefício de empresas dirigidas por quem tem alma depauperada (depauperando a todos os seus freqüentadores – clientes, fornecedores e funcionários)? Sim, os que têm alma depauperada só se revitalizam exaurindo almas alheias, a exemplo de um modo vampiresco de ser.

Devo buscar um empreendimento, uma empresa, que sirva ao meu propósito de bem empregar todos os recursos mentais, emocionais e físicos disponibilizados a mim, e somente a mim. Explico: a minha maneira de exteriorizar habilidades mentais, emocionais e físicas é de exclusividade minha e de mais ninguém. Como disse em outra postagem aqui neste blog (vide Missão: ‘Pátio dos Convalescentes’), a estória de vida e sua assimilação torna exclusiva e insubstituível a maneira como cada um disponibiliza o próprio vazio para o afloramento do ato criativo.

Sinto-me no dever de recusar o emprego de minhas habilidades quando servirão, apenas, para aumentar índices de lucratividade e nada mais. As empresas incorrem em falta grave ao deixarem de incorporar aos seus conceitos de lucratividade aspectos imensuráveis relacionados ao bem-estar dos indivíduos envolvidos, direta ou indiretamente.

Esta crença de que ‘não existe quem não possa ser substituído’ é o maior dos embotamentos. É a institucionalização da prática de extermínio. Não é esta uma prática promovida na sociedade? Não por acaso, isto faz da sociedade uma eficaz produtora em série de praticantes desta forma de extermínio, produtora de assassinos.

A aplicação do termo ‘descartável’ no referente a seres humanos afeta a todos, em todas as áreas da existência, exercendo forte influência na invalidez dos relacionamentos, sejam entre familiares, amigos, colegas, profissionais ou parceiros afetivos. Outros poderão possuir maior conhecimento específico. No entanto, o mundo está cheio de especialistas. Estamos especializados demais e humanizados de menos. Enquanto questões importantes, como da coexistência pacífica e próspera a todos, deixam a desejar.

Por isso mesmo, não poderia desperdiçar recursos e ferramentas recebidos de graça pela Graça (tais como os talentos e a inteligência) empregando-os em uma atividade que revertesse benefícios materiais exclusivos para algumas poucas pessoas (os donos do empreendimento). Se assim procedesse, tinha comigo que estaria sendo conivente de um ‘establishment’ corrosivo. Empregar minha inteligência e minha força de trabalho em favor de uma empresa (que é o prolongamento dos seus mandatários), mesmo em troca de um salário pomposo, seria desperdício. Desperdício de tempo e vitalidade.

Ora, entre colaborar no favorecimento para a realização do erro alheio — e seu respectivo deleite —, ou favorecer meu próprio deleite, mesmo sabendo-o errado, prefiro o último. Ao menos, estarei empregando minha inteligência e força de trabalho em favor de algo que me proporciona contentamento, ainda que fugaz, ainda que falso, mas serei eu a me deleitar. Serei eu a arcar com as conseqüências. E serei eu o maior beneficiário dos meus erros ou acertos, porque eu os terei praticado com toda força do meu ser. Ninguém tem este poder sem meu consentimento.

Satisfação dos meus atos só devo a mim mesmo. Igualmente, meus atos só devem satisfazer a mim. Quando faço, faço porque quero. Faço, porque me agrada. Este totem — do mais puro egoísmo — prevalece entre rebeldes.

Sou rebelde, porém não egoísta, e daí?

Apenas isto já me coloca em posição privilegiada. Sou privilegiado por não obedecer a ninguém. Melhor, sou privilegiado por ter condições mínimas que proporcionam subsistência saudável ao meu corpo físico, enquanto dou asas à minha imaginação. Enquanto concebo a liberdade. Porque não consigo conceber a liberdade fora da desobediência. Porque obedecer às regras atávicas da sociedade contemporânea é ser prisioneiro voluntário. Claro que seria estupidez desobedecer às leis existentes. Infringir a lei é crime. Porém, infringir regras atávicas de cunho sectário, desumano, é grito de liberdade. É livre quem tem o poder de desobedecer às regras sociais vigentes sem se degradar. Este é um tipo de poder que não se delega.

