domingo, 31 de julho de 2011

Bendita maldição!


Da vida não espero mais nada!
Apenas o estar vivo.
Viver já me basta!

No caminho constante de um indivíduo em evolução está contida a fase do desvencilhamento de todas as formas de ilusão, entre elas a falsa noção de segurança dada por posição social, ou remuneração mensal, ou qualquer outra sensação de garantia do seu lugar ao sol em território conhecido - por mais legítimo que seja.

O fato óbvio de estarem em território conhecido já derruba por terra estas noções de segurança.

Entretanto, é vago por demais afirmar que a base e o alicerce verdadeiros, o fundamento inabalável e atemporal, o ponto fixo de apoio na alavanca ou na gangorra da natureza humana encontra-se em uma região fora do conhecido.

Tão vago que lá ficamos em estado de divagação, em absoluta entrega!

Ao sabor do vento, como se estivéssemos à deriva em mar aberto... em amar aberto... no mar da vida em si... na vida em si... a vida dentro de mim... A Vida... O Viver!

Quem, em sã consciência, estaria disposto a se sujeitar a tal situação?
Será que tal situação está reservada, apenas, aos rotulados de fronteiriços da sã consciência?

Quanto não existe de mais graça e de mais encantos em estar à deriva? Quantos não são os ventos benfazejos, os zéfiros, capazes de nos levar a um estado genuíno de arrebatamento?

Muitas vezes, nos retiramos deste estado de entrega - que o nosso estreito entendimento vê como um distanciamento definitivo de quem supomos amar - que ainda está em terra firme; enquanto nós, por desbravar mares nunca antes navegados (homenageando Camões), fomos acometidos por uma substância desconhecida em nossas entranhas, algo incurável, uma maldição bendita ou uma benção maldita.

Se não consegui me fazer inteligível, lamento. Lamento por não conseguir expressar - por meio da linguagem escrita - este algo do incognoscível, pertencente ao reino da Poesia, ao reino da Arte, da Arte do Viver e do Viver com Arte.

Do Ser...enfim!
Enfim...O Ser!

LibaN RaaCh

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A minha vez primeira.

Liberdade
Foto: Andrea Zafra - São Thomé das Letras

Já houve dia em que meus questionamentos existenciais obtiveram resolução. Foi o dia da minha primeira morte. Foi a primeira vez que morri. Aconteceu sem aviso prévio. Inesperadamente. Encontrou-me despreparado e desprevenido.

Eu continuava na carne, mas passei a ter uma visão panorâmica tão clara, tão concisa, tão livre de todos os mistérios e de todas as ocultações, livre de todos os segredos, que parecia estar, também, desprovida de encantos. Era uma percepção de fora da carne. Era estar na carne e experimentar todas as coisas de uma dimensão fora dela.

Mais nenhuma pergunta sem resposta. Mais nenhuma aprendizagem referente aos assuntos do mundo (e para além do mundo) estava velada aos meus olhos. Mais nenhuma matéria acadêmico-escolar era difícil de absorver e apreender. Mais nenhuma espécie de limitação do corpo e do físico.

Tudo aquilo que eu sempre busquei e acreditei estava, naquele momento, se manifestando e se desvelando de forma tão assustadoramente espontânea quanto natural. Era um momento singular.

Estava dentro de um ônibus, indo para o trabalho.

Nada de espetacular, nada especial, sem nenhum pré-preparo, a não ser uma vontade - intimamente silenciosa e ardente - de toda uma vida até então.

Um horizonte sem precedentes estava se descortinando diante dos meus olhos. Um horizonte cheio de possibilidades inimagináveis relativas ao poder de ação enquanto ser encarnado que eu era. Que eu continuo sendo. Um horizonte sem encantos... sem encantos conhecidos estava se abrindo diante de mim.

Recuei.

O desejo de toda uma vida estava se realizando naquele momento e eu não sabia o que fazer com ele. Não me julgava suficientemente capaz para suportar tamanha responsabilidade e poder. Não me julgava pronto para tanto ‘despertar’.

Só não prossegui com as possibilidades desconhecidas da nova vida que estava se manifestando naquele exato instante - de minha primeira morte em vida - porque preferi voltar a terreno conhecido, apesar de toda a dor e sofrimento decorrentes dessa volta.