Ainda que não tenha o bolso farto, jamais serei portador, ou irei favorecer alguém, de alma depauperada e miserável.

LibaN RaaCh


A soberania da subjetividade (Parte III)

Vencer, ou vencer

Portanto, o que sai de nossa boca e os movimentos de nosso corpo revelam a nós mesmos (vide postagem ‘A soberania da subjetividade - Parte I’ e ‘Parte II - Subjetividade: Princesa ou Meretriz’). Basta ficar atento e conseguimos decifrar os mistérios do moto-contínuo de nossas atitudes e comportamentos. Quanto mais honesta e fiel esta auto-observação, mais ‘exata’, generosa e profunda será a compreensão do outro; apesar de inapropriado classificar como ‘exato’ quaisquer aspectos da natureza humana.

 Vários são os estudos que tentam desvendar o segredo da compreensão aprofundada do alheio, porém com o objetivo de ganhar vantagens em negociações.

Houve um guerreiro samurai que ninguém conseguiu derrotá-lo numa época onde só existiam armas brancas (espadas, lanças, facas, etc.). Há, na atualidade, semelhanças nas circunstâncias ocorridas em qualquer negociação, mas as armas utilizadas nas negociações contemporâneas não poderiam ser consideradas ‘brancas’, pois agridem mais do que uma espada; como toda e qualquer exploração do homem pelo homem. O guerreiro samurai que se tornou invencível até o final de sua vida – Miyamoto Musashi, autor de ‘O Livro dos cinco anéis’ - é estudado até o esgotamento por alguns empresários (homens ou mulheres de negócio) com o objetivo de aprenderem a invencibilidade em suas negociações. Este samurai atingiu tal excelência na arte de combater que nem precisava usar uma espada de metal para vencer o adversário. Existem relatos de um combate vitorioso onde ele usou, apenas, um pedaço de madeira.

A cultura empresarial de hoje torna impossível a arte da invencibilidade. Por mais vantagens que o fechamento de contratos apresente em favor dos empresários envolvidos, sempre haverá um dano insuspeitável: a de uma postura bloqueada para a empatia solidária. Pode-se acreditar que é possível acionar este bloqueio apenas nas horas de negociação, porém não funciona como um botão de liga-desliga. Uma vez incorporada, esta postura passa a atuar em todas as relações desta pessoa, dificultando a mais rasa intimidade. Alguém capaz de verdadeira empatia solidária não presta para ser empresário; ou melhor, não se presta ao papel de obter, unicamente, recompensas materiais palpáveis. A recompensa de quem tem aptidão à empatia solidária está numa dimensão abstrata, menosprezada e inacessível a pessoas condicionadas para competir.

Não é este o fundamento de toda nossa cultura: a competição?

A invencibilidade requer afastamento de toda exigência por competição. Ninguém vence quem não se importa em ganhar ou perder; pois, de uma perspectiva supracontextual e atemporal, não há ganhadores, nem perdedores, apenas pessoas comportando-se como adversárias em seus papéis temporários. Basta um pouco de distanciamento para vislumbrar que, no médio prazo, as circunstâncias que, hoje, determinam a aparente rivalidade desaparecem. Porque nenhuma situação possui o poder de se perpetuar.


Como disse Heráclito de Éfeso:
— Ninguém se banha duas vezes em um mesmo rio; nem as águas, nem o banhista serão os mesmos.

Enquanto o eterno for concebido como impraticável, os tormentos transitórios estarão revestidos pela qualidade de permanência indeterminada. Ou, de outra forma: quando há a descoberta de um ponto fixo e permanente onde se pode apoiar, pelo menos, um dos pés, haverá a possibilidade de saltitar, com o outro, pelas variadas realidades transitórias, sem lamentar derrota, ou comemorar vitória, ou se incomodar com antipatias gratuitas.

Liban Raach

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