AO REGOZIJO NO DESCONHECIDO PREFERI SOFRER NO CONHECIDO!

Esse foi o epitáfio na lápide da minha primeira morte e a conseqüente expulsão do PARAÍSO de minha segunda vida.

Na minha segunda vida passei a viver como um excomungado, alguém que experimentou o DESPERTAR, O NIRVANA, sem O ter assumido para os restos dos dias dessa segunda vida. Transformei, assim, a segunda vida em resto, por onde me arrasto, desterrado, peregrino, estrangeiro, nômade, eremita, órfão e tantas outras designações para a falta de uma continuada investidura de um estado despertado.

Consagrei-me um covarde por causa disso? Talvez...

Uma vez inoculado, como fui, com o vírus do ‘despertar’, somente uma overdose poderia funcionar como antídoto.

E, como meu último ato de coragem, empenho os restos dos meus dias em reavivar o estado DESPERTADO do qual fui agraciado um dia...

... um remoto dia da minha juventude transviada...


LibaN RaaCh

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ajudar é preciso

Tanto a ajuda recebida é imprecisa, quando dela nem quero saber,
quanto a ajuda ofertada é invasiva se a não sabem querer.



A quem sabe precisar
nenhuma ajuda é imprecisa.

Como a quem sabe ajudar
nenhum saber é sem precisão.

Porque há carícias sem saberes.

E saberes sem precisão!


LibaN RaaCh

A meus ímpares


A paridade dos ímpares evoluciona.
A imparidade dos pares oprime.

LibaN RaaCh

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Rejeição?


Ninguém está condenado a viver em desamor.
Sofre por falta de amor quem assim o quer, quem assim necessitar.
Pois a ninguém está proibido amar!

LibaN RaaCh

terça-feira, 26 de julho de 2011

Tratamento para o Amor

amor
Estamos tão fartamente comprometidos em nossas vidas atarefadas, que nos esquecemos do comprometimento mais valioso: o tratar bem sem excluir ninguém.

Quanto mais apartado isso estiver de nós, mais à parte ficamos de nós mesmos... Mais grosseira, rude e áspera vai se tornando a parte de nós que foi feita para amar.

Com que direito nos queixaremos, então, pelo mal consequente dos desafetos colecionados?

LibaN RaaCh

Grito no deserto


Perceber quantas são as amarras que nos prendem... 
sem enxergar quem, ou o que, está na outra ponta da corda, 
é engatinhar... nu... em meio a uma tempestade de areia fustigante.

LibaN RaaCh

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Criatividade: ente impessoal e transferível


Na contramão das leis do mercado financeiro e seus adeptos (pessoal e intransferível) está a criatividade.

Ela é a Usina, o manancial que, análogo a uma rede elétrica, percorre enormes distâncias até chegar à morada do indivíduo por meio de cabos. Quanto mais desimpedidas estiverem as linhas de transmissão, mais livre de impurezas se manifesta a criatividade, resultando em um modo de expressão claro, conciso e, acima de tudo, originalmente enternecedor.

A criatividade não tem hora nem lugar para se manifestar: ela permeia todas as horas e todos os lugares no aguardo de quem se guarda contra a invasão abusada e abusiva das impurezas permanentemente sugestionadas por vagalhões, por tsunamis, propagandísticos, despejando volumes exacerbados de informações – de deformações.

Tais vagalhões de desinformação começam inofensivos no ventre do oceano – tal qual a gama de instabilidades fóbicas que sujeitam a criança no ventre materno – recebendo, de forma involuntária e gradativa, em sua trajetória até a margem, acréscimo em seu potencial destruidor das predisposições amorosas.

Nascemos e crescemos sofrendo circuncisões contínuas a cada despontar de transmissão criativa. Aos poucos, as linhas de transmissão que nos conectam com a Usina da Criatividade vão sendo maculadas com centenas de fios de pipa e pares de calçados arremessados por convivas diretos (pais, irmãos, vizinhos, colegas de escola, professores e demais inseridos neste sistema).

Este crescente volume de água ao chegar em terra firme, ao querer concretizar seus planos feito o adulto em busca de realização profissional, deixa um rastro de destruição, de desafetos; pois as circuncisões do despontar criativo hostilizam as linhas de transmissão ao ponto de interromperem o fluxo com o manancial, com a Vida em sua acepção mais afetuosa: O Amor.

Então, testemunhamos as trágicas decorrências da ruptura e do esfrangalhamento da personalidade. Temos exemplos aos montes entre pessoas célebres sem lastro pscicoemocional para suportar as cobranças da notoriedade vindas com a fama. A mais recente foi a Amy Winehouse. Infelizmente não será a última. O que aconteceu com a Amy no tocante à sensação de desconforto frente ao mundo – frente ao estado de desumanidade que vigora no mundo de hoje – está acontecendo a milhares de jovens e adultos.


Sim, o adulto civilizado, o adulto que internalizou os processos civilizatórios da sociedade ( que cresceu em instituições educacionais reconhecidas, que entrou no mercado de trabalho, que constituiu família...) é um ser que teve sua faculdade de amar paulatinamente extinta. No mínimo a teve deformada para convencê-lo a amar, ou odiar, conforme as regras.

Na origem da extinção de tantas espécies no planeta reside a mais cruel das extinções: a da nossa afabilidade natural.


Portanto, ato criativo é algo em desuso. O que vemos por aí de criativo é mera aplicação diferente de uma mesma ideia, e não a manifestação original de uma ideia diferente. Não me atrevo a dizer que o ato criativo esteja extinto, pois seria o mesmo que prever a extinção do ser humano enquanto espécie habitante deste planeta, enquanto ser 'creado' e 'creador' em nome da amorosidade.

NabiL ChaaR

domingo, 24 de julho de 2011

Descontraidamente...

Meditação

Nenhum saber, como nenhum bem-querer, real e autêntico, é apreendido fora da descontração. Sob pressão tendemos a nos embrutecer, sem conhecimento, nem sabedoria. É a nossa faculdade racional suficientemente habilitada para absorver qualquer informação, por mais complexa que seja. No entanto, o racional é apenas uma parte de nós. Por sua atuação isolada tornou-se, comprovadamente, a parte responsável pelo estado caótico em que vivemos, tanto no âmbito individual quanto no coletivo.

Para uma interiorização do conhecimento, para expressão de nossos melhores talentos, para experimentar contentamento no viver, é preciso que haja uma verdadeira descontração entre os indivíduos.


Isto implica na exposição fiel de si mesmo numa atitude destemidamente resoluta e amorosa. Sem necessidade de se impor. Sem necessidade de aprovação. Convicto de que qualquer conseqüência retaliativa é ato de desespero e de apego.

LibaN RaaCh

Manto de invisibilidade



Quem constrói no visível,
sem edificar no invisível,
tem a ilusão de segurança
e a ruína o apavora
e o surpreende.

Quem edificou no invisível
prescinde de provas concretas e,
mesmo sofrendo privações,
jamais sua alma ficará sequiosa
ou sofrerá por inanição.



LibaN RaaCh

Confidência


Sentar - mesmo que apenas na imaginação, porém na mais vívida imaginação - diante de quem prejudicamos, ou por quem fomos prejudicados, e conversar da maneira mais destemida; sem nenhuma vergonha por nada do que se fez ou sofreu, sem nenhum medo de ser agredido ou agredir, na certeza de que a conversa transcorrerá sem limite de tempo, sem necessidade de auto-afirmações, sem interrupções de qualquer ordem; é transgredir todos os nossos mecanismos de subjugação e defesa.

É romper as correntes das pesadas bolas de ferro em nossos tornozelos. É adentrar num estado por demais inebriante, insuportável a todas as formas de exploração das fraquezas humanas.


LibaN RaaCh


sábado, 23 de julho de 2011

Dom Quixote de Serventes

(paródia ao título da obra "Dom Quixote de La Mancha"de Miguel de Cervantes)


As confortáveis instalações em que vivem alguns, diante de muitos em desconforto, é uma afronta. É um desaforo. É uma ofensa. Uma agressão.

É inconcebível a partilha de um mesmo espaço físico entre entes confortavelmente instalados (ostentando excedente luxo) e outros instalados de forma precária, ou insuficiente, ou sem instalação nenhuma. O espaço físico tema dessa reflexão são as áreas públicas por onde, obrigatoriamente, passam - desde o mais abastado dos seres vivos até o mais miserável dos andarilhos. A tensão produzida na existência destas duas disposições físicas leva a um confronto, a emudecidas ações de prevalecimento de uma sobre a outra, pois que é impossível a coexistência mansa e pacífica destas disposições contrárias.

Enquanto houver um único ser, inofensivamente maltrapilho, alguém de cuja existência tomamos conhecimento através de uma olhadela tão rápida quanto indiferente, para evidenciar o modo de vida deliberadamente materialista, haverá guerra para destruir este ser. Pois este ser maltratado personifica a iniqüidade de nossas ações. Enquanto existir um único ser em estado de desconforto, tudo que fizermos acreditando estar favorecendo a posse de condições para o nosso conforto será em vão.

A conquista de um estado de conforto real e legítimo está estritamente ligada ao conforto alheio, seja ele nosso vizinho ou morador de outro extremo da Terra.

Somente o embrutecimento voluntário pode nos dar a falsa impressão de segurança e conforto através de bens adquiridos. Não sei como designar o rompimento da comunhão entre nós, seres da mesma espécie, sem denominá-lo ‘embrutecimento’. Somente uma deliberação individual profundamente decepcionada com a natureza humana tem a capacidade de nos embrutecer e formar a mais completa indiferença ao sofrimento alheio.

Somente a nossa rendição ao objetivo de reter benefícios ilusórios imediatos pode aniquilar a nossa natural disposição amorosa. Enquanto houver pessoas fragmentadas sedentas por obediência e direção, ávidas por um salário, haverá quem queira tirar proveito delas ao seu bel prazer. Haverá quem queira dirigí-las. Eles decretam, assim, o aniquilamento dos talentos individuais e a perpetuação de figuras despóticas nas diversas áreas de nossas vidas (social, religiosa, educacional e doméstica).

Quem queira a anormal bravura de ser e viver sem fragmentos rompe, naturalmente, com este modo de vida contemporâneo, comprovadamente ineficaz na sustentação do contentamento.

Rompe... sem fazer guerra. 
Sem competir, nem polemizar.
Sem passeatas, nem rebeliões. 
Sem alarde, nem bandeira.

Torna-se um Dom Quixote 
a serviço da 
unificadora disposição natural amorosa.
Um Dom Quixote servente!

LibaN RaaCh


Verdade mal dita!


Prefiro a verdade do diabo que me carregue à mentira de um falso deus que me protege!

Cada qual é obrigado a ter uma vida em comum com, pelo menos, uma única pessoa, de quem será impossível se apartar: VOCÊ MESMO.

Contentamento é conseguir ter... e manter... uma relação de amor consigo mesmo. Do amor que não exclui nem os mais vis dos fragmentos, transfigurando-os em sólido sustentáculo de um olhar meigo e acolhedor. Ninguém, absolutamente ninguém, está incólume e imune à verdade do Ser por muito tempo...

Esta Verdade é assombrosamente diferente das muitas verdades apregoadas pela humanidade... e prevalece sobre todas elas.

Quem tem propriedade sobre esta Verdade fica impermeabilizado de todos os venenos escarrados por despeito e de todas as maldições proferidas pelo vulgo.

LibaN RaaCh

A vida por um fiasco



Quanto do que pensamos e sentimos consegue alterar as realidades ao nosso redor ou, até mesmo, a realidade social em todos os níveis, incluindo o governamental?

Somos, realmente, impotentes e insignificantes em nossa maneira de pensar e sentir, em nosso modo de perceber?

Se nos sentimos impotentes, como não o ser?

Se não somos impotentes, como é possível exercer uma atuação deveras eficaz?

Toda ocorrência no mundo da realidade concreta teve início e formação em nosso íntimo, em nossa abstrata dimensão íntima; ou seja, nos movimentos de nossa mente, de nossas emoções, de nossos pensamentos e ideias, na nossa dinâmica interna (consciente ou inconsciente ou subconsciente ou o ‘raio que o parta’...).

Conclui-se que as circunstâncias de nossas vidas são ditadas, estão subordinadas, estão estritamente sujeitas, aos movimentos de nosso âmago, tendo a nós como soberanos - ou não - neste imenso universo interior.

Entretanto, a concretização efetiva e eficaz das soluções germinadas na dimensão cognitiva necessita de um tempo hábil. Tempo que poderá se estender por dias, semanas, meses, anos, ou mesmo décadas... 
Décadas intermináveis...

Esta lerdeza na implantação daquelas ideias e daqueles mais altos ideais, mina e corrói o potencial manifestado naquele intenso primeiro momento de lucidez e clareza, ocasionando a impressão de que nada está, de fato, mudando como deveria e nada está valendo à pena... E o desencanto generalizado começa a tomar corpo em nós... começa a tomar o nosso corpo... e as doenças do corpo começam a pipocar...e todo frescor, entusiasmo, lucidez se degenera em pragmatismos... começamos a andar lado a lado com a morte e a morbidez dela decorrente... e o sentido de nossas vidas se perde... o próprio sentido e significado de nós mesmos se dilui... sentimo-nos insignificantes e impotentes, desencorajados, até mesmo nas mínimas ações cotidianas (como o simples e infantil gesto de pegar um copo para tomar água)...

Neste estágio, nada mais nos resta senão efetuar o disparo...

Disparo contra opressoras realidades... às vezes, disparo contra a própria cabeça...
Mas, por favor, ainda não...

A isto a cultura religiosa, a cultura espiritual, a cultura social denomina falta de fé, falta de persistência, falta de determinação, falta de força, falta de coragem, falta de amor próprio, falta de estrutura emocional, falta de estrutura familiar, falta ‘do caralho a quatro’!!!

Para o diabo que vos carreguem com todas as vossas faltas!!!

Se nenhum dos seres vivos, se ninguém com quem convivo, sabe – de verdade – o que me falta, por que fazem questão de 'introcharem' em mim as suas porcarias...por que querem encher o meu vazio com as mesmas porcarias usadas para encherem o próprio vazio?

Se houvessem obtido sucesso no preenchimento do seu próprio vazio, a sua simples e silenciosa presença física seria suficiente para inspirar aconchego e amparo, bem-estar e segurança, mesmo a um desconhecido.

Quando não houver mais distinção entre o vazio e o cheio em meu ser, estarei tomado por uma espécie de fluido vivificante em minhas artérias e veias... fluido capaz de suprir, por transbordamento, qualquer desamparado, qualquer desassossegado, qualquer aflito, qualquer desesperado, qualquer desencantado...

...nenhuma forma de prosperidade, então, terá valor...
até mesmo a morte terá seu véu retirado,
e serei apresentado a ela em toda minha magna insignificância.

Neste instante, o disparo da arma - apontada por mim e para mim - sairá pela culatra... minha sobrevivência terá sido favorecida pela substituição do meu sangue ruim por um mísero fiasco daquele fluido. Minha vida alimentada por um fiasco, até sua transformação em corrente contínua.

Até lá, deixem-me com meu vazio!

LibaN RaaCh

Imobilidade atuante


Criar dentro do universo virtual é criar na imobilidade. O quanto desta aparente imobilidade pode interferir no real é o questionamento a se fazer; se a modificação de um fato distante noticiado está ao nosso alcance.

Eu afirmo: isso depende do quanto estamos em Unidade, o quanto estamos nos permitindo ser empaticamente solidários com o ocorrido. Isso não requer nenhuma ação concreta. É uma espécie de dinâmica interior. Qualquer ação concreta desprovida desta dinâmica interior é sem efeito. Pode até trazer alívio às necessidades primárias imediatas. E mais nada além...

Um exemplo está nas recentes doações às vítimas da tragédia pelas chuvas. Este é um típico fato distante noticiado, cuja modificação acreditamos estar fora do nosso alcance. Porém, todo o volume de doações e ajuda voluntária terão efeito fugaz. Claro que irão proporcionar alívio e amparo às necessidades imediatas, quando chegarem ao local da tragédia, mesmo se a logística contiver vícios de desvios e corrupção. Mas as condições sociais por trás de tal tragédia continuarão a existir.

Então, como eu, centenas de quilômetros dali, poderia alcançar aquelas pessoas que estão sem casa e sem comida? Como poderia aliviar o desespero e a dor delas?

A resposta é: compartilhando com elas aquela dor e aquele desespero – no exato lugar que estou e no exato momento em que tomo conhecimento delas!

Para muitos, isso está muito além da compreensão e da capacidade de suportar. Para suportar o compartilhamento de uma dor desta magnitude, onde sobreviventes ficam instantaneamente desprovidos de todos os alicerces da própria vida (sem todos os parentes, sem todos os pertences), somente o mais amoroso desapego de tudo que representa a vida comum pode ajudar deveras. A ajuda de que tanto necessitam está no campo psico-energético. Ou seja, está numa dimensão não mensurável, não racional, não científica, para além da excelência em logística, ou de qualquer formalidade corporativa empresarial, ou de qualquer estudo acadêmico. Está numa disponibilidade afável para com a dor alheia. E tal disponibilidade, tal afabilidade, tal poder de amparo no campo psico-energético, só existe de forma autêntica, legítima, em quem sabe vivenciar a própria dor em toda sua intensidade... em toda a sua mais profunda e intensa solidão... no mais absoluto abandono...no mais desesperador isolamento... próximo, muito próximo do auto-extermínio...do extermínio de toda vontade falsa do ego...

As maiores crueldades que uma tragédia desta proporção denunciam são as frivolidades que adotamos por representações da nossa própria vida trivial. São estas frivolidades; esta inabilidade de empatia, este não querer se aperceber e compartilhar da dor contida em si mesmo e, muito menos, da dor no outro; as verdadeiras responsáveis pela falta de providências que poderiam evitar tais tragédias. As responsáveis pela imensa gama de violências, de tragédias diárias, banalizadas de tão rotineiras.

E a que... ou a quem... devemos responsabilizar pelo predomínio destas frivolidades?

Quem, em última instância, prefere entretenimentos recreativos, distrações, consumismos e outras fugas, ao invés de depurar os males e as angústias, senão nós mesmos?


LibaN RaaCh



sexta-feira, 22 de julho de 2011

Catarse virtual



Entre a dimensão real (fruto de nossas ações) e a ideal (fruto de nossas imaginações), passou a existir a virtual (intermediária e mediadora). Intermediária porque na dimensão virtual podemos pré-visualizar as nossas concepções mais mirabolantes, até mesmo em 3D, como os melhores projéteis de construção civil.

Mediadora porque, nessa dimensão virtual, podemos efetuar os aperfeiçoamentos necessários.

De frente para um computador, damos vazão a uma enxurrada de “pseudo-realizações”. Sim, “pseudo” porque não chegam a ser exatamente uma realização concreta, palpável; nem tampouco abstrata, pois não mais pertencem ao reino das ideias, ganharam a forma dentro do computador, sendo possível visualizá-las.
Isso representa um novo mecanismo de catarse. É um prazer solitário, comparável à masturbação.

De fato, nada é alterado no ambiente real, em um curto período de tempo, por causa das percepções individuais ou sociais registradas no ambiente virtual, ou mesmo registradas em livros, haja vista os vários exemplares de obras literárias e filosóficas do século passado denunciantes dos desacertos em nossa sociedade.

O fato de escrever, aberta e livremente, sobre temas que poderiam contribuir ao aperfeiçoamento da sociedade e do indivíduo, na verdade, é resultado de um condicionamento muito bem implantado desde a mais tenra infância. Chego a acreditar, piamente, que estou sendo diferente ao agir dessa maneira; ou que, dessa maneira, eu consigo contribuir para a melhora de alguma coisa ou de alguém.

A dedicação à aprendizagem em instituições de ensino (o histórico escolar) convenceu-me de que existe satisfação, alegria e aprovação em tirar boas notas; e há nisso um sentimento de realização inegável; enquanto o mundo e as relações sociais permanecem com os mesmos padrões. Porém, é justamente isto que me inseriu no padrão do sistema vigente. É isto que tornou o sistema vigente tão entranhado em mim. Este mesmo sistema que abriga violências, guerras, preconceitos, injustiças, corrupção, corrosão de valores e toda sorte de incompatibilidades entre seres de uma mesma espécie...

Porque recebemos incentivos e estímulos ao uso de nossas exclusivas capacidades racionais em atividades individualistas como os estudos – aprender uma matéria escolar é um árido ato individual de exclusão -, ou como meros espectadores de qualquer obra artística, qual seja um filme, um quadro, uma escultura, exposições fotográficas, etc.

Só não ensinam a interagir plenamente com o que os olhos e os ouvidos percebem (talvez por desconhecerem este ensinamento).

É nesse interagir onde reside toda a graça e toda arte, todo o conhecimento e toda a beleza. Enquanto leitor e espectador, estou passivo. Entretanto, para interagir devo atuar de alguma forma. Neste atuar está contida a saída do meu estado de passividade. Torno-me atuante. Mesmo quando estou imóvel diante de uma fotografia, por exemplo, posso estar atuante, ao observar atentamente o que aquela fotografia suscita em mim... quais lembranças vêm à tona... quais emoções são despertadas. Portanto, nem todo movimento exterior significa atuação.

Ainda que ideias e ideais renovadores, revolucionários, permaneçam durante anos a fio enclausurados em ciberespaços, ou em livros empilhados nas prateleiras, a grande vantagem e diferença é que, antes, estas mesmas ideias e ideais apenas pairavam sobre seres denominados visionários, cujas percepções estavam além do seu tempo. E, hoje, elas se apoderaram de um meio mais rápido de propagação: o virtual.

É visionário enxergar a rota descendente de uma determinada tendência e querer, imediatamente, estar em outra tendência de rota ascendente. Pior é tentar transmitir tal percepção a outras pessoas, para obter delas ajuda e contribuição nessa mudança de rota, pois quase nada conseguimos realizar sozinhos. É bastante óbvio inferir disto que os poucos indivíduos com percepções semelhantes são tidos por alucinados, usuários de alucinógenos; ou lunáticos, freqüentadores assíduos do ‘mundo da lua’; principalmente se estas pessoas são reles anônimos, sem nenhuma posição de destaque no meio em que vivem.

Enquanto existirem visionários, alucinados e lunáticos a espécie humana estará ao abrigo de sua mais completa extinção...

LibaN RaaCh


Oh! Peste


               
Está confirmado: uma grande onda de contaminação jamais vista invade os grandes centros urbanos e se espalha vorazmente pelas regiões adjacentes, chegando aos locais mais ermos do Globo Terrestre. Onde houver vida, lá estará o gérmen desta contaminação.

Borbulhando dos subterrâneos, enxames e mais enxames saem de buracos abertos na superfície – à moda de enormes cupinzeiros -, alastrando-se, sem piedade nem misericórdia, por todas as edificações. Tem ávida preferência pelas edificações de instituições financeiras. Provavelmente pela abundância de registros para lastrear a desconfiança de um ser humano para com outro, numa tentativa inútil de se precaver contra “engano doloso ou culposo”, onde é evidente e notória a indiferença e total ausência de empatia entre semelhantes.

Outra zona de convergência desta inóspita epidemia está nas agregações midiáticas, tão proficuamente criativas em descobrir maneiras de adestrar o público-alvo para atender a insaciabilidade de interesses aviltados pela ganância e pelo poder.

Há horários pré-fixados para os enxames se desterrarem, saírem de seus enterrados buracos. Geralmente pela manhã (entre 6h00 e 9h00); retornando ao seu ‘habitat’ no crepúsculo (entre 17h00 e 21h00). Existe, ainda, uma espécie pestilenta específica predominante em instituições educacionais com preferência pelo horário noturno (entre 19h00 e 22h00). Porém, por enquanto, estes se encontram em estado de fermentação, de germinação. Recebem, diariamente, doses cavalares, fortificantes para as ferraduras de imprescindível serventia no papel de solapar seus iguais em concorrências vindouras.

São estes enxames os reais responsáveis pela degeneração endêmica na qual estamos todos inseridos.  A exemplo de insignificantes formiguinhas, optam por pertencerem a uma aglutinação uniforme, deglutindo-se nesta uniformidade, apenas para posarem de vencedores da própria insignificância (qualidade inerente ao ser humano sadio).

A uniformização aciona um processo de imprescindível diferenciação entre os indivíduos deste enxame, resultando no inumerável leque de alternativas de entretenimento lícito (cinemas, teatros, restaurantes, shows, barzinhos, baladas, etc.) e outras cujo excesso rotulam de marginais (bebidas alcoólicas, drogas, sexo, etc.) . Tal rotulação contribui para o reforço da auto-imagem de marginal assumida por aquele que assim age, tornando-o ainda mais refém do objeto de sua marginalidade.

O extermínio desta patologia, talvez... E somente talvez... Se dê através do sofrimento de muitos por meio de repetidas catástofres – ecológicas, metereológicas - causadas indiretamente por quem está obtendo grandes proveitos pela surda propagação desta pestilência.

Hoje podemos nos vangloriar de ter atingido inédita evolução em nossos meios de comunicação, capacitando-nos a apreciar o desastre no vizinho confortavelmente sentados em nossa poltrona, tomando um aperitivo e tecendo soluções tão rápidas quanto ineficazes, exatamente igual ao que ocorre nos gabinetes executivos, legislativos ou judiciários.

                   E querem nos convencer que o voto pode mudar...

                       LibaN RaaCh

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Encalacrados


Quando nos deixamos convencer da necessidade em prover sustento e conforto a nós mesmos e a nossos familiares ao preço de uma devoção integral a tarefas ditas profissionais, cometemos violência contra nós mesmos.

Quando preenchemos todos os intervalos do nosso dia com alguma atividade, aplicamos chibatadas em nossa aptidão natural em “observar e absorver”, parafraseando Eduardo Marinho.
Quando aceitamos ser adulados por algum feito empresarial ou mercadológico, infligimos açoites em nossas feições ainda humanizadas, feições estas que o grupo de aduladores ajuda a enterrar de vez.

Quando nos deixamos afetar pela neurose no trânsito ou no transporte coletivo, reforçamos a agressividade e a violência contra nós mesmos porque - erradamente - entendemos como falta de alternativa a submissão impotente a estas circunstâncias. Não contentes em nos acotovelarmos no ônibus e no metrô, passamos a nos acotovelar de carro para carro.

Se somos autores destas tantas perversidades, por que estranhar sermos agredidos pelo político e suas maracutaias, ou pelos tribunais e seus prazos perpétuos?

Se o nosso modo de viver está permeado por estes aguilhões auto-impostos, tornando-nos vocacionados a dar espetáculos de faquir, como podemos nos aperceber das invasões subliminares, da absoluta invalidez para o bem-estar social ou pessoal dos espetáculos esportivos, agenciados pela mídia?

A maior graça de um jogo de futebol está em jogar; os demais estão fora do jogo, são peças fora do tabuleiro, aliviando a falta de graça do próprio viver aos urros e com murros. Acrescentam o título de “Burros” à série das agressões. (Esta rima se tornou irresistível – perdoem-me os torcedores fanáticos. Saberão levar na esportiva?).

E a partir destes maus-tratos recorrentes, a animosidade fica profundamente impregnada em nossos modos. Tão encravada em nosso imo que passamos a achar normal o assistir televisão e o enfrentar trânsito diariamente. Não é?


NabiL ChaaR
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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Pego pelo trem!


A escrita é um ilusório agente modificador.
Como disse o confrade Nelson: -"a descrição de um prato de comida, por mais perfeita que seja, não mata a fome". Nada, nem ninguém, foram transformados de forma real, inegável e permanente lendo palavras, por mais tocantes sejam o teor e o fraseado delas.
Pode ocorrer um súbito alumbramento no leitor, tão durável quanto a disponibilidade dele em manter acesas as condições favoráveis àquele alumbramento; ou seja, fugaz como um lapso de luz em nosso ser.


Se considerarmos a vida como uma linha de tempo contínua, o tal lapso de luz seria como o trem que entrecorta esta linha em determinado cruzamento, obrigando-nos a parar para assistir, estarrecidos, aos enormes vagões estremecendo o solo por onde andamos!
E combalidos por esta visão, somos forçados a continuar andando neste mesmo solo vergastado por aqueles assombrosos vagões... sem nunca mais sermos os mesmos!


NabiL ChaaR

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